Pode se tornar repetitivo dizer que a megafesta organizada por Neymar para 500 pessoas no litoral fluminense é uma aberração, um desrespeito e uma irresponsabilidade. Nunca, porém, será demais reforçar isso, desde que o motivo da indignação seja a questão sanitária e não o fato do protagonista ser o controvertido atacante do PSG. A gravidade que existe é que centenas de pessoas estarão expostas a serem contaminadas e se tornarem difusores de uma pandemia cujas curvas de incidência voltaram a ser crescentes. Não interessa quem promove o nefasto evento. Importa é que isso não pode ocorrer, com ou sem Neymar. E estão acontecendo debaixo do nosso nariz quase que diariamente.
Quantas mil pessoas participaram aglomeradas da "festa democrática" nas últimas eleições? Paralelo ao resultado das urnas, há outro muito mais grave e ainda não contabilizado totalmente, o de vítimas da covid-19 que estiveram nas campanhas e nas comemorações Brasil a fora. Querem provas? Basta recorrer aos relatórios, gráficos e obituários e conferir candidatos que adoeceram ou já faleceram após o pleito, eleitos ou não. Há outros que sequer acompanharam o processo eleitoral por já estarem hospitalizados. Neymar nem votou por estar na Europa.
Passada a eleição, chegou o verão. Santa Catarina tem praias maravilhosas que nitidamente estão lotadas por despreocupados com a saúde. Fotos e vídeos chegam minuto a minuto provando isso. O pior é saber que tal desatino conta com apoio governamental. Embora tenha propriedades no estado vizinho ao Rio Grande do Sul, Neymar não está em Balneário Camboriú, Bombinhas, Praia do Rosa ou em Florianópolis, para ficar em quatro locais apenas e que já apresentaram superlotação desde os feriados do mês de novembro.
Também não pela presença de Neymar que a gauchada está lotando o Litoral sem distanciamento como fica evidente em flagrantes noturnos e diurnos de Capão da Canoa, Tramandaí, Cidreira, Pinhal, etc. São comemorações desenfreadas, descontrole em estabelecimentos comerciais ou de entretenimento; não há como conter. As leis e normas não estão sendo obedecidas e não se cobre da força pública a ação. Ela faz o que pode. Não tem polícia, guarda municipal ou exército que possa acabar com esta desordem. É mais provável de autoridades serem desmoralizadas do que imporem uma boa conduta a quem tem na deseducação uma doença pior do que a causada pelo coronavírus.
Enquanto as aglomerações irresponsáveis se multiplicam neste período, e não é só no Rio Grande do Sul ou no Brasil, louve-se, entretanto, a postura do futebol. Em nosso país, a bola está rolando desde julho com os estádios estrategicamente fechados. Esta medida, como em outros países, pode ser impopular, mas sua obediência está permitindo que haja jogos e competições. O índice de contaminação em partidas é praticamente nulo, ainda que haja a ocorrência de profissionais infectados. Mesmo que a CBF tenha demonstrado em um determinado momento vontade de liberar os torcedores, falou mais alto a sensatez. Que assim siga pelo tempo que for necessário. Este é um exemplo de sucesso que não foi seguido por Neymar e nem compreendido por irresponsáveis que estão fora da grande festa de Mangaratiba, mas repetindo por todos os lugares o que o milionário jogador está protagonizando.