O feriado desta sexta-feira (21), Dia de Tiradentes, e a chegada do fim de semana criam uma janela de tempo para ver filmes.
A lista abaixo reúne seis atrações recentes, que acabaram de estrear nos cinemas ou tornaram-se disponíveis em plataformas de streaming.
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Beau Tem Medo (2023)
De Ari Aster. É o terceiro longa-metragem do cineasta de Hereditário (2018) e Midsommar (2019). Desta vez, ele conta a história de Beau Wassermann (encarnado por Joaquin Phoenix), um homem ansioso e paranoico que vive sozinho em um apartamento no centro de uma cidade qualquer dos Estados Unidos, onde cada momento parece um pesadelo.
Na cena de abertura, o personagem está começando uma sessão com seu terapeuta. O assunto principal é a visita que o protagonista vai fazer a sua mãe castradora e controladora (Patti LuPone, assustadora no papel). Incidentes — reais ou fantasiosos? — tornam a viagem de Beau uma odisseia surreal por suas memórias, seus traumas, seus sonhos, seus desejos e suas aspirações. É como se fosse uma cruza entre o influentíssimo romance O Complexo de Portnoy (1969), de Philip Roth, e a obra de Charlie Kaufman, roteirista ou diretor de títulos como Quero Ser John Malkovich (1999), Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004) e Estou Pensando em Acabar com Tudo (2020), mas sem a mesma contundência do primeiro nem a genialidade do segundo. Ainda assim, o filme tem grandes momentos ao longo de suas três horas de projeção. No mínimo, gera conversas entre os espectadores, seja para interpretar as situações enfrentadas por Beau, seja para traçar comparações com as suas próprias vidas. (Em cartaz no Espaço Bourbon Country, às 20h40min, e no GNC Moinhos, às 20h50min)
Close (2022)
De Lukas Dhont. Ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e foi o concorrente da Bélgica no Oscar de melhor filme internacional. Com um estilo de filmagem muito naturalista, que remete ao dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, Close tem como personagem principal Léo (em ótima atuação do estreante Eden Dambrino), 13 anos, filho caçula de agricultores que cultivam flores e melhor amigo de Rémi (Gustav De Waele), que tem a mesma idade e estuda oboé para um dia, quem sabe, tornar-se músico. Os dois garotos não se desgrudam, passam o dia inteiro brincando, e de noite chegam a dormir abraçados. Mas não são namorados. Ou não importa se são ou não são, como disse o diretor em uma entrevista. Este é um filme sobre como matamos a amizade entre meninos desde que eles são jovens. À medida que envelhecem e passam a lidar mais com as expectativas de masculinidade, os garotos se veem forçados a deixar de lado a ternura e a fragilidade e a abraçar a agressividade e a violência. (Estreia nesta sexta-feira, 21/4, no MUBI, e ainda está em cartaz na Sala Norberto Lubisco, às 18h15min)
Dogville (2003)
De Lars von Trier. Resgate do limbo digital também vale, como no caso da primeira parte da trilogia inacabada do cineasta dinamarquês sobre o estilo de vida e as idiossincrasias da sociedade dos Estados Unidos (a segunda, Manderlay, igualmente voltou a cartaz). Em um cenário estilizado, com referências cênicas mínimas e marcações teatrais, Nicole Kidman interpreta Grace, mulher que pede abrigo em uma cidadezinha e, em vez de conforto, depara com progressiva hostilidade. (MUBI)
Fome de Sucesso (2023)
De Sitisiri Mongkolsiri. O filme tailandês serve um prato requentado e demorado (são 145 minutos de duração), mas nutritivo e bonito — se a comida daquele país asiático já é apetitosa por si só, imagine quando realçada por técnicas cinematográficas como a direção de fotografia, a câmera lenta e a montagem. Na trama, a jovem e talentosa Aoy (Chutimon Chuengcharoensukying), que cuida do restaurante de bairro de sua família, é convidada para trabalhar na equipe do prestigiado chef Paul (Nopachai Chaiyanam), que comanda sua cozinha com mão de ferro e conduz banquetes privados para generais, milionários e artistas. Será um choque não apenas entre dois mundos, mas entre dois modos de ver o ato de cozinhar: Aoy faz isso com amor, preparando pratos como o Macarrão Manhoso, e Paul, por motivos negativos. Por meio desse personagem, Fome de Sucesso examina a divisão de classes, a teatralidade e a falsidade da aristocracia, dos ricos e dos famosos. (Netflix)
Mar Adentro (2004)
De Alejandro Amenábar. É outro resgate digno de celebração. O filme espanhol sobre eutanásia imortalizou a figura de Ramón Sampedro, que durante mais da metade de sua vida desejou estar morto. Na verdade, durante mais da metade de sua vida o marinheiro galego sentiu-se morto — ficou preso em uma cama após um mergulho que o deixou tetraplégico. Neste drama sobre eutanásia, ele foi encarnado por Javier Bardem, que, com sua extraordinária atuação, recebeu a Copa Volpi de melhor ator no Festival de Veneza, onde Mar Adentro também levou o Prêmio Especial do Júri, e contribuiu para as conquistas dos troféus de filme internacional no Oscar e no Globo de Ouro. No Goya, a premiação da Academia Espanhola, foi um arraso: o longa-metragem venceu em 14 categorias. (Belas Artes à La Carte)
Soft & Quiet (2022)
De Beth de Araújo. Filha de um brasileiro com uma chinesa-estadunidense, a diretora e roteirista acompanha em tempo real — ou seja, como se tudo tivesse sido filmado em um único plano-sequência — a primeira reunião de um grupo de mulheres neonazistas. Entre elas, está a professora de educação infantil Emily, protagonista da trama. Destaque do 19º Fantaspoa, o filme ilustra como, na casa do vizinho ou na porta ao lado, os ideais neonazistas germinam e se alastram, tendo entre os fertilizantes o ressentimento e a ignorância. Soft & Quiet também mostra como a teoria vira prática, como uma suposta "brincadeira" pode descambar para algo muito sério. Basta uma fagulha para provocar um incêndio — e aí a masculinidade tóxica surge como outro combustível: é por meio dela que Emily induz o marido a participar de uma ação que vai de mal a pior, tornando-se cada vez mais aflitiva e asfixiante, a ponto de só conseguirmos respirar no último instante do filme. (Sessão neste sábado, 22/4, às 13h, na Cinemateca Capitólio)