A Usina do Gasômetro e o Teatro de Câmara Túlio Piva estão desativados para reformas ainda não iniciadas. A Caixa Cultural e o Multipalco Theatro São Pedro não têm previsão de conclusão. A crise de espaços públicos tem preocupado a comunidade cultural. Somam-se a isso problemas também na iniciativa privada, como o fechamento do Teatro Novo DC e a operação com horário reduzido na Fundação Iberê Camargo. Por enquanto, a boa notícia é a inauguração, no próximo dia 24, da Casa da Música da Ospa. Veja, abaixo, a situação desses espaços culturais (leia também reportagem sobre o tema e artigo sobre cultura e desenvolvimento)
1 – Fundação Iberê Camargo
Desde a inauguração, em 2008, do premiado prédio projetado pelo arquiteto Álvaro Siza, a Fundação Iberê Camargo (FIC) se tornou o principal destino das mais destacadas exposições nacionais e internacionais em Porto Alegre. Passaram por lá mostras de Giorgio Morandi, William Kentridge, Regina Silveira e Waltercio Caldas. Os últimos anos, no entanto, foram de crise de financiamento. Ameaçado de fechamento, o espaço passou a ser aberto para visitação apenas dois dias por semana a partir de 2016 – inicialmente, às sextas e sábados e, hoje, aos sábados e domingos.
O diretor-presidente da FIC, Justo Werlang, estima que, para voltar a abrir seis dias por semana, sejam necessários R$ 800 mil a mais por ano. Instituição privada que capta a maior parte de seus recursos por meio da Lei Rouanet, a Fundação passa por um reposicionamento com o objetivo de expandir suas atividades para outras áreas da cultura além das artes visuais. O objetivo é aumentar o público. Para 2018, a FIC projeta uma retomada de seu fôlego com o retorno dos patrocinadores. Itaú, Grupo GPS, IBM, Banrisul, Oleoplan, Agibank e BTG Pactual estão entre eles.
2 – Usina do Gasômetro
Cartão-postal de Porto Alegre, a Usina do Gasômetro está fechada desde novembro de 2017. Segundo o secretário da Cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse, a reforma começará “nas próximas semanas”. Antes, é preciso retirar uma estrutura localizada acima do Teatro Elis Regina que estaria causando sobrepeso à edificação. Alabarse pretende reinaugurar o espaço cultural até o final do próximo ano. A entrega será feita por etapas: em março de 2019, deverá ser aberto o Teatro Elis Regina. O projeto inicial de reestruturação da Usina, estimado em pelo menos R$ 20 milhões, foi substituído por uma versão reduzida, como revelou em novembro o site Dossiê Palcos Públicos de Porto Alegre. O financiamento de US$ 3 milhões da Corporação Andina de Fomento (CAF) permitirá apenas melhorias nas dependências já existentes.
Em julho de 2017, os 10 grupos de artes cênicas do projeto de residência Usina das Artes foram realocados em um prédio na Rua Santa Terezinha. Os artistas reclamam das condições de segurança e estrutura do novo espaço, localizado na entrada da Vila Planetário. Por esse motivo, três grupos deixaram o projeto. Alabarse afirma que a prefeitura realizou melhorias no local e presta assessoria. O último edital do Usina das Artes expirou em maio de 2017. Na expectativa de um novo edital, os artistas demandam um contrato que legalize sua ocupação no centro da Santa Terezinha.
3 – Teatro Novo DC
Um dos mais tradicionais grupos teatrais do Estado, a Cia. Teatro Novo administrava há 18 anos uma estrutura no DC Shopping que incluía a Sala Carmen Silva (teatro com 490 lugares), o espaço Zoravia Bettiol e a Biblioteca Tania Rösing. Em dezembro último, o contrato de locação venceu, e as partes não chegaram a um acordo, levando ao fechamento do teatro. O palco e as poltronas já foram desmontados pela companhia (a arquibancada será nesta semana), que alocará os equipamentos em três depósitos. A superintendente do DC Shopping, Marise Mendes Mariano, informa que o local dará lugar a um novo projeto cultural, ainda não definido. Para isso, será buscado um parceiro. Já a Cia. Teatro Novo procura um novo local para as suas atividades, que será batizado de Centro Cultural Ronald Radde, em homenagem ao fundador do grupo, morto em 2016. Karen Radde, filha de Ronald, informa que a companhia vai comemorar seus 50 anos com a estreia de um novo espetáculo, Peter Pan, nos dias 14 e 15 de julho, no Theatro São Pedro. Enquanto isso, seguem as ações. Na sexta-feira, o Teatro Novo realizou um brechó para vender figurinos. Nesta quinta, Karen começará a ministrar uma oficina de teatro na Casa Cultural Tony Petzhold.
