Cartaz da Tela Quente desta segunda-feira (26), às 23h05min, na RBS TV, Infiltrado (Wrath of Man, 2021) é uma das cinco parcerias entre o diretor Guy Ritchie e o ator Jason Statham. Essa colaboração começou no filme que revelou tanto o cineasta quanto o astro do cinema de ação, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998). Depois, eles fizeram também Snatch: Porcos e Diamantes (2000), Revólver (2005) e Esquema de Risco: Operação Fortune (2023).
Infiltrado tem algumas marcas dos britânicos Ritchie, 55 anos, e Statham, 57. A violência gráfica, a trilha sonora escolhida a dedo, o linguajar chulo e depreciativo, os personagens que não são nada exemplares, a menos que o critério seja a capacidade de matar e infligir o mal. A trama é dividida em capítulos intitulados (tipo A Dark Spirit, "um espírito sombrio", e Liver, Lungs, Spleen & Heart, "fígado, pulmões, baço e coração"), com flashbacks que contextualizam ações, explicam motivações e trazem revelações.
Há uma diferença crucial em relação a outros filmes da dupla: o tom. Vide o uso de Folsom Prison Blues (1955), um dos clássicos da música country compostos e gravados por Johnny Cash (1932-2003), que era chamado pelos fãs de O Homem de Preto não apenas pelo figurino adotado, mas também por suas letras carregadas de tristeza e perturbação moral — "Quando eu era só um bebê / Minha mãe me disse: filho / Sempre seja um bom menino, / Nunca brinque com armas de fogo / Mas eu atirei num homem em Reno / Só para vê-lo morrer / Agora toda vez que escuto aquele apito (referência ao trem que passa perto da penitenciária) / Eu seguro minha cabeça e choro", dizem os versos da música em questão.
Em Infiltrado, Guy Ritchie introduz a canção mais para o meio da história, em uma versão remixada que a aproxima da trilha composta para o filme por Christopher Benstead: o clima é absolutamente soturno, com pontadas musicais sincronizadas às explosões de brutalidade vistas em cena, sem muita margem para o riso — a não ser de nervoso ou de doentio. Ainda que haja aquele tipo de piada cheia de testosterona que caracteriza tanto a obra de Ritchie quanto a filmografia de Jason Statham, este longa está longe do deboche e da algazarra associados ao diretor. E fora Folsom Prison Blues, não há outras canções a embalar a ação.
Mas temos, novamente, uma história de ambição e vingança e um desfile de atores bacanas — o time de coadjuvantes conta com Eddie Marsan, Josh Hartnett, Andy Garcia, Holt McCallany, Jeffrey Donovan, Laz Alonso, Scott Eastwood, Darrell D'Silva, Post Malone e Babs Olusanmokun.
Com roteiro escrito por Ritchie em parceria com Ivan Atkinson e Marn Davies, o tenso Infiltrado é baseado no filme francês Assalto ao Carro Forte (2004), de Nicolas Boukhrief. Antes de o personagem de Statham, Harry, surgir, procurando emprego em uma empresa de carros-fortes que movimenta grandes quantias de dinheiro em Los Angeles, Ritchie orquestra um assalto que ditará todos os rumos do filme. Como se fosse um cortejo fúnebre (noção realçada pela música de Benstead), um desses veículos trafega pelas ruas da cidade californiana até ter seu trajeto interrompido por um grupo de operários. Observamos tudo de dentro do carro-forte, às costas do motorista e do outro transportador, e a câmera permanece nessa posição enquanto ocorre o ataque e ouvimos diálogos que sugerem: algo fugiu ao planejado.
Só voltaremos à cena do crime bem mais tarde, e em mais de um momento, para vê-la de diferentes pontos de vista e enfim entendermos melhor quem é quem em Infiltrado, o que aconteceu e o que deverá acontecer. Se há certa previsibilidade, Guy Ritchie embaralha as cartas de um modo que garante o interesse pelo jogo, pelas trapaças e pelos canos fumegantes. E das mãos de Jason Statham vem aquilo que se espera e que esperamos: aquele jeito elegante de cometer barbaridades, acompanhado por aquele olhar fuzilante e aquela voz rouca capazes de desarmar os oponentes sem que ele precise levantar um dedo sequer.
É assinante mas ainda não recebe a minha carta semanal exclusiva? Clique AQUI e se inscreva na minha newsletter.
Já conhece o canal da coluna no WhatsApp? Clique aqui: gzh.rs/CanalTiciano