O 52º Festival de Cinema de Gramado concedeu uma de suas principais honrarias, o Troféu Eduardo Abelin, para Jorge Furtado, cineasta gaúcho que em 2024 está comemorando 40 anos de carreira. O prêmio foi entregue na noite desta sexta-feira (16), no palco do Palácio dos Festivais.
— Gente do céu, eu não posso chorar, ultimamente estou muito chorão. A minha carreira profissional começou naquele cantinho ali (aponta para o corredor do Palácio dos Festivais). Eu estava sentado no chão, esperando a premiação dos curtas gaúchos. Quando chamaram meu nome como melhor direção, não consegui levantar, minha perna estava dormente. Aí quem estava atrás de mim disse: "Tu que fez o filme, agora vai lá" — lembrou Furtado, rindo.
— Obrigado, Gramado. Cinema é coletivo. Os filmes do Jorge Furtado são da Nora Goulart, são do Giba Assis Brasil, são da Ana Luiza Azevedo, são de todos os atores e técnicos que trabalharam. Tem sempre gente nova chegando. Espero estar me reinventando sempre, e eu não sei o que vou ser quando crescer — disse Furtado, 65 anos.
Seu primeiro trabalho foi o curta-metragem Temporal (1984), codirigido por José Pedro Goulart, com quem também assinaria O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (1986) — premiado nos festivais de Havana, em Cuba, e Huelva, na Espanha.
Na sequência, vieram Barbosa (1988), uma parceria com Ana Luiza Azevedo que revive o primeiro grande trauma da Seleção Brasileira, o Maracanazo, na Copa do Mundo de 1950, e Ilha das Flores (1989), que nasceu porque a produtora Casa de Cinema de Porto Alegre queria trazer um filme ao Festival de Gramado.
Por ser de baixo orçamento, sem som direto, o projeto foi à frente e acabou consagrado no Palácio dos Festivais, com nove prêmios: melhor curta-metragem nacional, melhor curta pelo Júri Popular, Prêmio da Crítica, roteiro (do próprio Jorge), montagem (Giba Assis Brasil), melhor curta gaúcho, direção, roteiro e montagem em produção do RS.
Ilha das Flores inscreveu o nome de Furtado na história do cinema mundial. Em 1990, ele recebeu o Urso de Prata no Festival de Berlim. No filme, o diretor usa a trajetória de um simples tomate para explicar a lógica do sistema capitalista e dimensionar o tamanho da desigualdade social no Brasil. Nesse título, ele depurou o estilo de hipertexto que se tornaria uma marca registrada.
Furtado soma mais de 20 longas no currículo, como diretor ou roteirista, em trabalho solo ou em dupla, entre ficções e documentários, e também tem uma vasta coleção de obras para a TV, como as premiadas séries Doce de Mãe e Sob Pressão.
No Festival de Gramado de 1995, compartilhou com Jozé Pedro Goulart, Cecílio Neto e José Roberto Torero o Kikito de melhor filme brasileiro e o prêmio do público por Felicidade É..., um longa-metragem dividido em quatro segmentos.
Entre seus títulos mais conhecidos, está O Homem que Copiava (2003), uma colagem de gêneros que, na época de seu lançamento, foi considerado o "melhor filme brasileiro dos últimos 20 anos" por Fernando Meirelles, o realizador de Cidade de Deus (2002).
Na mesma noite do Troféu Eduardo Abelin, houve sessão hors-concours de Virgínia e Adelaide, rodado em Porto Alegre e codirigido pela carioca Yasmin Thainá. Conta a história de uma psicanalista negra, a primeira psicanalista da América do Sul, Virgínia Leone Bicudo (1910-2003). "É um nome de que não se ouve falar porque ela foi apagada da História", comentou o diretor em entrevista realizada durante o Festival de Punta de Este, no Uruguai, onde também foi homenageado pelas quatro décadas de carreira.
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