Os efeitos da pandemia de coronavírus e a falta de ânimo com a política estão entre fatores que ajudam a explicar os altos índices de abstenção no primeiro turno das eleições municipais, segundo especialistas ouvidos por GZH.
No domingo (15), 358.217 eleitores não foram às urnas escolher prefeito e vereador em Porto Alegre, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse número representa 33% da população votante e coloca Porto Alegre no topo da lista das capitais com maior abstenção no pleito. No país, esse indicador ficou em 23,14%, em média.
Professora do departamento de Ciência Política da UFRGS, Silvana Krause afirma que, no pleito atual, além da pandemia de coronavírus, o abatimento de parcela do eleitorado, impulsionado pela falta de mudança após as eleições anteriores mais recentes, ajuda a explicar o crescimento da ausência nas urnas:
— É uma eleição que reflete um certo desânimo, um certo cansaço, o que leva a um maior desincentivo a votar.
Fatores técnicos, como cadastros desatualizados, e o esgotamento da campanha de 2018, onde o engajamento era forte na esperança de uma nova política, também são variáveis que entram no bolo de elementos que explicam a abstenção, segundo a especialista.
O cientista político Gustavo Grohmann afirma que, levando em conta o crescimento da taxa de abstenção observado na Capital nos últimos anos, era esperado um percentual na casa dos 24% neste pleito. Dentro desse contexto, o especialista, que também é integrante do departamento de Ciência Política da UFRGS, afirma que não vê outro fator externo além da crise sanitária que ajude a explicar o crescimento exponencial registrado em Porto Alegre:
— A gente pode estimar que essa diferença entre 24% e 33% é mais ou menos efeito da pandemia.
Em relação à possibilidade de cooptar parte do eleitorado que se absteve para o segundo turno do pleito, Silvana afirma que esse cenário é “muito difícil’:
— A conjuntura é de uma eleição de cansaço, de desânimo. Isso não depende só de uma campanha para incentivar o eleitor a votar — observa.
Pensando em um cenário onde essa ausência poderia ser revertida, a professora cita que o eleitor menos envolvido na polarização das eleições de 2018 teria mais inclinação para considerar essa mudança.