A RBS TV apresenta às 22h35min desta segunda-feira (11), na Tela Quente, O Esquadrão Suicida (The Suicide Squad, 2021), filme dirigido por James Gunn, realizador da trilogia dos Guardiões da Galáxia na Marvel, entre 2014 e 2023, e hoje um dos presidentes do braço cinematográfico da DC. A aventura fez sucesso de crítica mas não de bilheteria (US$ 168,7 milhões), muito por conta da época de seu lançamento, quando a pandemia de covid-19 ainda assustava bastante. É o contrário do que aconteceu com Esquadrão Suicida (2016), de David Ayer, abraçado pelo público, com US$ 746,8 milhões arrecadados, mas massacrado pela imprensa. Chegou a receber duas indicações para o Framboesa de Ouro: pior roteiro (de autoria do próprio Ayer) e pior ator coadjuvante (Jared Leto, no papel de um Coringa sem o menor carisma daqueles interpretados por Jack Nicholson, Heath Ledger e Joaquin Phoenix).
Esse filme de 2016 desvirtuou as histórias em quadrinhos escritas por John Ostrander (que faz uma ponta logo no começo de O Esquadrão Suicida) e desenhadas por Luke McDonnell. O Esquadrão Suicida é um supergrupo de vilões da DC que presta serviços para o governo dos Estados Unidos, sob a coordenação da durona Amanda Waller. Os personagens ganharam popularidade no final dos anos 1980, quando ainda havia a Guerra Fria, opondo Estados Unidos contra a União Soviética, repúblicas comunistas em geral e também países árabes. Em troca de redução do tempo de prisão, bandidos topavam fazer o serviço sujo, tipo Jason Bourne. Por exemplo: viajar ao fictício Qurac, no Oriente Médio, para desbaratar o Jihad, grupo terrorista meta-humano (o equivalente aos mutantes da Marvel). Ou desmascarar uma organização chamada Império Ariano, que só prende criminosos negros, asiáticos e latinos. Ou então libertar de uma prisão na URSS uma escritora russa dissidente.
Havia sempre um subtexto político por trás de cada missão. No filme de 2016, isso era desprezado logo de início: a preocupação de Amanda Waller é o que fazer se o próximo Superman for do mal. E a equipe de mercenários, além de sequer cruzar fronteiras, tem de lidar não com um inimigo político, mas com uma insurgência — e de ordem sobrenatural.
O filme de 2021 pretendeu consertar as coisas. Daí o artigo no título, tanto o nacional quanto o original, indicando que este é o legítimo. E apesar de trazer no elenco nomes da produção de 2016 — Viola Davis reprisa o papel de Amanda Waller, Joel Kinnaman é o coronel Rick Flag (o comandante em campo dos supervilões), Margot Robbie encarna de novo a Arlequina, Jai Courtney aparece como o Capitão Bumerangue —, O Esquadrão Suicida não se apresenta como uma continuação, mas, sim, um reinício.
Sendo assim, o filme começa mostrando o cotidiano da penitenciária Belle Reve pelos olhos do Sábio, vivido por Michael Rooker, o azulado Youndu dos Guardiões da Galáxia. Aliás, James Gunn importou da franquia da Marvel elementos que reforçam a proximidade entre o Esquadrão Suicida e os Guardiões da Galáxia — ambos reúnem à força um grupo de pessoas que precisa lidar com suas diferenças enquanto tenta salvar o mundo. Temos, por exemplo, a trilha sonora descolada, que inclui Johnny Cash (Folsom Prison Blues), Pixies (Hey), as bandas indies The Decemberists e The Fratellis e um bando de brasileiros: Céu (Samba na Sola), Drik Barbosa (Quem Tem Joga, com participação de Gloria Groove e Karol Conká) e Marcelo D2 (Meu Tambor, com Zuzuka Poderosa). Temos muitas cenas em câmera lenta, o que, combinado ao uso massivo da música, confere à obra, às vezes, o aspecto de um videoclipe. Temos um personagem que é quase uma mistura entre Groot e o guaxinim Rocky, o ininteligível Doninha. Temos, além de Rooker, a escalação de Sylvester Stallone, aqui emprestando a voz ao devorador de humanos Tubarão-Rei, que é gerado por computação gráfica. E temos a tentativa de equilibrar tiro, porrada e bomba com um tanto de humor — ora anárquico e nonsense, ora típico de sitcoms — e um pouco de drama sobre relacionamentos familiares fraturados.
Essa porção mais dramática, diluída no sangue que chega a espirrar na câmera, é fornecida por três personagens novos. Com seu habitual carisma, Idris Elba interpreta o Sanguinário, um pistoleiro exímio com um arsenal aparentemente interminável que é chantageado por Amanda Waller quando sua distante filha adolescente corre o risco de ser presa: ele precisa liderar uma missão na fictícia ilha de Corto Maltese (criada por Frank Miller na HQ Batman: O Cavaleiro das Trevas em homenagem ao clássico pirata escrito e desenhado por Hugo Pratt). Para essa paródia de Cuba, onde uma sucessão de ditadores dispõem de um programa militar capaz de abalar o status quo defendido pelos EUA, e onde a atriz brasileira Alice Braga faz o papel da líder dos rebeldes, o Sanguinário levará, entre outros, a Caça-Ratos 2 (a portuguesa Daniela Melchior), que tinha um pai amoroso, mas drogado, e o bizarro Bolinha (David Dastmalchian), traumatizado por uma mãe controladora — situação que vai gerar as melhores piadas do filme.
Há outros personagens novos em relação a Esquadrão Suicida: o Pacificador (John Cena), que de pacificador não tem nada; Mongal, uma extraterrestre; Dardo, um atleta que virou criminoso... Vários são apresentados na sequência de abertura, que é bem orquestrada, reverte expectativas e pode provocar gargalhadas de quem curte humor grotesco e macabro.
Depois desse prólogo, o diretor James Gunn vai empilhando corpos à mesma medida que busca empilhar piadas. O equilíbrio fica por conta do espectador: a coisa ora soa como deboche inconsequente, ora como tragédia dolorosa, e aqui e ali flerta com o drama edificante. As cenas com Arlequina são emblemáticas: um momento aflitivo de tortura, por exemplo, pode dar lugar a um banho de sangue ornamentado por uma explosão de flores.