Em 2020, o Inter conviveu com a despedida de D'Alessandro depois de mais uma década como maior estrela do clube. Paolo Guerrero sofreu com o drama de uma grave lesão. Thiago Galhardo se revelou artilheiro e virou destaque do Brasileirão. O presidente Marcelo Medeiros encerrou sua segunda gestão sem conquistar títulos e seu ex-vice de futebol, Alessandro Barcellos, após ser demitido, ganhou a eleição presidencial. Abel Braga, na emergência e reafirmando devoção ao clube, encarou assumir o comando da equipe nos últimos meses. Todos estes nomes reúnem pré-requisitos para, por algum motivo, serem colocados como o personagem colorado do ano. Nenhum, porém, foi mais marcante do que Eduardo Coudet.
Antes mesmo de sua chegada, ainda em 2019, o treinador já significava um container cheio de expectativa pelos colorados. Estava proposta uma ruptura de paradigmas com a chegada de um campeão nacional argentino e alguém com uma proposta de jogo diferente do que vinha sendo executado nos últimos anos, seja no clube ou até no futebol brasileiro. Coudet teve sempre simpatia do torcedor, mesmo quando o futebol mostrado por sua equipe ficava devendo. O crédito diminuiu, mas não cessou com a perda do Gauchão e com a falta de vitórias nos Gre-Nais. Foram seis clássicos, com quatro derrotas, dois empates e apenas um gol marcado. Isto não abalou a diretoria, que sempre manteve publicamente a convicção no trabalho, mesmo que nas entrevistas o técnico reafirmasse que o elenco era carente, ou "corto", como preferia dizer.
Coudet foi protagonista no Inter até na hora da surpreendente saída. Ele pediu para sair de um clube que liderava o Brasileirão e que tinha diante de si mata-matas na Copa do Brasil e na Libertadores. É esta saída que demonstra sua importância no ano colorado. A polêmica gerada permanece viva, mesmo que ele esteja em outro continente e tendo sucesso no Celta de Vigo. Os colorados passaram a acompanhar o Campeonato Espanhol apenas para fiscalizar o treinador. Seus admiradores e seguidores se valem dos grandes resultados do clube galego para reafirmar que saiu do Beira-Rio alguém que num médio prazo reabilitaria as conquistas do clube . Os detratores nitidamente o secam, valorizando o que Abel conseguiu nas últimas partidas e não esquecendo o que julgam ter sido uma traição.
A verdade é que o trabalho de Eduardo Coudet ficou incompleto, talvez até sem a possibilidade de uma análise mais aprofundada e definitiva. Só o futuro poderá esclarecer qual o legado deixado por quem nada conquistou, sequer um Gre-Nal, mas que estava desenhando um horizonte diferente. Coudet marcou o ano de 2020 do Inter como nenhum outro personagem.