Em quase 20 anos trabalhando na solução de impasses conjugais, a sexóloga, psicóloga e terapeuta de casais Rosimar Almeida já ouviu todo tipo de relato. Por conta dessa experiência, sabe apontar os principais problemas sexuais nos relacionamentos.
O descompasso do desejo — quando um quer fazer sexo com muito mais frequência do que o outro — e a vontade de trazer uma terceira pessoa para participar da relação sexual estão entre os mais relatados. Além deles, destaca ainda o uso de brinquedos sexuais e a perda do tesão pela outra pessoa .
A convite de Donna, a especialista detalha nesta matéria como ocorrem essas situações, suas possíveis origens e algumas soluções.
Antes de tudo, Rosimar faz questão de sublinhar que os problemas que aparecem na vida sexual geralmente são reflexo de situações mal resolvidas fora da cama. São pontos que, necessariamente, precisam ser olhados com atenção e resolvidos, caso o casal esteja interessado em fazer sexo de forma mais saudável e interessante:
— As dificuldades na vida sexual são como um pêndulo que indica que há outros problemas na relação. É muito raro o casal vir com uma queixa relacionada ao sexo e dizer que, nos outros âmbitos, está tendo uma relação saudável, está se comunicando bem. Geralmente, quando há procura por um terapeuta, há todo um contexto de problemas.
Para manter uma boa química e a atração em alta, orienta a especialista, o casal precisa se esforçar em nutrir e cultivar sua relação diariamente. Isso é feito em diferentes âmbitos: caprichando no diálogo honesto, fornecendo carinho e atenção ao parceiro, demonstrando atração e agindo de forma a não abalar a confiança e a admiração que um tem pelo outro.
Problemas sexuais no relacionamento
Desejo sexual em baixa é uma queixa recorrente, que pode ser causada por fatores que vão desde questões de saúde até problemas de cunho emocional ou na dinâmica do casal. Por esse motivo, a terapia sexual costuma ser feita em parceria com endocrinologistas, urologistas, ginecologistas, que apontam se há disfunções que podem estar atrapalhando a libido.
De acordo com Rosimar Almeida, elas podem variar entre doenças, desequilíbrios hormonais, uso de medicamentos e outras. Descartadas essas hipóteses, o foco volta-se às questões emocionais.
— Muitos casais buscam atendimento por conta de problemas, como, no caso dos homens, disfunção erétil, ejaculação precoce ou ainda a dificuldade em ejacular. São problemas que aparecem muito em consultório e que, muitas vezes, decorrem de causas como ansiedade, depressão, estresse, insegurança e também perda de interesse pelo par — afirma.
Falta de interesse entre o casal
A falta de interesse pelo parceiro é fatal para a vida sexual do casal e ocorre por inúmeros fatores. Entre os mais importantes, segundo a terapeuta, estão as chamadas “pequenas infidelidades diárias”.
Elas ocorrem quando um não respeita os acordos do casal, não é parceiro, não é amigo, não pega junto em termos de finanças, não dá apoio, faz coisas às escondidas, conta mentiras. São problemas que tendem a se agravar com o tempo e impactar no sexo.
— “Me sinto carregando o piano sozinha” é um relato que ouço muito. Quando um sente que está arcando com todas as responsabilidades da casa, das finanças, vai perdendo a admiração pelo companheiro(a), o que é muito comum acontecer. É quando deixa de ser uma relação de casal e torna-se quase um relacionamento entre pais e filhos, onde não pode haver tesão — explica a terapeuta sexual.
Para instigar o desejo, outro ponto que costuma ser importante para algumas mulheres é que haja uma espécie de preparação ao longo do dia, na forma de atenção.
— Às vezes, a mulher sente muita falta de carinho durante o dia. Para manter a conexão, detalhes como mandar uma mensagem dizendo que está com saudades, de vez em quando, ou algo mais picante, uma brincadeira, é bem importante. A mulher costuma precisar de mais preparação do que o homem — ressalta Rosimar.
