A lista de 10 deste fim de semana é em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira, 8 de março.
Selecionei filmes recentes que estão disponíveis no Amazon Prime Video, na Netflix ou no canal Telecine. Ambientados em países como Brasil, Estados Unidos, França e Senegal, atendem a dois critérios.
Todos são dirigidos e estrelados por mulheres. E todos estão entre os meus preferidos dos últimos cinco anos. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Atlantique (2019)
De Mati Diop. Ambientado no Senegal, Atlantique mistura gêneros como romance e terror para contar a história de Ada (papel de Mame Bineta Sane), jovem prometida ao rico Omar, mas apaixonada pelo pobre Souleiman, operário que sonha em migrar para a Europa. (Netflix)
2) Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)
De Céline Sciamma. Vencedor do troféu de melhor roteiro e da Palma Queer no Festival de Cannes, o drama da diretora francesa se passa em 1770, em uma ilha da Bretanha. Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora contratada para fazer o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), uma moça que acaba de ser retirada de um convento e está prometida pela mãe a um cavalheiro de Milão. Mas o que pinta é uma inflamante paixão entre artista e musa. (canal Telecine do Amazon Prime Video e do Globoplay)
3) Bela Vingança (2020)
De Emerald Fennell. Ganhador do Oscar de melhor roteiro original, o primeiro longa dirigido pela atriz britânica conta com uma atuação extraordinária de Carey Mulligan. Ela interpreta Cassie, que finge estar bêbada, desnorteada e desamparada em bares para atrair homens que, por sua vez, fingem não compactuar com a cultura do estupro. A mistura de visual colorido e tema sombrio do filme é muito bem resumida na cortante versão instrumental de uma canção pop de Britney Spears, Toxic, aqui executada apenas ao violino, à viola e ao cello. (Netflix)
4) Quo Vadis, Aida? (2020)
De Jasmila Zbanic. No filme que representou a Bósnia e Herzegovina no Oscar internacional de 2021, uma tradutora da ONU (Jasna Duricic) tenta salvar o marido e os dois jovens filhos do Massacre de Srebrenica, perpetrado por tropas sérvias em julho de 1995. Quo Vadis, Aida? defende a verdade como única forma de lidar com guerras, ditaduras, regimes de apartheid oficiais ou não oficiais, perseguições políticas, étnicas, religiosas etc. e faz um alerta: nunca podemos fechar os olhos para os traumas do passado. (canal Telecine do Amazon Prime Video e do Globoplay)
5) Identidade (2021)
De Rebecca Hall. Baseado em romance de Nella Larsen, Identidade é ambientado na Nova York dos anos 1920. Lá, se reencontram Irene (Tessa Thompson), que se identifica como negra e está casada com um médico negro (que sonha em se mudar para o Brasil, um país onde, segundo ele, não há racismo), e Clare (Ruth Negga), que se passa por branca e tem um marido rico e preconceituoso. Amparada pela belíssima fotografia em preto e branco e por uma melancólica trilha sonora, a atriz e agora diretora conduz a trama com uma delicadeza que não esconde as turbulências. (Netflix)
6) A Noite do Fogo (2021)
De Tatiana Huezo. Neste filme que ganhou menção honrosa na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, a cineasta observa o cotidiano de um povoado mexicano violentado pelo narcotráfico pelos olhos de três meninas: Ana (vivida por Ana Cristina Ordóñez González na infância e por Marya Membreño na adolescência), Maria (Blanca Itzel Pérez/Giselle Barrera Sánchez) e Paula (Camila Gaal/Alejandra Camacho). O perigo e a morte estão sempre nas redondezas, o silêncio e a fuga são aliados vitais, o medo dita os passos. Sobretudo os das mães e os das filhas, como enfatiza o título brasileiro do romance em que a ficção se baseia: Reze pelas Mulheres Roubadas. (Netflix)
7) Carvão (2022)
De Carolina Markowicz. A protagonista de Carvão, Irene, é interpretada por Maeve Jinkings, que voltou a trabalhar com a cineasta paulista em Pedágio (2023). Ela e o marido, Jairo, vivem de uma pequena carvoaria no quintal de casa. Os dois têm um filho de seus oito, nove anos, o esperto Jean, e o pai dela, doente, não sai mais da cama, não fala, não ouve. Uma agente de saúde, Juracy (Aline Maria Marta, premiada no Festival do Rio), faz ao casal uma proposta lucrativa, mas de risco: hospedar em sua casa um desconhecido. Irene não sabe, mas Miguel (o argentino César Bordón) é um chefão do tráfico de drogas que forjou a própria morte durante uma matança. (canal Telecine do Amazon Prime Video e do Globoplay)
8) Entre Mulheres (2022)
De Sarah Polley. Ganhador do Oscar de roteiro adaptado, traz no elenco Frances McDormand, Jessie Buckley, Rooney Mara e Claire Foy. No início de Entre Mulheres, o espectador pode achar que a história se passa em uma época já bastante distante, por causa dos cenários, dos figurinos, da ausência de tecnologia e das restrições impostas à população feminina, que, por exemplo, não pode estudar.
