O Brasil e a televisão nacional se despedem de Silvio Santos, um dos seus grandes ícones. O apresentador e empresário morreu às 4h50min deste sábado (17), aos 93 anos. A informação foi confirmada pelo SBT nas redes sociais e pelo hospital Albert Einstein. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou luto de três dias no país.
De acordo com boletim médico do hospital Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, onde estava internado, o comunicador morreu em decorrência de broncopneumonia após quadro de infecção por H1N1. A família informou que não haverá velório, o que foi um pedido do apresentador. Ele será sepultado no Cemitério Israelita do Butantã em uma cerimônia restrita à família.
Afastado da televisão há cerca de dois anos, Silvio Santos foi internado no Albert Einstein em julho, após ser diagnosticado com H1N1; recebeu alta e voltou a ser hospitalizado em 1º de agosto para "exames", segundo o SBT.
Em 2021, o apresentador havia dado entrada na mesma instituição de saúde para tratar um quadro de covid-19. Mas Silvio enfrentou diferentes problemas de saúde na última década. Em 2014, teve um diagnóstico de câncer de pele na perna direita. Três anos depois, foi acometido pela doença na testa. Ambos os tumores foram removidos com sucesso. Antes disso, em 2013, ele se submeteu a uma retirada preventiva da próstata.
A lenda da comunicação deixa seis filhas, sendo Cintia e Silvia de seu primeiro casamento, com Aparecida Vieira, conhecida como Cidinha, e Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata, com Íris Pássaro Abravanel, sua companheira até o fim da vida.
Em clima de comoção nacional, personalidades, fãs, amigos, autoridades e empresários se manifestaram em redes sociais para prestar homenagens a Silvio.
O Grupo Globo de Comunicação fez a seguinte manifestação: "O Brasil se despede hoje com tristeza de um apaixonado pela comunicação e um dos seus maiores expoentes. Agradecemos ao Silvio tudo que fez pela televisão brasileira e enviamos nosso carinho à família, aos amigos, aos colaboradores e aos fãs."
O homem do Baú
Silvio marcou época na televisão brasileira desde os anos 1960, quando apresentava o Vamos Brincar de Forca, na TV Paulista, que passou a ser a TV Globo São Paulo. O comunicador deu sequência ao sucesso alugando o horário dominical da Globo até que, em 1975, venceu a concorrência para o Canal 11, do Rio de Janeiro, quando lançou a TVS.
Em 1981, o apresentador venceu a concessão de outros quatro canais, que juntos passariam a formar o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. Ele esteve à frente de atrações icônicas como Topa Tudo Por Dinheiro, Show de Calouros, Qual é a Música, A Porta da Esperança, Em Nome do Amor e, claro, o tradicional Programa Silvio.
Visionário, lançou grandes nomes da televisão, como Gugu Liberato, Mara Maravilha, Eliana, Mariane, Celso Portiolli, Maisa, e deu oportunidade a comunicadores já famosos, como Angélica, Adriane Galisteu, Otávio Mesquita, entre outros.
Como empresário, foi o idealizador do Baú da Felicidade, da Tele Sena, dos cosméticos Jequiti e do hotel Sofitel Jequitimar Guarujá, um empreendimento de luxo em São Paulo.
O comunicador também chegou a se aventurar na política, quando se candidatou a presidente da república na eleição de 1989. Sua campanha, porém, foi barrada pela Justiça Eleitoral.
A origem do Homem do Baú
Nascido em 12 de dezembro de 1930, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, Silvio Santos recebeu o nome de Senor Abravanel de seus pais - sua mãe, no entanto, o chamava de "Silvio". Ele foi o primogênito de dois imigrantes judeus, Alberto e Rebecca, ambos originários do antigo Império Otomano e que vieram para o Brasil em 1924. O casal ainda teve outros cinco filhos.
Nas eleições de 1945, Silvio, ainda adolescente, viu um homem que vendia capinhas de plástico para guardar título de eleitor nas ruas cariocas. Foi ali que decidiu começar a empreender e passou a fazer o mesmo. No entanto, como a repressão policial ao comércio ambulante era grande, ele vendia os produtos na rua por apenas 45 minutos por dia, que era o tempo de almoço dos guardas.
Demonstrando o potencial da sua voz ao oferecer as mercadorias na rua, Silvio chamou atenção de pessoas do meio artístico e foi convidado para fazer um teste na Rádio Guanabara, no Rio, no qual passou em primeiro lugar, superando nomes como Chico Anysio. Ainda assim, não demorou para que ele voltasse a trabalhar como ambulante — nas ruas, ele faturava mais.
Aos 18 anos, foi convocado pelo Exército e passou a servir na Escola de Paraquedistas, onde chegou a se destacar com "bons saltos". Foi aí que Silvio deixou de atuar como camelô, por ser uma profissão incompatível com a carreira militar. Porém, na busca por uma renda extra, voltou a trabalhar como locutor em uma rádio de Niterói nos seus dias de folga.
Na virada da década de 1940 para 1950, o apresentador, que precisava pegar uma barca que cruzava a Baía de Guanabara para trabalhar, teve a ideia de criar um esquema de alto-falantes na embarcação. Foi um sucesso. Logo depois, projetou um comércio de bebidas, shows e bingo no veículo, remodelando as viagens.
