O Rio Grande do Sul perdeu uma de suas figuras públicas mais queridas.
Eva Sopher, conhecida como a guardiã do Theatro São Pedro, morreu nesta quarta-feira (7), por volta das 19h, aos 94 anos, em Porto Alegre. A informação foi confirmada por Renata Rubim, filha da presidente da Fundação Theatro São Pedro, sem dar maiores detalhes sobre o falecimento da mãe. Em setembro de 2016, Dona Eva sofreu um AVC.
Renata Rumbi, filha de Eva, comentou em sua página no Facebook que a despedida da mãe foi tranquila: "Minha mãe foi viver com os anjos, irmãos dela desde sempre. Teve um final tranquilo e sereno, uma despedida super calma. Nós, a família, só temos a agradecer tudo que recebemos de nossos antepassados".
Dona Eva foi internada nesta quarta-feira no Hospital Moinhos de Vento, onde faleceu, após sofrer uma crise respiratória. O velório ocorrerá nesta quinta-feira (8), das 11h às 18h, no Theatro São Pedro, aberto ao público. Depois, a cerimônia de cremação será reservada somente aos familiares.
Dona Eva, como era carinhosamente chamada, esteve à frente da histórica casa de espetáculos estadual durante 41 anos. Assumiu em 1975, para comandar a reforma do prédio, e lá permaneceu, passando por governos dos mais diferentes matizes políticos. Uma tentativa de afastá-la do cargo, em 1991, motivou uma mobilização de admiradores, comandada pela Cia. de Ópera Seca, de Gerald Thomas, com a atriz Bete Coelho. De mãos dadas, representantes da área da cultura formaram uma corrente ao redor do teatro.
Desde a conclusão da reforma, em 1984, o Theatro São Pedro consolidou-se como um dos mais nobres espaços do país — e Dona Eva, uma das pessoas mais admiradas pelas estrelas. Era comum que, ao final dos espetáculos, dedicassem a ela palavras de carinho. Em noites de espetáculo, Dona Eva costumava se fazer presente. Os espectadores se acostumaram a ser recepcionados por ela na porta da plateia.
Sua trajetória foi a de uma mulher obstinada. Nascida Eva Margarete Plaut, em Frankfurt-am-Main, na Alemanha, teve de fugir para o Brasil com a família de origem judia, em 1936, por causa do nazismo. O pai, Max, era banqueiro, e a mãe, Marie, dona de casa. Em São Paulo, aprendeu português em uma escola pública e teve aulas de artes. Aos 16 anos, começou a trabalhar na galeria de arte Casa e Jardim, de Theodor Heuberger, fundador da organização sem fins lucrativos Pró-Arte, que produzia eventos culturais. Mudou-se para o Rio em 1943 e, três anos depois, casou-se com Wolfgang Klaus Sopher, também um imigrante alemão, com quem teve duas filhas, Renata e Ruth. A união durou até a morte do marido, em 1987.
Em 1960, o casal se radicou em Porto Alegre, onde Wolfgang assumiu a direção regional da Zivi Hercules (que depois se tornou a fabricante de produtos de consumo Mundial). Eva recebeu a tarefa de coordenar as atividades da Pró-Arte na Capital, movimentando a cena cultural gaúcha com concertos, peças de teatro e espetáculos de dança. Uma atração que gerou particular repercussão foi a apresentação da Orquestra Sinfônica de Israel, regida por Zubin Mehta, em um Salão de Atos da UFRGS lotado, em 1972, apenas dois dias após o atentado que matou a delegação israelense nas Olimpíadas de Munique.
A visibilidade à frente da Pró-Arte credenciou Eva a assumir a direção do Theatro São Pedro, em 1975, por nomeação do então governador Sinval Guazzelli. Sua missão era comandar a reconstrução do espaço, que estava fechado desde 1973 por falta de segurança devido à má conservação. Foi o trabalho que a consagrou na vida pública. Em 28 de junho de 1984, o teatro inaugurado originalmente em 1858 reabriu as portas com pompa.
Desde a criação da Fundação Theatro São Pedro, em 1982, Dona Eva ocupou sua presidência. Chamou para si a responsabilidade de erguer um grande espaço em uma área anexa que seria um verdadeiro complexo cultural, com um novo teatro, um teatro-oficina, uma concha acústica, salas de ensaio, restaurante e estacionamento. Batizado de Multipalco, o ambicioso projeto começou a sair do papel em 2003, com previsão de inauguração em 2006.
Com dificuldades de captação de verba e entraves burocráticos, a obra atrasou mais de uma década e ainda não ficou pronta. O orçamento de R$ 20 milhões, como previsto originalmente, tornou-se de R$ 50 milhões. Partes do projeto foram inauguradas aos poucos. Atualmente, estão em funcionamento o estacionamento, as salas administrativas e de oficinas, o restaurante e a Sala da Música, onde ocorrem apresentações.
Além das duas filhas, Eva Sopher deixa quatro netos e sete bisnetos.
Governo declara luto oficial
Pelas redes sociais, o governador José Ivo Sartori lamentou a morte de Dona Eva, a quem se referiu como uma "grande mulher, que dedicou uma vida inteira à arte e à cultura".
– Como legado, deixa sua luta pela preservação do Theatro São Pedro, o respeito da classe artística de todo o Brasil e o carinho e a consideração do povo gaúcho. Estamos decretando Luto Oficial de três dias no Rio Grande do Sul. Nossa solidariedade aos familiares – escreveu Sartori.
Nota do Hospital Moinho de Vento
O Hospital Moinhos de Vento comunica o falecimento de Eva Sopher, ocorrido às 19h10 desta quarta-feira (7). Ela deu entrada no hospital em decorrência de uma broncopneumonia, que evoluiu para falência orgânica múltipla e parada cardiorrespiratória.
Dona Eva, como era conhecida, nasceu na Alemanha, mas desde a década de 1930 vivia no Brasil. Sua história estará sempre ligada ao Theatro São Pedro, do qual se tornou diretora em 1975.
Ela deixa como legado mais de 40 anos dedicados à cultura do Rio Grande do Sul e do Brasil. Com o seu exemplo, legado e amor à arte conquistou a admiração e o respeito de todos os brasileiros.
Porto Alegre, 7 de fevereiro de 2018.