Diretor de jornalismo, narrador e comentarista. Eram essas as funções de Batista Filho no Canal 5 da TV Tupi quando as concessões das redes, então pertencentes aos Diários Associados, foram cassadas. O ano era 1980, e a rede agonizava com problemas financeiros e administrativos.
O espólio da Tupi foi dividido entre Adolpho Bloch, que criou a TV Manchete, e Silvio Santos, que fundou a TVS, em um leilão do governo federal. Batista Filho, então, passou a coordenar as operações da TVS, que depois se tornou SBT, no Rio Grande do Sul.
Em entrevista a Zero Hora, ele conta que as negociações duraram meses, com participação ativa de pessoas da mais plena confiança de Silvio Santos.
— Nos primeiros momentos, esteve aqui um amigo de juventude de Silvio chamado Ivan Siqueira, que era da mais alta confiança dele — recorda.
Batista Filho foi contratado como primeiro diretor de jornalismo da empresa e participou da negociação para a empresa absorver os trabalhadores da TV Piratini, que era a afiliada da Tupi no Rio Grande do Sul. O canal 5 das televisões abertas do Estado mudaria para sempre.
— Silvio Santos não só preencheu um vácuo na programação e na audiência, mas acolheu os funcionários da Piratini, mediante manutenção dos direitos trabalhistas de todos — reflete.
Não demorou muito para o editor-chefe descobrir que o futuro dono do SBT conhecia seu trabalho e aceitaria mais uma concessão durante o período de transição.
— Quando fui contratado, eles chegaram a dizer que não haveria esporte na grade de programação, ao que retruquei afirmando que o acordo estava quebrado. Quando o assunto chegou em São Paulo, onde as decisões eram tomadas, Ademar Dutra me procurou afirmando que só faria o contrato de esportes por que Silvio Santos me conhecia —, completou Filho. Ele assumiu a posição de comentarista esportivo e narrador até setembro de 1981.
Batista Filho, porém, não tinha um contato próximo com Silvio Santos. O encontro presencial com os dois não foi além de um cumprimento cordial durante uma reunião em São Paulo com outros representantes da emissora.
— Ali falei sobre as particularidades da nossa região em relação ao conteúdo e fiz uma sugestão sobre o horário do programa dele. Até as pessoas mais próximas tinham uma relação de muito respeito com ele, então não fui ouvido —, conta.
Batista Filho acredita que a trajetória de Silvio Santos não se resume à fundação do SBT ou à apresentação do seu histórico programa. Vê como sua principal característica a de um comunicador que se colocava na mesma posição do público, sem deixar as pessoas se sentirem inferiores, nem se mostrar superior à elas.
— Ele valorizou muito a voz que menos espaço tem, como na classe artística, ao dar espaço aos atores dispensados por outras emissoras. Ele cuidou do seu entorno como todo meio de comunicação precisa, com transparência dos seus atos e respeitabilidade, além de liberdade de expressão e criatividade que foi mestre —, reflete.
A sede do SBT no Rio Grande do Sul está localizada até hoje na rua TVS, nome antigo da emissora, no morro Santa Teresa, em Porto Alegre.
A morte de Silvio Santos
O apresentador e empresário morreu neste sábado (17), aos 93 anos. De acordo com boletim médico do hospital Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, onde estava internado, o comunicador morreu às 4h50min, em decorrência de broncopneumonia após quadro de infecção por H1N1. A família informou que não haverá velório, o que foi um pedido do apresentador.
A lenda da comunicação deixa seis filhas, sendo Cintia e Silvia de seu primeiro casamento, com Aparecida Vieira, conhecida como Cidinha, e Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata, com Íris Pássaro Abravanel, sua companheira até o fim da vida.
Nascido em 12 de dezembro de 1930, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, Silvio Santos recebeu o nome de Senor Abravanel de seus pais - sua mãe, no entanto, o chamava de "Silvio". Ele foi o primogênito de dois imigrantes judeus, Alberto e Rebecca, ambos originários do antigo Império Otomano e que vieram para o Brasil em 1924. O casal ainda teve outros cinco filhos.
Nas eleições de 1945, Silvio, ainda adolescente, viu um homem que vendia capinhas de plástico para guardar título de eleitor nas ruas cariocas. Foi ali que decidiu começar a empreender e passou a fazer o mesmo. No entanto, como a repressão policial ao comércio ambulante era grande, ele vendia os produtos na rua por apenas 45 minutos por dia, que era o tempo de almoço dos guardas.