4 – Caixa Cultural
Em junho de 2017, Zero Hora chegou a anunciar a data de inauguração da Caixa Cultural no prédio do antigo Cinema Imperial na Praça da Alfândega: 13 de novembro de 2018, com a 2ª Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas. Em setembro, entretanto, a obra foi parada devido à rescisão do contrato com a construtora responsável. Uma nova licitação será lançada neste primeiro semestre de 2018.
Conforme a assessoria da Caixa, não há previsão de inauguração do prédio, que está aproximadamente um terço pronto. Até agora, foram investidos cerca de R$ 15 milhões de recursos próprios da Caixa, que ainda não apurou a verba necessária para a conclusão da obra, iniciada em 2009.
A Caixa Cultural terá um cine-teatro com capacidade para 650 lugares (similar à capacidade do Theatro São Pedro, a título de comparação), além de salas voltadas a exposições, oficinas e ensaios e um miniauditório.
5 – Teatro de Câmara Túlio Piva
Inaugurado em 1970, o Teatro de Câmara é um dos mais icônicos palcos da cidade, mas nos últimos anos apresentou problemas estruturais. Uma sessão do espetáculo Estamira – Beira do Mundo foi interrompida em 2012 depois que uma parte do teto cedeu devido à forte chuva, molhando o interior do teatro. Por apresentar risco aos usuários, a sala está fechada desde 2014, mas a reforma nunca começou. O projeto do novo Câmara foi criado por técnicos da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov) com a intenção de “dar uma nova cara ao teatro, mas sem perder suas características originais”, segundo a arquiteta Débora Carla Postingher, uma das autoras do trabalho ao lado de Jorge Freitas Borges. Além de resolver os problemas estruturais, o projeto terá acessibilidade e adequação ao PPCI. O secretário de cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse, pretende obter os R$ 4 milhões da obra por meio de medidas compensatórias (ações destinadas a compensar os impactos negativos de empreendimentos) analisadas pela Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento (Cauge).
6 – Multipalco Theatro São Pedro
Uma cerimônia no próximo dia 27 oficializará o rebatismo do Multipalco Theatro São Pedro, que passará a se chamar Multipalco Eva Sopher. Dona Eva, que terá seu cargo ocupado por Antônio Hohlfeldt, não pôde ver concluída a obra do complexo cultural anexo ao prédio histórico. Desde 2003, quando o Multipalco começou a ser construído, foram inaugurados o estacionamento, o restaurante, a concha acústica, a Sala da Música e as salas onde hoje trabalha a administração. Mas ainda falta a parte principal: o teatro com palco italiano e o teatro-oficina. Já foram investidos mais de R$ 40 milhões de patrocínios e doações, mas ainda faltam pelo menos R$ 12 milhões. No evento do dia 27 de março, restrito a doadores e imprensa, será aberta no foyer do Multipalco uma exposição da artista Maria Lídia Magliani. O foyer ainda sofrerá ajustes e será entregue em outra ocasião.
7 – Casa da Música da Ospa
Há 10 anos, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) tornou-se, a contragosto, um conjunto itinerante. Os músicos passaram a ensaiar e a se apresentar em diferentes lugares desde que tiveram de abandonar o prédio alugado na Av. Independência. No início de 2017, passaram a ensaiar em um espaço reformado no Centro Administrativo Fernando Ferrari. Esse mesmo espaço se tornará a Casa da Música da Ospa, uma sala de concerto com capacidade para 1,1 mil espectadores. O concerto de inauguração será no dia 24 de março, sob a batuta de Evandro Matté. A primeira fase da obra, que permitirá a abertura ao público, custará R$ 2,5 milhões de um orçamento total de R$ 4,8 milhões. Outro itens, como a sala híbrida, sala do coro e salas de estudo, serão concluídos até novembro.