Mas o filme se passa em 2010, em uma comunidade religiosa isolada do resto do mundo, onde mulheres de todas as idades precisam conviver com as agressões físicas e o abuso sexual. Quando elas descobrem que os estupros sofridos não eram obra do demônio, mas cometidos por homens que usavam tranquilizante empregado em vacas para dopar as mulheres e adolescentes e violentá-las enquanto dormiam, os agressores são presos e levados para uma cidade próxima. Só que logo vão voltar, afinal, a maioria compactua com a cultura do estupro. Aí, as personagens têm dois dias para se reunir em um celeiro e resolver como vão proceder: não fazem nada? Ficam e enfrentam os estupradores? Ou vão embora? É um debate tão doloroso quanto bonito, atravessado pelas questões de fé e religiosidade. (Amazon Prime Video)
9) Till: A Busca por Justiça (2022)
De Chinoye Chukwu. Lamentavelmente ignorado nas indicações ao Oscar, tem Danielle Deadwyler no papel de uma personagem histórica: Mamie Till-Mobley (1921-2003), que se tornou uma ativista dos direitos civis para os afro-americanos após a morte por linchamento de seu único filho, Emmett, 14 anos, em agosto de 1955, no Mississippi. A revolta e a dor compartilham as cenas de Till com a bela atuação de Deadwyler, que é sublinhada pela música composta pelo polonês Abel Korzeniowski, ora grave, ora emotiva. Na pele de Mamie, a atriz experiencia todos os estágios do luto de uma mãe que sabe o quanto seu filho sofreu (a sequência no necrotério é fortíssima) - um luto que vai transformar em luta. (Amazon Prime Video)
10) Jogo Justo (2023)
De Chloe Dhomont. O longa-metragem de estreia da diretora estadunidense é muito mais do que o thriller erótico sugerido pelo cartaz de Jogo Justo. Trata-se de um retrato tenso e aflitivo do conflito entre o empoderamento feminino e a fragilidade masculina nos ambientes de trabalho. Phoebe Dynevor interpreta Emily, que precisa manter às escondidas o romance eo noivado com Luke: as regras da empresa de investimentos onde trabalham não permitem que empregados se envolvam amorosamente. Quando fica vago um cargo de analista sênior, Emily ouve um rumor de que Luke será promovido, os dois chegam a comemorar e fazer planos, mas é ela que acaba escolhida pelo chefe, Campbell (Eddie Marsan, deliciosamente cínico e implacável). Agora, ela não só vai ganhar mais do que o futuro marido: também vai mandar nele no trabalho. A decisão altera drasticamente a dinâmica do casal. (Netflix)
Bônus: Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (2020)
De Eliza Hittman. A diretora e roteirista estadunidense ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim por este título delicado mas também contundente sobre uma adolescente (Sidney Flanigan) de uma cidadezinha que, após descobrir que está grávida, tenta fazer um aborto. Não é "só" um filme sobre aborto: Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre também reflete sobre a violência cotidiana que garotas como a protagonista e sua prima (Talia Ryder) sofrem. (disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)