Tá chegando o friozinho e a dúvida que acaba aparecendo é: posso treinar gripada? E a resposta mais segura é depende. O ponto inicial é avaliar o estado geral de saúde. Os sintomas que você está tendo vão ser o ponto-chave para decidir se é melhor repousar ou se a ida à academia está liberada.
O lado bom de ser uma pessoa fisicamente ativa é que você provavelmente conta com um sistema imunológico muito mais competente do que quem é sedentária, pois uma das adaptações ao exercício físico praticado a longo prazo é a melhora das nossas defesas.
É importante diferenciar resfriado de gripe. Apesar das duas condições apresentarem sintomas semelhantes, o resfriado é uma infecção mais leve, associado a um tipo de vírus (Rinovírus) que causa um pequeno impacto no sistema de defesa do organismo, e gera sintomas como coriza (nariz escorrendo), dor de cabeça, espirro ou tosse leves.
Já a gripe, associada a infecção de outro tipo de vírus (Influenza), é uma infecção mais grave, que impacta o sistema imunológico com maior intensidade e gera sintomas bem mais importantes, como febre, dores no corpo, náuseas, sintomas intestinais, chiado no peito, e acomete mais órgãos do trato respiratório como faringe, laringe, pulmões, é uma infecção bem mais séria.
No primeiro caso – resfriado – o treino está liberado, mas com cautela. Durante o exercício físico, ocorre a liberação de substâncias que vão ajudar a melhorar o desconforto e a sensação de mal-estar. Comece o aquecimento com um exercício leve, por exemplo, caminhando por 15 minutos. Se você começar a se sentir mal, pare o exercício. Se continuar se sentindo bem, pode fazer seu treino, com moderação e sem esgotar suas energias. Minha sugestão é diminuir intensidade, volume e tempo de treino nos dias que estiver resfriada, pois o seu organismo já está comprometido com uma infecção.
No segundo caso – gripe – prefira o repouso. Descanse, deixe o seu corpo se fortalecer novamente. A infecção é maior e pode desencadear condições ainda mais graves se não tratada adequadamente. E, mesmo depois que os sintomas tenham desaparecido, espere mais 24h para voltar, com muita parcimônia, ao treino. Durante o repouso, tenha certeza de estar ingerindo água em abundância e nutrientes adequadamente, pois eles serão essenciais para que a recuperação seja mais rápida.
Fica atenta a alguns mitos sobre treinar resfriada/gripada para não cair em roubada:
Suar ajuda a expulsar o vírus
Isso não acontece, quem “expulsa” o vírus do nosso organismo é o nosso sistema de defesa imunológica. Infecções por vírus são tipicamente autolimitadas (duram de 5 a 7 dias), ou seja, se “curam” sozinhas e não existe medicamento para elas (os antibióticos não agem em vírus, apenas em bactérias). As medicações utilizadas em gripes e resfriados servem apenas para abrandar os sintomas e melhorar a disposição da pessoa.
Pode treinar normalmente, assim que começar a se sentir melhor, quando tiver uma gripe forte
Só porque você está medicada, e se sentindo um pouco mais disposta, não significa que seu corpo já se livrou do vírus. E como durante a sessão de exercício a nossa imunidade cai, é uma oportunidade para que o vírus se fortaleça num organismo que está sensível. Não caia nessa cilada e espere o tempo de “vida” do vírus passar.
Tomar vitamina C ou suplementos polivitamínicos e poliminerais ajuda a acelerar a recuperação
Não gaste seu dinheiro à toa! Não existe uma cura específica para gripes e resfriados, as medicações tratam os sintomas, mas os vírus têm seu tempo de ação (que pode variar um pouco conforme a capacidade de defesa do nosso organismo). Não importa que “fórmula mágica” você ingira, é o sistema imunológico que será o responsável por nos livrar da infecção, e ele tem seu próprio processo de funcionamento.
A condição prévia de nutrição importa e também os cuidados que você toma durante o quadro infeccioso são importantes, tais como: descanso adequado, diminuição do estresse, hidratação e ingestão equilibrada de nutrientes.
Na dúvida se você deve ou não manter a rotina de treinos, visite um médico. Se os sintomas persistirem por mais de duas semanas, se a febre ultrapassar 38oC, se tiver muitas dores no corpo ou no peito, se estiver tossindo muito ou novos sintomas aparecerem, consulte um médico, principalmente durante a pandemia do novo coronavírus que estamos enfrentando. Esse artigo traz informações básicas e não deve ser substituído por auxílio profissional especializado.
Raquel Lupion é formada em Nutrição e Educação Física, tem especialização em Nutrição Clínica e Mestrado em Ciências do Movimento Humano. Sua motivação é promover um estilo de vida saudável, fugindo de radicalismos e tentando encontrar o caminho do meio entre o que é necessário e o que é prazeroso. Na vida profissional, divide seu tempo entre atender em consultório, dar aulas de ioga, palestrar e ministrar cursos. Escreve semanalmente em revistadonna.com.