Neymar estava indo bem em 2020. Foi resiliente ao não retrucar o ódio da torcida do PSG, conquistando na bola o perdão pelo namoro descarado com o Barcelona. Apanhou quieto e aceitou provocações como prova de autocontrole, para afastar aquela imagem de simulador. E, no mais admirável gesto, enfim se posicionou como um líder influenciador de crianças e adolescentes ao fazer história na luta do futebol contra o racismo.
Você lembra, com certeza. Faz pouco tempo. Mesmo correndo riscos de punição, foi solidário a um adversário que sofreu injúria racial no jogo contra Istanbul. Neymar comandou a retirada de seu time do campo, em caráter irrevogável. O jogo recomeçou no dia seguinte, já sem o quarto árbitro racista.
Eu mesmo escrevi, entusiasmado, que enfim Neymar fora tocado pela consciência de dois amigos até mais geniais do que ele em suas modalidades esportivas: o piloto Lewis Hamilton e LeBron James. Dois craques com responsabilidade de melhorar a vida das pessoas e fazer o mundo melhor, capazes de tocar coração e mentes de milhões de pessoas com suas posições corajosas.
Aí, no crepúsculo de 2020, explode a notícia de que Neymar começou no último sábado uma farra de Ano Novo com 500 convidados, em meio a um recrudescimento apavorante da pandemia e ainda sem vacinação em massa no Brasil. Como assim? Não existe um único assessor para dizer a Neymar que não faça isso, pelo amor de Deus? Que é um exemplo arrogante e exibicionista, com consequências sanitárias que podem ser terríveis?
Ainda que fossem todos testados, o que obviamente é inviável, a festa indica que a conscientização de Neymar não passou de chuva de verão. Se Neymar de fato quer lutar pelo Vidas Negras Importam, e não duvido disso, tem de saber que o combate ao vírus exige tanta responsabilidade quanto.
Essa festa não é de arromba – é de afronta.