Como muitas escolas anteciparam o feriado do Dia do Professor, em 15 de outubro, para segunda-feira (11), um bocado de meninas e meninos terá, a partir do sábado (9), quatro dias de folga, culminando no 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida — e também Dia das Crianças.
Pensando nelas, fiz uma seleção de filmes para ver no streaming, quase todos com protagonistas infantis (as exceções são adolescentes ou jovens, mas a condição de filho é fundamental). Todos são desenhos animados — já adianto que quatro foram produzidos pela Pixar, sinônimo de excelência na área: venceu 11 vezes o Oscar da categoria.
A aventura, o humor e a emoção são as tônicas, mas essas animações também encontram espaço para reflexões sobre temas sérios — além, é claro, de estabelecer um diálogo não apenas com as crianças ou os adolescentes, mas também com os adultos da casa. Clique nos links se quiser saber mais sobre alguns dos títulos.
Monstros S.A. (2001)
O desenho animado de Pete Docter é um clássico da Pixar. Se por acaso você nunca ouviu falar, saiba que aborda o maior de todos os medos infantis: monstros. Os personagens Sulley (grande, com chifres e pelo azul) e Mike (uma espécie de bola verde com um olho apenas) têm a missão de assustar a população infantil para gerar energia em seu mundo. A graça é que, ao conhecerem a menininha Boo, eles descobrem que fazer as crianças rirem é muito mais vantajoso. Ótimo para ser visto em família, o filme emociona também por valorizar a amizade, vital para superar vários desafios. (Disney+)
O Menino e o Mundo (2013)
Indicada ao Oscar da categoria, a animação brasileira dirigida por Alê Abreu tem como protagonista Cuca, um guri que mora com a família em uma cidadezinha do campo. Diante da falta de trabalho, um dia ele vê o pai partindo para a cidade grande. A saudade aperta, então, Cuca resolve sair de casa em busca do pai, sempre guiado pelo som da flauta que ele tocava, passando por várias descobertas em uma jornada cheia de fantasias e cores, mas marcada também por problemas sociais. (Disney+)
Divertida Mente (2015)
Talvez o único senão desta obra da Pixar — mais uma assinada por Pete Docter — seja quanto ao título brasileiro. Trocadilhos são bem-vindos, mas este promete um filme mais humorístico e descompromissado do que realmente é. Assim escreveu a psicanalista Ana Laura Giongo em Zero Hora à época da estreia: "Divertida Mente tem por título original Inside Out. Se fosse assim traduzido, teríamos uma pista mais precisa do que vamos assistir: uma visão de 'dentro para fora', ou 'ao avesso', do que se passa na mente. É uma animação infantil por ser dirigida aos pequenos, mas que, com seu argumento consistente — baseado em conceitos das neurociências e da psicanálise —, também toca profundamente os adultos, que podem se remeter à experiência 'infantil' que deu forma a suas vidas".
O principal cenário é a mente de uma menina de 11 anos, Riley, abalada pela mudança da família do frio Estado de Minnesota para a ensolarada Califórnia. Dentro de sua cabeça, veremos o embate entre seus diferentes estados de espírito, batizados, por aqui, de Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. A Alegria tenta manter as rédeas, só que a distância das amigas e de passatempos como o hóquei no gelo falam alto, permitindo que o Medo e a Tristeza se sobreponham. Esses personagens nos levam a viagens pelas memórias e pelos sonhos de Riley. (Disney+)
Viva: A Vida É uma Festa (2017)
Os 110 prêmios conquistados — incluindo o Oscar de melhor canção, para Remember Me (rebatizada no Brasil como Lembre de Mim) — não são suficientes para dimensionar o encanto do filme de Lee Unkrich e Adrian Molina inspirado na tradição mexicana do Dia dos Mortos. O protagonista é Miguel Rivera, um menino de 12 anos que acidentalmente atravessa o portal para o mundo dos mortos. No além, Miguel busca a ajuda de um músico, Héctor, para voltar ao terreno dos vivos.
