No Emmy 2021, as cinco indicadas na categoria de melhor minissérie tinham protagonismo feminino: O Gambito da Rainha, I May Destroy You, Mare of Easttown, The Underground Railroad e WandaVision.
Sinal dos tempos: não apenas nos Estados Unidos, as mulheres vêm combatendo estereótipos, desbravando territórios que antes pareciam restritos a personagens masculinos e enfrentando desde terroristas da ficção e supervilões dos quadrinhos a problemas sérios da vida real, como a cultura do estupro e a violência psicológica contra as mulheres.
A lista a seguir traz 10 séries protagonizadas por guerreiras de todos os tipos, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, nesta terça-feira, 8 de março. Todas estão disponíveis em plataformas de streaming. Confira também a seleção com oito filmes premiados de diretoras.
Borgen (2010-2013)
Criado por Adam Price, o seriado da Dinamarca começa às vésperas da eleição que vai indicar quem ocupará o Borgen — palavra que significa castelo e que é usada para se referir ao Palácio de Christiansborg, onde estão sediados os três ramos do governo: o Parlamento (legislativo), o gabinete do primeiro-ministro (executivo) e o Supremo Tribunal (judiciário). Sidse Babett Knudsen interpreta Birgitte Nyborg, a candidata dos Moderados, azarão em uma briga com Michael Laugesen, do Partido Trabalhista, e o atual primeiro-ministro, Lars Hesselboe, dos Liberais. Prepare-se para debates, intrigas, surpresas, questões familiares, relação com a imprensa e escorregões imperdoáveis em um país que tanto preza a ética. Uma quarta temporada chegará em 2022. (3 temporadas, 30 episódios, Netflix)
Homeland (2011-2020)
Inspirados em um seriado israelense, Alex Gansa e Howard Gordon desenvolveram uma série que soube captar as nuances, os dilemas, as contradições e as metamorfoses da chamada guerra ao terror implementada pelos EUA a partir do 11 de Setembro. É numa sociedade traumatizada e paranoica que um fuzileiro naval (Damian Lewis) desaparecido por oito anos regressa do cativeiro no Iraque. A protagonista, Carrie Mathison (Claire Danes), uma analista da CIA bipolar e fã de jazz, suspeita que ele tenha se convertido ao radicalismo islâmico e foi enviado para um novo ataque. (8 temporadas, 96 episódios, Globoplay e Star+)
The Handmaid's Tale (2017-)
O romance distópico O Conto da Aia (1984), de Margaret Atwood, foi adaptado por Bruce Miller. Gilead é uma sociedade totalitária comandada por um regime fundamentalista, fincada em um território onde antes estavam os EUA. O mundo, abatido por altos níveis de poluição e uma série de doenças que provocaram, entre outras consequências, a infertilidade da maioria das mulheres, vive uma crise de natalidade. Para tentar repovoar a Terra, as poucas que ainda permaneceram férteis são usadas como escravas sexuais, as aias, que servem os comandantes do governo. Outrora uma editora literária, Offred (interpretada por Elisabeth Moss) é uma dessas aias e vive com Fred Waterford (Joseph Fiennes) e a cruel esposa dele, Serena (Yvonne Strahovski). Além de lutar por sua sobrevivência em meio à insanidade do regime, a protagonista tem outro objetivo: encontrar a filha que lhe foi tirada. The Handmaid's Tale arrebatou oito Emmys na primeira temporada, incluindo melhor série dramática, direção, roteiro, atriz e atriz coadjuvante (Ann Dowd). (4 temporadas até agora, 46 episódios, Globoplay e Paramount+)
Pose (2018-2021)
A série criada por Ryan Murphy, Steven Canals e Brad Falchuk é um marco de diversidade e representatividade: as atrizes MJ Rodriguez, Indya Moore, Dominique Jackson, Hailie Sahar e Angelica Ross são transexuais, e o elenco é predominantemente negro. Pose mostra como a cultura de bailes revolucionou a comunidade LGBTQIA+ no final dos anos 1980 e início da década de 1990. A protagonista, Blanca, acolhe jovens homossexuais e trans que foram expulsos de suas casas, organiza concursos de drag queen e lida com a epidemia da aids. Em janeiro, MJ Rodriguez tornou-se a primeira atriz trans a ganhar o Globo de Ouro. (3 temporadas, 26 episódios, Star+)
Bom Dia, Verônica (2020-)
Baseado no livro homônimo de Andrea Killmore (pseudônimo de Raphael Montes e da criminóloga Ilana Casoy) e com direção-geral de José Henrique Fonseca, Bom Dia, Verônica tem como protagonista uma escrivã da polícia de São Paulo, personagem interpretada por Tainá Müller. Mesmo com resistência interna na delegacia, ela começa a investigar um sujeito que, depois de marcar encontros em um site, aplicava um golpe nas suas vítimas: roubava dinheiro e pertences, tirava fotos delas nuas e queimava, por meio de um entorpecente, suas bocas. Paralelamente, acompanhamos uma trama ainda mais pesada: a do casal Cláudio e Janete, em desempenhos extraordinários de Eduardo Moscovis e Camila Morgado. Ela é uma mulher aprisionada em um dos inúmeros relacionamentos abusivos que existem no Brasil. Só que o marido não faz mal apenas à esposa. (1 temporada até agora, 8 episódios, Netflix)
O Gambito da Rainha (2020)
