Próximo do aniversário de Porto Alegre, a cidade ganhará um novo equipamento cultural: a Casa da Música da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Desde o início de 2017, os músicos já vinham ensaiando no espaço localizado no Centro Administrativo Fernando Ferrari, mas no próximo dia 24 de março o público conhecerá uma nova sala de concertos com capacidade para 1,1 mil espectadores. A performance de inauguração terá regência do diretor artístico Evandro Matté e contará com o pianista Cristian Budu.
– É a primeira vez, em 67 anos, que teremos um espaço nosso – comemora Matté. – Poderemos trabalhar a programação com antecedência, sem depender de datas de outros locais, gerando receita para a Ospa.
A notícia positiva se destaca em um cenário de crise dos espaços culturais na Capital, com obras que se arrastam por anos, sem previsão de conclusão – ou sem previsão de início, como é o caso da reforma do Teatro de Câmara Túlio Piva (veja a situação de sete espaços culturais de Porto Alegre). A crise não afetou apenas espaços administrados pelo poder público. A Fundação Iberê Camargo, que abrigou grandes exposições internacionais e nacionais, atualmente abre para visitação apenas aos sábados e domingos. Para 2018, a instituição projeta uma retomada, com o retorno dos patrocinadores.
Já o Teatro Novo DC, localizado no DC Shopping, foi fechado definitivamente depois que a Cia. Teatro Novo e o centro comercial não chegaram a um acordo sobre a renovação do contrato, que terminou em dezembro. Agora, o grupo procura outro local para desenvolver suas atividades, enquanto o shopping garante que o espaço dará lugar a outro projeto cultural, ainda não definido.
– O carro-chefe da companhia é o projeto A Escola Vai ao Teatro, mas tivemos uma baixa de 40% no público – afirma Karen Radde, diretora da companhia que completa 50 anos em 2018.
Um dos debates mais intensos no meio cultural é a situação dos grupos de artes cênicas do projeto Usina das Artes, que tiveram de deixar a Usina do Gasômetro em julho de 2017, devido à reforma, e foram instalados pela prefeitura em um centro na Rua Santa Terezinha, 711, na entrada da Vila Planetário, uma área considerada perigosa.
– É uma grande confusão isso aqui tudo. Na real, estamos meio abandonados – diz o diretor Roberto Oliveira, que tem 40 anos de carreira, 22 deles à frente do Depósito de Teatro.
Os artistas temem que a localização e as condições de segurança do prédio da Santa Terezinha afastem o público. Oliveira estima que o número de participantes das oficinas do Depósito de Teatro caiu 50% no novo espaço. Devido aos problemas, três companhias de dança abandonaram o projeto.
O secretário de cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse, garante que a obra da Usina do Gasômetro não está parada. Informa que estão sendo feitos ajustes para que a reforma comece “nas próximas semanas” com US$ 3 milhões da Corporação Andina de Fomento (CAF). Alabarse espera entregar o espaço em etapas até o final de 2019. Sobre a situação atual dos grupos, afirma que a prefeitura tem realizado melhorias no prédio da Santa Terezinha:
– Eles não estão abandonados. Quem viu o prédio há três meses pode constatar que hoje é outro. Há iluminação externa. Reconhecemos que é preciso dar a eles assistência para que desenvolvam seus trabalhos de pesquisa.
Nem todas as notícias são negativas. Os teatros Bruno Kiefer e Carlos Carvalho, da Casa de Cultura Mario Quintana, começaram a temporada 2018 com novos equipamentos de som e luz. Jessé Oliveira, diretor do centro cultural administrado pelo governo do Estado, afirma que o investimento foi de R$ 200 mil, mas estima que chegaria a R$ 450 mil se fossem computadas as parcerias:
– Vivemos um momento complicado, com espaços fechando, mas temos um lugar renascendo, não só em termos estruturais mas também em matéria de programação.
No ano de 2018, Porto Alegre também terá à disposição o Teatro Unisinos, que foi inaugurado em julho de 2017, mas sofreu ajustes durante o segundo semestre. Agora, a agenda está aberta. No dia 21 de março, haverá um concerto da Orquestra Unisinos e, dois dias depois, show do músico Castello Branco. Outro espaço privado, o Instituto Ling, planeja uma programação movimentada para o ano. Segundo a gestora do centro cultural, Carolina Rosado dos Santos, a diversidade de fontes de financiamento é fundamental para a sustentabilidade:
– Não existe um modelo pronto. O que nos define é a capacidade de adaptação ao ambiente.
Diretor do Grupojogo, um dos participantes do projeto Usina das Artes, Alexandre Dill alerta, no entanto, que nada substitui os agentes públicos na tarefa de formular e implementar políticas para o setor:
– O poder público tem o dever de fomentar a cultura e preservar a memória e a cultura de uma cidade.