A sexualidade feminina, infelizmente, ainda é um tabu. Mesmo que a dor na hora do sexo seja uma das queixas mais frequentes no consultório, como afirma a ginecologista e obstetra Bárbara Schneider Eisele, muitas mulheres, por falta de informação, convivem por anos com disfunções, sem saber exatamente qual o seu problema e como tratá-lo.
Pensando nisso, além da médica, conversamos com a fisioterapeuta pélvica Amanda Almeida para listar as cinco causas mais comuns que ocasionam dores durante o sexo nas mulheres - principalmente na hora da penetração.
A médica ressalta, primeiramente, a importância de uma avaliação médica completa, com exame físico ginecológico e história clínica da paciente, para determinar a causa dessa dor, que pode ter diversas origens.
Doença inflamatória pélvica
Uma das causas mais comuns de dor no sexo é a doença inflamatória pélvica, também conhecida como DIP, que é geralmente ocasionada por uma doença sexualmente transmissível (DST), como a gonorreia ou a clamídia. Nessa situação, é uma dor de início recente, e não crônica.
— No exame físico, normalmente conseguimos determinar a causa. A paciente tem uma dor importante no toque vaginal, principalmente quando a gente mobiliza o colo do útero — explica a ginecologista.
As infecções são tratadas com antibiótico (que pode ser administrado em casa nos casos mais leves, mas que necessita internação para ser ministrado pela veia nos mais graves) e a dor é facilmente reversível. Outra DST que pode causar dor é a herpes, que origina ardência na região.
Menopausa
Depois desta fase, muitas mulheres experienciam uma condição chamada de síndrome geniturinária da menopausa, que pode ocasionar o ressecamento e a atrofia vaginal. Pela falta de lubrificação, a vagina fica seca e é isso que ocasiona a dor.
— Algumas pacientes que usam pílulas anticoncepcionais também podem ter diminuição na lubrificação e às vezes um pouco de atrofia, dependendo do tipo de anticoncepção usado — alerta a médica.
O tratamento pode incluir o uso de lubrificantes na hora da relação sexual, a aplicação de hidratantes vaginais ou até de estrogênio tópico nas pacientes climatéricas ou pós-menopáusicas.
Vulvodinia
É uma irritação crônica da vulva que pode ser desencadeada por uma inflamação, infecção ou por alterações hormonais, diz a ginecologista. Gera uma alteração na sensibilidade de toda a parte externa, que engloba os grandes e pequenos lábios, além do clitóris, acrescenta a fisioterapeuta pélvica.
— Algumas mulheres relatam sensação de choques, às vezes até com o ar. Outras sentem queimação, sensação de pinicar e ardência, até usando calça jeans. Para algumas, é só durante o toque, na relação sexual — diz Amanda.
O tratamento é multidisciplinar e pode envolver analgésicos e terapia comportamental, além de fisioterapia pélvica, diz a médica.
Vaginismo
O vaginismo atinge três milhões de mulheres no Brasil, segundo a fisioterapeuta. A disfunção é uma contração involuntária da musculatura pélvica. Essa contração não ocorre apenas na hora da relação sexual, mas também durante um exame ginecológico ou ao tentar colocar um absorvente interno, lembra Amanda:
— O vaginismo diminui muito a qualidade de vida da mulher, porque atinge não só o relacionamento, mas também a autoestima e a saúde — afirma.
A causa da disfunção pode estar relacionada a diversas fatores, como um histórico de abuso sexual. Mas também pode ser resultado de uma educação sexual rígida ou de uma experiência sexual traumática.
— É no inconsciente que a paciente entende que sexo é errado, e o corpo vai refletir isso. Então, na hora que ela for tentar fazer sexo, tem uma contração involuntária. Muita coisa vem do inconsciente e se torna físico — explica a fisioterapeuta pélvica.
A terapia comportamental é uma das etapas do tratamento:
— É um processo de ensinar a respirar, a relaxar, a ter consciência corporal. Depois é necessário começar um trabalho mais interno no canal vaginal, bem aos poucos. Por último, trabalhamos com dilatadores vaginais. Quando chega no último, liberamos a paciente para ter relação sexual e ir ao ginecologista — relata a profissional.
Líquen
É uma doença dermatológica que também resulta em ressacamento vaginal. A dor costuma surgir no início da penetração, explica a ginecologista.
A condição é tratada com o uso de corticoides, que apresentam uma boa resposta para o problema.
Para prestar atenção
Além dessas causas mais pontuais, é fundamental observar se a dor feminina não é fruto da falta de excitação. As profissionais explicam que, quando a mulher fica excitada, o seu canal vaginal se alarga, tanto para os lados quanto para cima. Quando essa excitação não ocorre, o pênis penetra em um espaço menor - e, consequentemente, pode machucar.
Há também a possibilidade de o pênis ser maior do que o canal vaginal, mesmo quando excitado. Nestes casos, a fisioterapeuta pélvica recomenda que o casal teste novas posições para as relações sexuais, de forma que o pênis não penetre completamente na vagina.