À primeira vista, Midsommar (em cartaz no Amazon Prime Video) e História de um Casamento (na Netflix) só têm em comum o fato de serem filmes americanos lançados em 2019. Mas há uma forte conexão entre ambos.
Em História de um Casamento, o diretor Noah Baumbach mostra o terror que pode ser uma separação. Adam Driver e Scarlett Johansson equilibram força e fragilidade como um casal que espelha dúvidas e angústias nossas: o que fazer do amor quando um relacionamento acaba?
Qual é o destino de toda aquela intimidade e aquela cumplicidade, como as descritas por Charlie e Nicole nas cartas que escrevem um sobre o outro no começo da história? O quanto nos dispomos a viver a vida com o outro – a viver a vida do outro? O que justifica um fim? Existem culpados? As palavras duras que dizemos um ao outro, como naquela angustiante discussão do casal protagonista, são a verdade ou um exagero temperado pela ira e pelo ressentimento? Como se vai um para cada lado quando há um filho no meio? Como proteger os filhos se estamos em guerra? Por que nos tribunais (tanto os formais quanto os informais), como diz a personagem de Laura Dern em um monólogo que praticamente valeu seu Oscar de melhor atriz coadjuvante, espera-se a imperfeição dos pais, mas não se tolera a das mães? É possível reatar os laços, mesmo que em um contexto diferente, como uma linda e singela cena – Nicole amarrando os cadarços de Charlie – simboliza? Estar em um relacionamento é, como dizem os versos de Being Alive cantados por Adam Driver, ter "alguém para me segurar muito perto, alguém para me magoar muito fundo"? O que é o amor se não algo que nos obriga a cuidar, a se importar, a nutrir esse sentimento?
Em Midsommar, o diretor Ari Aster faz da separação um filme de terror.
Tudo começa com a protagonista, Dani (Florence Pugh, indicada ao Oscar de coadjuvante por Adoráveis Mulheres), preocupada com o recente e-mail que recebeu da irmã bipolar: "Está tudo dando errado. Nossos pais vêm comigo. Adeus". Ela também se preocupa em como dividir sua angústia com o namorado, Christian (Jack Reynor), pois acredita que abusa emocionalmente dele. Do outro lado do telefone, Christian e seus amigos só estão preocupados com a viagem que farão para Hårga, um vilarejo na província de Hälsingland, na região central do país escandinavo, onde acompanharão durante nove dias uma cerimônia pagã.
É evidente que Dani e Christian estão em vias de se separar, dada a combinação explosiva entre a ansiedade dela e o egoísmo dele. Com os recursos do horror – o que inclui uma mistura de natureza bucólica e ritos mórbidos, de roupas brancas e trevas interiores, de choque e catarse –, o filme nos mostra a história de muitos casamentos. Não raro, devemos olhar com os olhos dos outros para enxergar o que está a um palmo de distância. Os sinais estavam todos aí, nós é que somos autocentrados demais para prestar atenção. Mas não podemos deixar de olhar para dentro também e entender que, às vezes, precisamos cauterizar nossas feridas emocionais, tacar fogo no passado para clarear o futuro.