Entre os filmes que não mereciam ter sido totalmente ignorados nas indicações ao Oscar, está Garra de Ferro (Iron Claw, 2023), disponível para aluguel digital em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play.
O filme foi escrito e dirigido pelo canadense-estadunidense Sean Durkin, cineasta dos elogiados Martha Marcy May Marlene (2011) e O Refúgio (2020). É a cinebiografia de uma família que fez história na luta livre, uma mistura de esporte e entretenimento muito popular nos Estados Unidos — e que, de certa forma, espelha a violência fingida do próprio cinema.
Rico na sua reconstituição de época — as décadas de 1970 e 1980 —, o filme acompanha a chamada maldição dos Von Erich. O pai, Fritz (interpretado por Holt McCallany, de Infiltrado), teve cinco filhos com a esposa, Doris (Maura Tierney): Jack Jr., que morreu ainda criança, Kevin (Zac Efron), campeão dos pesos-pesados no Texas, David (Harris Dickinson, de Triângulo da Tristeza), que também luta, Kerry (Jeremy Allen White, da série O Urso), aspirante a uma vaga olímpica no lançamento de disco, e Mike (Stanley Simons), que na verdade quer ter uma banda de rock.
A garra de ferro do título se refere a um golpe que Fritz aplicava nos seus adversários, mas logo fica claro seu outro sentido: o pai é tirânico com os filhos, a ponto de manter um ranking do afeto (ou algum sentimento parecido). O que começa como um animado filme sobre os bastidores da luta livre pouco a pouco se revela uma tragédia familiar eivada pela masculinidade tóxica.
Na premiação da Academia de Hollywood, Garra de Ferro poderia ter sido indicado nas categorias de roteiro original, fotografia (Mátyás Erdély), ator coadjuvante (Jeremy Allen White) e, principalmente, melhor ator. Zac Efron vem procurando se distanciar dos tempos de ídolo da trilogia musical High School Musical (2006-2008). Depois de encarnar, por exemplo, um dos mais célebres assassinos seriais dos EUA, no filme Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (2019), agora ele surge marombadaço. Mas o excesso de músculos não tolhe sua sensibilidade: seu desempenho é tocante como o filho que deseja seguir os passos do pai, mas seguidamente é preterido.