Começa nesta quinta-feira (13) a 19ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa, principal evento na América Latina para filmes de fantasia, ficção científica, suspense e terror (mas não só esses gêneros: há também comédias, musicais e animações).
Até o dia 30 de abril, serão exibidos 85 longas-metragens e 87 curtas, vindos de vários cantos do mundo, em quatro salas de Porto Alegre: Cinemateca Capitólio, Instituto Ling, Sala Paulo Amorim e Sala Redenção (confira a agenda em fantaspoa.com/programacao).
Se você não tem tempo (ou mesmo disposição) para tanto, aqui está a primeira leva de filmes imperdíveis:
Jardim Lunar (EUA, 2022)
De Ryan Stevens Harris. O diretor levou seis anos para produzir esta mescla de filmagens em 35mm, sequências de animação stop-motion e trucagens cinematográficas. O roteiro poderia ser menos explicativo, mas há belas virtudes neste conto de fadas sombrio sobre uma menina de cinco anos, Emma (a encantadora Haven Lee Harris, filha do cineasta), que, em meio a mais uma briga dos pais (Augie Duke e Brionne Davis), sofre um acidente e entra em coma.
Então, a garotinha embarca em uma jornada interior por cenários ora industriais, ora lunares, na qual vai deparar com personagens ora ameaçadores, ora acolhedores. Esses cenários e esses personagens são tanto reflexos das situações da vida real quanto frutos de sua imaginação — ou talvez do seu desejo de que os pais se reconciliem. Tudo é pontuado pela melancólica trilha sonora composta por Michael Deragón, que por vezes funde sua música com a canção Without You (1971), sucesso de Harry Nilsson.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 26/4, às 16h30min, e no dia 30/4, às 13h
Terceira Guerra Mundial (Irã, 2022)
De Houman Seyyedi. Foi o selecionado para o Oscar internacional pelo Irã, que vem sendo muito bem representado no Fantaspoa: em 2020, tivemos Uma História Cabeluda; em 2021, O Grande Salto; e no ano passado, Matando o Eunuco Khan. Também ganhou dois prêmios na mostra Horizonte do Festival de Veneza: melhor filme e melhor ator (Mohsen Tanabandeh).
Shakib, um sem-teto de meia-idade que mantém uma espécie de relacionamento com uma prostituta surda e muda (Mahsa Hejazi), vira operário em um canteiro de obras que vai se transformar no cenário de um filme sobre as atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Por incidentes fortuitos e por cair na simpatia do diretor, ele acaba escalado para substituir o ator que faria o papel de Adolf Hitler. Com essas tintas, Terceira Guerra Mundial faz um retrato das relações de poder, misturando as cores do absurdo e do abuso, e uma analogia dos campos de concentração nazistas, fazendo jus à epígrafe dos créditos de abertura: "A História não se repete, mas costuma rimar", uma frase atribuída ao escritor estadunidense Mark Twain. O roteiro é uma peça de ourivesaria: até os pequenos detalhes, supostamente desimportantes, vão ter um peso tremendo.
Sessões na Sala Paulo Amorim, no dia 15/4, às 17h30min, e no dia 19/4, às 15h30min
O Tio (Croácia, 2022)
De David Kapac e Andrija Mardesic. É como se fosse uma cruza de Feitiço do Tempo (1993), aquela comédia em que Bill Murray é condenado a reviver o mesmo dia indefinidamente, com os perturbadores filmes de Michael Haneke. Aparentemente, estamos no final da década de 1980, quando a Croácia ainda integrava a Iugoslávia, país que se dissolveu em várias repúblicas a partir do início dos anos 1990. Acompanhamos uma família — o pai (Goran Bogdan), a mãe (Ivana Roscic) e o filho (Roko Sikavica) — nos preparativos para um jantar de Natal, no qual terão como convidado o tio (Predrag "Miki" Manojlovic, assombroso) vindo da Alemanha.
O que começa em um tom de humor esquisito e incômodo (o tio trata o sobrinho, que já tem seus 20 e tantos anos, como um adolescente imberbe e, lascivamente, compara a mulher da casa com Sophia Loren) vai ganhando contornos mais sinistros à medida que essa situação se repete, dia após dia. Mas por que essa situação se repete? O que explica alguns anacronismos? Quais são as reais intenções de todos os personagens? Desde já, O Tio é um dos filmes mais envolventes e intrigantes não só do Fantaspoa, mas do ano.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 16/4, às 14h45min, e no dia 19/4, às 16h30min.
As Bestas (Espanha, 2022)
De Rodrigo Sorogoyen. Este eu ainda não vi, mas entra na lista por ter conquistado nove categorias no Goya, o prêmio da Academia Espanhola: melhor filme, direção, ator (Denis Ménochet), ator coadjuvante (Luis Zahera), roteiro original, fotografia, edição, som e música.
A sinopse diz o seguinte: Antoine (Ménochet) e Olga (Marina Foïs) são um casal francês que vive em uma aldeia no interior da Galícia. Lá, eles levam uma vida tranquila, cultivam vegetais e reabilitam casas abandonadas, embora sua convivência com os moradores locais não seja tão amistosa quanto desejam. Sua recusa em implementar um parque eólico acentuará os desacordos com os vizinhos, especialmente com os irmãos Xan e Lorenzo.
Sessões na Sala Paulo Amorim, no dia 18/4, às 19h30min, e no dia 29/4, às 19h30min.
3 dicas da curadoria do Fantaspoa
Com a palavra, João Pedro Fleck, que assina com Nicolas Tonsho a direção geral e a produção executiva do Fantaspoa: "É difícil escolher apenas três, porque acabam sendo menos do que 0,4% de tudo o que vimos para montar esta edição. Mas vou citar três filmes que vão impactar a todos que os assistirem. Para mim, Molli e Max no Futuro é a melhor comédia romântica realizada em muitos anos. Tem um visual que remete a Blade Runner (1982), com carros voadores e gigantescos robôs de luta. Irati é um filme de fantasia épica baseado em uma história em quadrinhos basca. Foi apontado pelo cineasta Álex de la Iglesia (de O Dia da Besta e Enigma de um Crime) como o melhor de 2022. E A Garota Artificial é um filme extremamente tenso e inquietante que deverá figurar em muitas listas de Top 10 em 2023".
Moli e Max no Futuro (EUA, 2023)
De Michael Lukk Litwak. Uma comédia romântica de ficção científica sobre um homem (Aristotle Athari) e uma mulher (Zosia Mamet) cujas órbitas se chocam repetidamente ao longo de 12 anos, quatro planetas, três dimensões e um culto espacial.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 28/4, às 20h30min (com a presença do diretor), e no dia 29/4, às 14h45min
Irati (Espanha/França, 2022)
De Paul Urkijo Alijo. Irati é uma jovem que guiará um grupo de guerreiros cristãos e muçulmanos através de uma jornada em um mundo mitológico antigo, onde tudo que tem um nome existe, numa tentativa de recuperar um tesouro perdido.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 29/4, às 20h30min (com a presença do diretor), e no dia 30/4, às 14h45min
A Garota Artificial (EUA, 2022)
De Franklin Ritch. Quando um vigilante da internet (o próprio Franklin Ritch) desenvolve um novo e revolucionário programa de computador para combater predadores online, seu rápido avanço leva a sérias questões de autonomia, opressão e o que realmente significa ser humano.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 27/4, às 14h45min, e no dia 30/4, às 18h15min