Aos 20 anos, o jovem radialista decidiu se mudar para São Paulo. Na cidade, apresentava espetáculos e sorteios em caravanas de artistas. No começo dos anos 1950, Silvio se formou como técnico em contabilidade, mas decidiu apostar na carreira de locutor na Rádio Nacional. Para aumentar a renda, criou uma revista chamada Brincadeiras para Você, com passatempos, a qual vendia nos comércios paulistas.
Em 1958, auxiliou Manuel de Nóbrega — que o havia apadrinhado na Rádio Nacional — em sua empresa, Baú da Felicidade, que estava com problemas financeiros. Com o seu talento para empreender, Silvio conseguiu com que a empresa se renovasse e voltasse a crescer, criando um sistema de compras por carnê para brinquedos e utensílios domésticos. Com o tempo, acabou assumindo o controle total da empresa que, mais tarde, integraria o Grupo Silvio Santos, agregando dezenas de empreendimentos que o tornariam bilionário, incluindo, ainda, a Tele Sena como um de seus diversos produtos de sucesso. O Baú da Felicidade acabou sendo vendido, em 2011, ao Magazine Luiza.
Como empresário, nos anos 2000, Silvio voltou a se aventurar em novas áreas. Em 2006, fundou a empresa de cosméticos Jequiti, com grande participação dentro da programação do SBT. Um ano mais tarde, inaugurou o hotel Sofitel Jequitimar Guarujá, um empreendimento de luxo em São Paulo.
Uma lenda da TV brasileira
Após participações em outras atrações da TV Paulista, em 1961, Silvio Santos estreou seu primeiro programa na TV, chamado Vamos Brincar de Forca — que mais tarde se tornaria o Programa Silvio Santos — onde passou a fazer propaganda do Baú da Felicidade.
A TV Paulista, mais tarde, foi incorporada à Rede Globo para se tornar TV Globo São Paulo. Após a mudança, Silvio seguiu pagando aluguel pelo seu horário dominical, revendendo o tempo dos anúncios a outras empresas. Na medida em que aumentava o sucesso do seu programa, o apresentador conquistava ótimos resultados financeiros, realizando sorteios de carros, móveis e eletrodomésticos, o que motivou a expansão dos negócios através de lojas e concessionárias.
Para poder realizar o sonho de ter a sua própria emissora, Silvio deixou a Rede Globo nos anos 1970 e, em 1975, venceu a concorrência para o Canal 11, do Rio de Janeiro. Chamando de TV Studio Silvio Santos, ou TVS, a emissora contou com programas de sucesso, como Poço dos Milhões, Silvio Santos Show, Qual é a Música, Arrisca Tudo, Domingo no Parque e Namoro na TV.
Em 1981, o apresentador venceu a concessão de mais quatro canais, que juntos passariam a formar o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. Logo em seu primeiro dia de exibição, a emissora alcançou a vice-liderança de audiência, conquistando rapidamente o público. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, Silvio se dedicou especialmente à consolidação e expansão de sua empresa de comunicação.
Na virada do milênio, o SBT apostou em programas que foram de grande popularidade, como Show do Milhão, Casa dos Artistas, Roda a Roda e o Novo Programa Silvio Santos. Na década seguintes, Vale Tudo, Câmera Escondida, Não Erre a Letra, Jogo das Três Pistas e o Jogo dos Pontinhos foram sucesso dentro de seu programa dominical.
No mundo da televisão, Silvio ainda foi responsável por lançar inúmeros nomes que se consagraram na telinha, como Gugu Liberato, Mara Maravilha, Eliana, Maisa e Celso Portiolli, além de suas herdeiras, que trabalham com o pai, seja em frente ou por trás das câmeras.
Relação com a política
A popularidade de Silvio Santos no comando de seus programas rendeu, também, convites para que ele entrasse na política. E ele chegou a se arriscar na área. Nas eleições presidenciais de 1989, a primeira desde a redemocratização, o apresentador e empresário lançou campanha na televisão. A candidatura, no entanto, foi barrada na Justiça sob a alegação de que ele era dono de uma concessionária de TV.
Nos últimos tempos, o apresentador declarou apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chamava de "patrão". O dono do SBT afirmava que ser aliado de Bolsonaro garantiria a concessão de sua TV, que é pública.
História contada
A mística em torno de Silvio Santos é tanta que a história do apresentador foi transportada para o audiovisual. Em 2022, a plataforma de streaming Star+ lançou a série O Rei da TV, que conta parte da trajetória do artista e empresário.
Mesmo com reprovação das filhas do comunicador — que afirmaram que o próprio também não tinha gostado do conteúdo —, uma segunda temporada foi lançada em 2023. Por enquanto, não há confirmação de que haverá um novo ano da produção, apesar da série ter ganhado tração nas redes sociais.
O que está confirmado é o filme Silvio, que será lançado em 5 de setembro. Com Rodrigo Faro dando vida ao Homem do Baú, a produção se passará em 2001, quando o artista foi mantido refém por sete horas dentro de sua própria casa. É a história do ilustre comunicador sendo perpetuada, inclusive, na sétima arte.