Pode parecer inusitado, mas a prática de exercícios físicos é capaz de proporcionar um prazer tão intenso que pode levar ao orgasmo. O "coreorgasmo", como é chamado, é um tipo de orgasmo induzido por atividades físicas e estudos indicam que pode ser sentido por uma a cada 10 pessoas.
A palavra tem origem no termo "core", que diz respeito aos músculos da região central do corpo: abdômen, lombar e musculatura pélvica. Conforme a ginecologista Nadiessa Almeida, estudos científicos verificam que alguns exercícios são mais propícios a desencadearem esse tipo de orgasmo, como abdominais e levantamento de peso. Além disso, há relatos de pessoas que já tiveram a sensação correndo e andando de bicicleta.
— Nas pesquisas, é descrito que todos os esportes, como ioga, pilates e outros exercícios, podem recrutar esses músculos do core e desencadear o coreorgasmo. Mas os mais comuns são abdominais, levantamento de peso, corrida e ciclismo — afirma a médica do Centro da Mulher do Hospital Moinhos de Vento.
Ao contrário do que muitos pensam, o coreorgasmo não precisa de pensamento erótico ou estímulo sexual para acontecer.
— É algo fisiológico e anatômico da região, que está sendo tensionada e acaba culminando nesse estímulo — explica.
Por que acontece?
Não há um consenso sobre os motivos para que ocorra o coreorgasmo, mas a ginecologista diz que existem algumas explicações, como as alterações hormonais durante os exercícios físicos ou até mesmo a tensão muscular que acontece na prática de atividades que envolvam os músculos do core.
Além disso, o impulso nervoso na musculatura durante os exercícios ou até mesmo uma estimulação indireta, dependendo do movimento que estiver sendo feito com a pelve na região genital, podem resultar nesse tipo de orgasmo.
— Embora não tenhamos nenhuma pesquisa que tenha investigado exatamente o que acontece, a gente acredita que esses são os mecanismos principais — pontua.
O coreorgasmo não é restrito às mulheres e também pode ser sentido por homens. Porém, a ginecologista afirma que, na maioria dos estudos, as mulheres tiveram uma resposta mais positiva.
— A incidência que temos hoje sugere que os dois gêneros podem ter, mas parece que as mulheres têm uma tendência um pouquinho mais. Mas isso não é um consenso absoluto — aponta.
Sensação diferente
O coreorgasmo não passa por um estímulo sexual como os outros tipos de orgasmo. Por isso, a sensação é distinta, conforme explica a ginecologista. Participantes de estudos sobre o tema relataram que não sentem o latejamento no clitóris, por exemplo, mas sim uma sensação a nível muscular.
— Sentem nos músculos do abdômen, na face interna da coxa e na musculatura do assoalho pélvico. Pode envolver clitóris? Pode, mas pode ser não tão parecido com aquele que tem estímulo sexual — esclarece.
Como ter um coreorgasmo
Nadiessa explica que o orgasmo por si só é amplo e multifatorial. Assim como algumas mulheres têm, outras nunca tiveram. Para ela, com o coreorgasmo a dinâmica é parecida e, por isso, algumas sentem e outras não.
— Algumas mulheres talvez tenham uma ativação maior, uma autopercepção maior, um treinamento melhor dessa musculatura. Isso pode ser um fator que faz com que algumas mulheres desencadeiem e outras não.
A ginecologista diz ainda que não há um passo a passo para ter um coreorgasmo, já que depende de muitos fatores. Porém, incentivar a musculatura pode ser uma alternativa para o prazer.
— Se for para a atividade física observando essa musculatura, sentindo essa tensão muscular, recrutando esses músculos com mais atenção, talvez possa facilitar a conexão com o corpo e acontecer. Porém, evidência científica sobre isso não há — comenta.
*Produção: Jovana Dullius