Parece a sinopse de um genérico thriller sobrenatural, mas Viva tem muito mais camadas. Para começar, é uma produção dos Estados Unidos que celebra a cultura do México — e foi lançada nos cinemas no primeiro ano da presidência de Donald Trump, ferrenho defensor da construção de um muro entre os dois países. A trama tem como um dos elementos centrais a música — por extensão, a cultura, tão vilipendiada ultimamente. E, em tempos de saudade e de perdas familiares provocadas pela pandemia, o filme faz um apelo e uma ode à memória ("Lembre de mim / Hoje eu tenho que partir / Lembre de mim / Se esforce pra sorrir / Não importa a distância / Nunca vou te esquecer / Cantando a nossa música / O amor só vai crescer", dizem os versos da versão em português da canção oscarizada). (Disney+)
A Caminho da Lua (2020)
Dirigido pelo estadunidense Glen Keane, trata-se de mais uma produção de Hollywood que mira o gigantesco mercado da China, onde se passa a história. A protagonista é Fei Fei, garota de 12 anos que enfrenta dificuldades em superar o luto pela mãe e aceitar a nova noiva de seu pai. Ainda marcada pelas lendas que sua mãe contava sobre a deusa da Lua, Chang’e, e frustrada por descobrir que seu pai nunca acreditou de verdade nos relatos, Fei Fei resolve construir um foguete para viajar até a Lua e, quem sabe, comprovar a existência da divindade — na esperança de que, assim, seu pai desista do novo casamento. Delicado no tratamento de temas sérios e visualmente fascinante, concorreu ao Oscar de melhor longa de animação. (Netflix)
Olhos de Gato (2020)
Esta é uma dica para crianças mais velhas. Dirigido por Junichi Sato e Tomotaka Shibayama, o filme japonês é sobre uma menina que se transforma em um gato para que consiga ficar perto do menino de quem ela gosta. O desenho aborda assuntos importantes ligados à adolescência, como a dificuldade de expressar seus sentimentos, a perda da identidade em razão da pessoa querida, a pressão familiar quanto ao futuro e o bullying. (Netflix)
Wolfwalkers (2020)
Só havia um rival para Soul no Oscar: esta animação de Tomm Moore e Ross Stewart produzida à moda antiga, em 2D, e focada no folclore da Irlanda. Conta a história de Robyn Goodfellowe, uma garota aprendiz de caçadora que quer ajudar seu pai, incumbido pelo temível Protetor de exterminar a última matilha de lobos. Mas tudo muda quando ela faz amizade com uma menina de espírito livre de uma tribo misteriosa, que dizem que ter a habilidade de se transformar em lobos à noite. Com visual deslumbrante e belas músicas, o filme lança um apelo pela preservação da identidade cultural e da natureza. (Apple TV+)
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (2021)
Na trama assinada por Mike Rianda e Jeff Rowe (egressos da série Gravity Falls), os Mitchells são uma família que lembra muito, inclusive fisicamente, a dos heróis de Os Incríveis — mas sem superpoderes. A personagem principal é a filha adolescente, Katie, cujo talento (como diretora de animações) o pai não enxerga. Os vilões reforçam o alerta sobre nossa dependência em relação a dispositivos eletrônicos e às redes sociais e sobre a diabólica dobradinha entre comportamento consumista e obsolescência programada — no filme, o mundo vira refém de um celular com inteligência artificial. Além de crítica social, o desenho tem aventura, drama e muitas piadas, tanto para os baixinhos quanto para os grandinhos (graças a uma série de referências, como as citações musicais de Kill Bill, de Quentin Tarantino). (Netflix)
Luca (2021)
O 24º filme de animação da Pixar mantém o alto nível das produções do estúdio que faz parte da Disney, mas muda bastante o tom. Aqui, são deixados de lado temas como a morte, o luto, o esquecimento e a obsolescência. O desenho animado dirigido por Enrico Casarosa é uma aventura sobre aquele momento entre a infância e a adolescência que estamos tentando descobrir que o mundo é maior do que a gente conhece.
A história se passa na Itália, durante um verão, e tem como protagonista um monstro marinho, o Luca, que, a convite de um amigo, o Alberto, resolve curtir a vida entre os humanos. É tudo muito divertido, mas eles precisam cuidar para não revelarem sua real identidade, e isso permite que Luca, o filme, seja visto como uma alegoria sobre a condição de grupos que costumam ser excluídos, oprimidos, desprezados, humilhados ou até agredidos pela sociedade, como minorias étnicas e religiosas, imigrantes, refugiados e a população LGBTQIA+. (Disney+)
Raya e o Último Dragão (2021)
A exemplo de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, este filme animado da Disney dirigido por Don Hall e Carlos López Estrada é sobre uma jovem que também tem de salvar o mundo. Do ponto de vista psicológico e social, a obra fala sobre como vencer os medos e, ao mesmo tempo, ser mais aberto ao que é diferente. O cenário é um atrativo para quem adora as aulas de história e geografia: um território mágico que mistura elementos de vários países do Sudeste Asiático, como Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Tailândia e Vietnã. Trata-se de Kumandra, onde seres humanos e dragões viviam em harmonia no passado. Mas a magia foi perdida, e o lugar está fraturado entre várias nações hostis entre si: Coração (o reino da protagonista, Raya), Garra, Cauda, Coluna e Presa. (Disney+)