Ciúme e insegurança
A relação sexual também costuma sofrer danos quando há sensação de posse, controle ou "ciúme retroativo" (relacionado a antigos relacionamentos). Esse comportamento, segundo Rosimar, gera comparações que podem abalar a autoestima e autoconfiança. Insegurança e possessividade podem azedar o desejo sexual.
— Quando há muita possessividade, controle e ciúme, um não dá espaço ao outro e isso acaba interferindo na individualidade. Esse sufocamento sempre repercute na vida sexual, faz com que o desejo diminua. Para uma relação ser considerada saudável, supõe-se que cada um tenha uma boa maturidade emocional — pontua a sexóloga.
Estar descontente com a forma física, seja com as marcas do corpo, o peso ou a aparência dos músculos, também pode ser um causador de comportamentos evitativos. Se a mulher, principalmente, não estiver sentindo-se bonita, é esperado que o desejo caia e que as relações sexuais sejam evitadas.
Frequência das relações sexuais
A terapeuta aponta que é normal uma pessoa ter interesse em fazer sexo com mais frequência do que a outra. Mas esse descompasso é um dos clássicos motivadores de brigas quando o casal não consegue chegar a um consenso.
Diálogo, atenção e honestidade são importantes para entender a situação. Um ritmo mais frenético pode tanto ser sinal de uma libido em alta como de compulsão sexual. Assim como uma “marcha mais lenta” tanto pode ser normal quanto o resultado de desinteresse e insegurança. Ou mesmo de outros problemas, conforme a especialista, como vício em pornografia e masturbação.
— Muitas vezes, dizem “a fulana é insaciável na cama, pode transar todos os dias e ainda quer mais”. Só que, na realidade, pode ser que a pessoa em questão esteja ansiosa e descontando isso no sexo, como uma forma de compulsão. Boa parte das pessoas não se dão conta da diferença que há entre a libido saudável e a compulsão sexual.
Reduzir a frequência das relações ao longo do tempo é comum. Por outro lado, o que costuma ser sinal de que algo vai mal é passar meses ou anos sem fazer sexo. Aí, pode ser uma boa ideia buscar ajuda especializada.
Terceira pessoa (ou mais)
São vários os casais que chegam ao consultório de Rosimar declarando a vontade de levar uma terceira pessoa ou outro casal para a hora do sexo. A ideia, conta ela, é “apimentar a relação” ou “viver uma nova experiência”.
O recado da terapeuta é de que isso tanto pode dar certo e ser prazeroso quanto gerar situações desconfortáveis e traumáticas. Inclusive, a ponto de causar o rompimento da relação.
— O casal precisa estar muito preparado e conectado para fazer isso. Senão, a coisa pode chegar a um ponto em que, de repente, não sintam mais tesão só um pelo outro, precisando sempre ter outras pessoas junto — alerta.
Um ponto de atenção é que, muitas vezes, usa-se o pretexto da novidade do tempero extra quando, na verdade, o sexo com um elenco maior serve para compensar insatisfações na vida pessoal ou a dois.
— Tem muitas pessoas insatisfeitas com suas vidas projetando isso na relação. Então, tem que cuidar e discernir quando é vontade genuína e quando é vontade de preencher um vazio, responder a uma ansiedade, uma depressão — explica Rosimar Almeida.
Brinquedos eróticos
Os vibradores, bullets, dildos e plugs podem ser um complemento para a satisfação sexual do casal. É por isso que os sexólogos recomendam que a dupla se abra para essa possibilidade, vá junto à sex shop, explore o que cada um gosta ou tem curiosidade de experimentar, compre os objetos e use um no outro.
O alerta de Rosimar é para que isso não caia na rotina e acabe configurando um problema na relação.
— Tem que cuidar para que não se crie uma dinâmica em que “só dá para transar com os brinquedos participando também”, onde alguém pode se sentir preterido. A relação do casal tem que ser muito maior do que isso, aí o brinquedo vem somente para agregar, instigar. Ele também se torna um problema quando o interesse não é recíproco, quando um não está tão interessando quanto o outro em usar, é preciso dialogar — diz ela sobre este, que é um dos principais problemas sexuais nos relacionamentos.