Demonstrando o potencial da sua voz ao oferecer as mercadorias na rua, Silvio chamou atenção de pessoas do meio artístico e foi convidado para fazer um teste na Rádio Guanabara, no Rio, no qual passou em primeiro lugar, superando nomes como Chico Anysio. Ainda assim, não demorou para que ele voltasse a trabalhar como ambulante — nas ruas, ele faturava mais.
Aos 18 anos, foi convocado pelo Exército e passou a servir na Escola de Paraquedistas, onde chegou a se destacar com "bons saltos". Foi aí que Silvio deixou de atuar como camelô, por ser uma profissão incompatível com a carreira militar. Porém, na busca por uma renda extra, voltou a trabalhar como locutor em uma rádio de Niterói nos seus dias de folga.
Na virada da década de 1940 para 1950, o apresentador, que precisava pegar uma barca que cruzava a Baía de Guanabara para trabalhar, teve a ideia de criar um esquema de alto-falantes na embarcação. Foi um sucesso. Logo depois, projetou um comércio de bebidas, shows e bingo no veículo, remodelando as viagens.
Aos 20 anos, o jovem radialista decidiu se mudar para São Paulo. Na cidade, apresentava espetáculos e sorteios em caravanas de artistas. No começo dos anos 1950, Silvio se formou como técnico em contabilidade, mas decidiu apostar na carreira de locutor na Rádio Nacional. Para aumentar a renda, criou uma revista chamada Brincadeiras para Você, com passatempos, a qual vendia nos comércios paulistas.
Em 1958, auxiliou Manuel de Nóbrega — que o havia apadrinhado na Rádio Nacional — em sua empresa, Baú da Felicidade, que estava com problemas financeiros. Com o seu talento para empreender, Silvio conseguiu com que a empresa se renovasse e voltasse a crescer, criando um sistema de compras por carnê para brinquedos e utensílios domésticos. Com o tempo, acabou assumindo o controle total da empresa que, mais tarde, integraria o Grupo Silvio Santos, agregando dezenas de empreendimentos que o tornariam bilionário, incluindo, ainda, a Tele Sena como um de seus diversos produtos de sucesso.
Após participações em outras atrações da TV Paulista, em 1961, Silvio Santos estreou seu primeiro programa na TV, chamado Vamos Brincar de Forca — que mais tarde se tornaria o Programa Silvio Santos — onde passou a fazer propaganda do Baú da Felicidade.
A TV Paulista, mais tarde, foi incorporada à Rede Globo para se tornar TV Globo São Paulo. Após a mudança, Silvio seguiu pagando aluguel pelo seu horário dominical, revendendo o tempo dos anúncios a outras empresas.
Na medida em que aumentava o sucesso do seu programa, o apresentador conquistava ótimos resultados financeiros, realizando sorteios de carros, móveis e eletrodomésticos, o que motivou a expansão dos negócios através de lojas e concessionárias.
Para poder realizar o sonho de ter a sua própria emissora, Silvio deixou a Rede Globo nos anos 1970 e, em 1975, venceu a concorrência para o Canal 11, do Rio de Janeiro. Chamando de TV Studio Silvio Santos, ou TVS, a emissora contou com programas de sucesso, como Poço dos Milhões, Silvio Santos Show, Qual é a Música, Arrisca Tudo, Domingo no Parque e Namoro na TV.
Em 1981, o apresentador venceu a concessão de mais quatro canais, que juntos passariam a formar o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. Logo em seu primeiro dia de exibição, a emissora alcançou a vice-liderança de audiência, conquistando rapidamente o público. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, Silvio se dedicou especialmente à consolidação e expansão de sua empresa de comunicação.
Na virada do milênio, o SBT apostou em programas que foram de grande popularidade, como Show do Milhão, Casa dos Artistas, Roda a Roda e o Novo Programa Silvio Santos. Na década seguintes, Vale Tudo, Câmera Escondida, Não Erre a Letra, Jogo das Três Pistas e o Jogo dos Pontinhos foram sucesso dentro de seu programa dominical.
No mundo da televisão, Silvio ainda foi responsável por lançar inúmeros nomes que se consagraram na telinha, como Gugu Liberato, Mara Maravilha, Eliana, Maisa e Celso Portiolli, além de suas herdeiras, que trabalham com o pai, seja em frente ou por trás das câmeras.