Em julho de 2018, depois de decepcionar na Copa do Mundo e ser acusado de "cai, cai", Neymar gravou um vídeo-propaganda, pago a peso de ouro, com um apelo ao povo brasileiro e exibido em emissoras de TV aberta.
Deveria ser um pedido de desculpas. Foi, na real, uma peça de hipocrisia patrocinada em que Neymar falava em "vocês não sabem o que eu passo fora de campo". Balela que fica ainda mais evidente agora, quando o maior jogador do futebol brasileiro dá um péssimo exemplo, promovendo festa para dezenas de pessoas em sua mansão no litoral fluminense.
Neymar nunca sofreu fora de campo. Sempre foi tratado com benevolência por grande parte dos brasileiros e da imprensa esportiva. Não é inédito. No Brasil, os ídolos do futebol recebem tratamento especial, ganham uma espécie de salvo-conduto.
Lembram do "avião da muamba" da Seleção tetracampeã de 1994? De volta dos Estados Unidos, ao desembarcarem no Brasil, jogadores, comissão técnica e dirigentes da CBF passam reto pela alfândega, carregados com eletrônicos, sem pagar imposto. Romário e Bebeto com a taça na mão, o suficiente para justificar qualquer transgressão alfandegária.
Ou seja, o Brasil tem uma tradição de permissividade em nome do futebol, em nome da paixão nacional.
Agora, Neymar, que em 2018 pediu uma segunda chance para provar aos brasileiros que havia se transformado "num novo homem", dá o pior de todos os exemplos. Prova que o "menino Ney" nunca deixou de ser um marmanjo mimado.
Em plena pandemia, a festa privada para mais de 150 pessoas (já se falou em 500) mostra o desdém do astro pelo restante da população. Logo ele, que poderia ser exemplo agora, na hora difícil.
Alguém vai poder dizer: "Mas na casa dele, ele faz o que ele quiser". E por que ele não fez festa em Paris, onde joga? Por que será? Mais: são 150 convidados, mais garçons, garçonetes, faxineiros, manobristas e etc. E se, por acaso, alguém estiver infectado e, mais tarde, precisarem de atendimento hospitalar? E ainda assim, agora seria hora de dar o exemplo.
Mas sabemos que não dá para esperar exemplo de Neymar. Suspeito que nada vai acontecer. Passada a festança, Neymar vai voltar a jogar, fazer gols e logo esqueceremos daquilo que realmente importa.