Desenvolvida por Scott Frank e Allan Scott a partir de um romance escrito por Walter Tevis, é uma das minisséries mais premiadas dos últimos anos: recebeu 11 Emmys, dois Globos de Ouro, o troféu do Sindicato dos Atores e o prêmio da Associação dos Diretores. A atriz Anya Taylor-Joy dá xeque-mate no espectador como uma órfã que se torna jogadora de xadrez nos Estados Unidos da década de 1960. Beth Harmon tem de enfrentar mais do que grandes campeões e o preconceito contra as mulheres: precisa lidar com seus próprios traumas e vícios — no caso, em remédios e em álcool. (1 temporada, 7 episódios, Netflix)
I May Destroy You (2020)
Ganhadora do Emmy de melhor roteiro, a inglesa de pais ganeses Michaela Coel, 33 anos, alinha-se a outras roteiristas de sua geração, como Phoebe Waller-Bridge (Fleabag), 36; Lena Dunham (Girls), 35; e Issa Rae (Insecure), 36: as desventuras da própria vida são fonte de inspiração. Em Chewing Gum (2015- 2017), Michaela usou sua experiência como adolescente religiosa para falar do despertar da sexualidade. Em I May Destroy You, trata do abuso sexual que sofreu na época em que escrevia a série anterior. Michaela transforma-se em Arabella nesta autoficção que, apesar de lidar com um assunto doloroso, encontra espaço para o humor, o afeto e a diversão. Escritora de um livro de sucesso, ela corre contra o prazo e contra uma crise criativa para entregar o segundo romance a uma grande editora de Londres. Para espairecer, resolve sair para a balada com uns amigos. No dia seguinte, já de volta ao trabalho, Arabella vê sua memória assaltada por imagens de um estupro praticado por um homem desconhecido. A partir daí, a minissérie mostra como a violência sexual pode paralisar o presente, alterar o futuro e ressignificar o passado das vítimas. (1 temporada, 12 episódios, HBO Max)
WandaVision (2021)
Diante da minissérie criada por Jac Schaeffer, precisamos conhecer o passado cinematográfico dos personagens para compreender que há algo de muito estranho acontecendo, e precisamos conhecer o passado da TV dos EUA para compreender as referências, que não têm nada de gratuitas: acrescentam camadas, criam expectativas, intensificam o suspense. No primeiro episódio, Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), a Feiticeira Escarlate, e o androide Visão (Paul Bettany) são apresentados como um típico casal dos subúrbios estadunidenses. No caso, Westview, onde os demais 3 mil e poucos moradores desconhecem os superpoderes dos vizinhos. As cenas são em preto e branco, e o tom de comédia romântica é acentuado pelas risadas da plateia, a claque, e pela duração (menos de meia hora). É uma alusão aos clássicos I Love Lucy (1951- 1957) e The Dick Van Dyke Show (1961- 1966). A partir daí, WandaVision vai avançando no tempo, nos costumes e nos mistérios. (1 temporada, 9 episódios, Disney+)
Hacks (2021-)
No papel, é uma série de comédia, gênero pelo qual a primeira temporada ganhou os troféus Emmy de melhor atriz (Jean Smart), direção (Lucia Aniello) e roteiro (compartilhado por Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky).
Mas é a parte amarga a mais saborosa de Hacks, que se passa em Las Vegas, onde um sarcástico agente de talentos resolve juntar a fome com a vontade de comer. De um lado, ele tem Deborah Vance (Jean Smart), uma veterana comediante que ainda faz dinheiro – graças a muitas ações de marketing, algumas delas constrangedoras –, mas que está correndo o risco de perder seu palco cativo no fictício hotel e cassino Palmetto, porque seu show envelheceu. A solução é dar uma sacudida no seu repertório, contratando uma roteirista de 25 anos: Ava Daniels (Hannah Eibinder, indicada ao Emmy de atriz coadjuvante). Ela também já viveu dias melhores, mas agora enfrenta um cancelamento em Hollywood, consequência de chistes no Twitter sobre o filho gay de um senador. Variando entre o desencanto, o escárnio e a raiva, Deborah e Ava vão revelar uma solidão avassaladora e expor as engrenagens viciadas da indústria do entretenimento no que diz respeito ao papel das mulheres. (1 temporada até agora, 10 episódios, HBO Max)
Maid (2021)
Depois de sair de casa no meio da madrugada, Alex (Margaret Qualley), 25 anos, busca um serviço social atrás de algum benefício que garanta a ela e à pequena Maddy (Rylea Nevaeh Whittet) um teto e alimentação. Quando relata à assistente social que fugiu de casa por medo do companheiro Sean (Nick Robinson), a profissional rebate questionando se a jovem fez um boletim de ocorrência. Alex diz que não, pois nunca foi agredida pelo ex. E também rejeita ser encaminhada para um abrigo, pois "detestaria tirar a vaga de alguém que sofreu agressão de verdade". Para piorar, a relação com a mãe, Paula (Andie MacDowell, mãe de Qualley na vida real), não é boa.
Assim começa a minissérie Maid, criada por Molly Smith Metzler, que retrata o abuso psicológico a que muitas mulheres são submetidas. "É sobre feridas que não ficam visíveis através de hematomas", escreveu a colunista Martha Medeiros em GZH. "Que são abertas na alma e sulcadas lentamente, dia após dia, sem chance de cicatrização, e tão triviais se tornam que a gente acaba se acostumando, achando que é assim mesmo, faz parte da vida." (1 temporada, 10 episódios, Netflix)