A primeira eleição em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) centralizou em Brasília o processamento dos votos dos 5.568 municípios brasileiros que elegeram prefeitos e vereadores neste domingo (15) foi marcada por atraso na divulgação dos resultados. A expectativa do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) era de ter números consolidados até as 20h. Em Porto Alegre, eram 23h quando 100% das urnas apuradas indicavam Sebastião Melo (MDB) e Manuela D'Ávila (PCdoB) no segundo turno da disputa.
Até 2018, a totalização dos votos era descentralizada no TRE de cada Estado, onde eram feitos a transmissão e o processamento dos dados. As parciais da apuração eram depois repassadas ao TSE.
— Até 2008, esse processamento era feito nos municípios. Depois centralizamos nos TREs e foi um sucesso absoluto. Por conta disso, se teve coragem de dar mais um passo e centralizar no TSE. Com certeza, o que ocorreu no domingo será objeto de muita discussão e análise no futuro — afirma o secretário de Tecnologia da Informação do TRE-RS, Daniel Wobeto.
Em coletiva de imprensa na noite de domingo, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente TSE, disse que um dos núcleos de processadores do supercomputador que processa a totalização falhou e foi preciso repará-lo, o que gerou atraso na totalização dos resultados:
— Os dados chegaram para a totalização totalmente íntegros e apenas o processo de somar essas 400 mil seções que ficou extremamente lento em razão de um dos processadores ter sofrido um problema técnico.
A pedido de GZH, Wobeto explicou o passo a passo da apuração e apontou em quais momentos o processo teve atraso. A lentidão foi tamanha que, por quatro vezes, o TSE precisou desligar todas as máquinas e religá-las para recomeçar o processo.
— O que mais nos frustrou foi não entregar as parciais da apuração à população. Isso dá uma sensação ruim para as pessoas — afirma o técnico.
Durante a apuração, 26 TREs enviavam dados para o TSE de forma simultânea — o Distrito Federal não tem eleição municipal. Até o dia da eleição, foram feitas cinco rodadas de testes internos de três dias cada, onde se enviou dados de todas as zonas eleitorais do país no mesmo momento, simulando o cenário do primeiro turno.
— Os primeiros testes tiveram muita lentidão, mas fomos conseguindo melhorar, e o último teve desempenho razoável, o que nos fazia crer que no dia da eleição conseguiríamos um processamento normal. Nunca imaginamos que seria tão ruim e travado — afirma Wobeto.
Mesmo com o atraso na apuração, o que garante a segurança da contagem dos votos é primeira etapa do processo (veja no infográfico). Ao emitir o resultado com boletim de urna, cada presidente de seção eleitoral ou mesmo servidores dos cartórios podem comparar os resultados impressos da sua seção com o que foi publicado no site do TSE.
— É muito fácil fazer uma auditoria para conferir resultados. O boletim de urna é uma prova anterior, a eleição já está apurada quando sai da urna eletrônica. O que o TSE faz é somar tudo, organizar e entregar o resultado. Não estamos produzindo o resultado em todo esse processamento. Só estamos contando. Por isso, temos certeza de que, por mais turbulento e demorado que tenha sido, o processo é seguro. É possível fazer o rastreamento manual de todo processo — detalha Wobeto.
Para o segundo turno, a expectativa é que haja correção das falhas — sejam de configurações ou de equipamentos. Wobeto afirma que a apuração deve ser mais rápida, já que os dados da votação de 29 de novembro exigirão muito menos em capacidade de processamento:
— Não haverá qualquer alteração na arquitetura do sistema para o segundo turno, mas certamente as falhas identificadas serão corrigidas. O sistema teria dado conta do segundo turno com o pé nas costas porque a quantidade de dados é muito menor.