Ao ciceronear a reportagem de Zero Hora pela obra em andamento do complexo cultural Multipalco, em Porto Alegre, o presidente da Associação Amigos do Theatro São Pedro, José Roberto Diniz de Moraes, revela que o clima entre os funcionários do teatro ainda é de tristeza pelo falecimento de Eva Sopher. Figura querida dos gaúchos, Dona Eva se tornou o símbolo da reabertura e da preservação do São Pedro, que completará 160 anos em 27 de junho, e também uma batalhadora pela construção do Multipalco ao lado do prédio histórico. Sua memória será homenageada hoje, a partir das 14h, em cerimônia na Assembleia Legislativa do Estado.
– Aqui no teatro, estão todos tristes, perguntando-se: “E agora?”. Mas sinto neles um senso de responsabilidade. O passamento dela não significa que seu trabalho parou. Ela deixou uma equipe azeitada, que tem consciência do que o São Pedro representa no contexto da cultura do Estado – diz Moraes.
Para comprovar isso, uma nova etapa do Multipalco será entregue no dia 27 de março: o foyer. É um espaço que poderá ser utilizado para exposições, recepções, desfiles de moda, conferências e outros eventos. Um dos objetivos é obter renda para a continuação da obra. Na entrega do foyer, será divulgado oficialmente que o equipamento se chamará Multipalco Eva Sopher.
Complexo que terá quase 19 mil metros quadrados de área construída com um novo teatro italiano de dimensão similar à da sala histórica do São Pedro (650 lugares), um teatro-oficina para espetáculos experimentais, salas multiuso, concha acústica, restaurante e estacionamento, o Multipalco ainda precisa de um montante entre R$ 12 milhões e R$ 20 milhões para ser concluído. Dados dos sistemas de incentivo à cultura federal e estadual mostram que o projeto já captou pelo menos R$ 21,89 milhões pela Lei Rouanet desde 2002 e R$ 3,46 milhões pelo Pró-Cultura RS. Segundo Moraes, o total de verba investida ultrapassa R$ 40 milhões. A obra começou em 2003, com previsão de término para 2006.
Ainda falta o principal do Multipalco: a parte interna do grande teatro e do teatro-oficina, além de salas multiuso. Também integra o projeto a instalação de uma estação térmica que será responsável pela climatização do novo complexo e substituirá a do prédio histórico. Para concluir a obra, Moraes espera contar com patrocínios do Banrisul e da Petrobras – conforme ele, a ideia é batizar a sala principal de “Teatro Banrisul” e o teatro-oficina de “Teatro Refap” ou “Teatro Petrobras”.
Consultada sobre a intenção do banco em realizar novo investimento no Multipalco, a assessoria do Banrisul enviou a seguinte nota: “O Banrisul é parceiro do Multipalco, ao qual tem feito sucessivos aportes, por meio da Lei Rouanet, ao longo dos anos. Eventual destinação de novos recursos seguirá esse mesmo procedimento”.
Já a assessoria da Petrobras informou: “A Alberto Pasqualini – Refap S/A, então empresa do sistema Petrobras, investiu no patrocínio ao Multipalco Theatro São Pedro R$ 3,8 milhões com o uso de leis de incentivos fiscais estaduais e federais. A Petrobras ainda não definiu o orçamento de patrocínio para 2018, de forma que neste momento não estão sendo realizadas novas contratações”.
Cargo de Dona Eva ainda está vago
Atualmente, a Associação Amigos do Theatro São Pedro, que administra a obra, tem uma campanha para estimular doações. Pequenas quantias de pessoas físicas, como R$ 20 e R$ 50, somaram mais de R$ 80 mil em 2017. Moraes afirma que, uma vez obtida a verba mínima de R$ 12 milhões, o tempo de conclusão seria entre um ano e um ano e meio:
– Dona Eva sempre disse que, quando reinaugurou o São Pedro (em 1984), faltavam lustres em uma porção de lugares. Então, pendurou plaquinhas: “Doe um lustre para o Theatro São Pedro”. Se for o caso, faremos a mesma coisa no Multipalco.
Enquanto isso, a assessoria da Secretaria da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer (Sedactel) informa que o secretário Victor Hugo e o governador José Ivo Sartori estudam conjuntamente a indicação de um nome para ocupar a presidência da Fundação Theatro São Pedro, cargo deixado vago por Eva Sopher.