Neste Dia das Crianças, resolvi lembrar de atores e atrizes que conquistaram na infância o que muitos adultos nunca vão ter: o reconhecimento pelo Oscar (nem que seja apenas como concorrente). Quase como se fosse uma maldição, porém, nenhum deles voltou a ser indicado.
Um começo promissor não significa um futuro vistoso, como mostram as carreiras de outras ex-estrelas mirins — vide Macaulay Culkin, hoje com 40 anos, e Lindsay Lohan, 34, que depois de crescerem passaram a atrair atenção mais pelos problemas pessoais do que pelo talento.
Outros nunca mais alcançaram brilho semelhante, como aconteceu com Henry Thomas, o Elliot de E.T. (1982), que só agora voltou à tona, por causa das séries A Maldição da Residência Hill (2018) e A Maldição da Mansão Bly (2020). Dificilmente a sorte bate duas vezes à porta — podemos considerar como exceção Jackie Coogan (1914-1984), famoso tanto por contracenar com Charles Chaplin em O Garoto (1921) e por protagonizar Oliver Twist (1922), na infância, quanto por dar vida ao Tio Funéreo no seriado de TV A Família Addams (1964 e 1966), quando já estava com 50 anos.
Alguns talvez precisem passar o resto da vida tentando se distanciar dos personagens que lhes trouxeram celebridade e muito dinheiro, caso de Daniel Radcliffe, o Harry Potter, e Emma Watson, a Hermione Granger. Ambos, vale dizer, se esforçam mesmo, e ela já colheu elogios da crítica (por As Vantagens de Ser Invisível, de 2012), protagonizou outro blockbuster (A Bela e a Fera, de 2017, US$ 1,2 bilhão arrecadados) e fez parte do elenco principal de um indicado ao Oscar de melhor filme (Adoráveis Mulheres, de 2019).
E há aqueles que simplesmente preferiram se afastar, tipo Danny Lloyd, que protagonizou cenas clássicas no papel do filhinho de Jack Nicholson em O Iluminado (1980), seu primeiro e único trabalho no cinema.
Feito todo esse preâmbulo, vamos à lista:
Justin Henry
Billy, o menino que fica no meio do fogo cruzado da separação de Dustin Hoffman e Meryl Streep em Kramer vs. Kramer (1979), valeu a Justin Henry o recorde de ser o mais jovem concorrente ao Oscar. Ele tinha apenas oito anos quando foi indicado a ator coadjuvante. Sua carreira nunca decolou. Hoje, se dedica ao mercado de distribuição de vídeos na internet.
Jackie Cooper
Morto em 2011, aos 89 anos, ficou conhecido como o editor de jornal Perry White nos filmes do Superman estrelados por Christopher Reeve entre 1978 e 1987. Mas Jackie Cooper foi um astro mirim. Destacou-se em filmes como O Campeão (1931) e A Ilha do Tesouro (1934) e entrou para a história como o mais jovem nomeado ao Oscar de melhor ator: tinha nove anos e 20 dias quando recebeu a indicação por The Skippy (1931).
Quvenzhané Wallis
É um caso à parte, até por ainda ser uma adolescente. Ela tinha nove anos e 135 dias quando foi indicada para o Oscar de melhor atriz por sua atuação em Indomável Sonhadora (2012), papel para o qual ela testou com apenas cinco anos. Quvenzhané Wallis foi a primeira criança negra a concorrer no Oscar, assim como a primeira pessoa nascida no século 21. Hoje com 17 anos, traz na bagagem a participação em um ganhador do Oscar de melhor filme, 12 Anos de Escravidão (2013), a protagonista do musical Annie (2014), a voz de Harper no desenho animado Trolls (2014) e os seriados Black-ish (2019) e Swagger (2020).
Tatum O'Neal
Aos 10 anos, ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por Lua de Papel (1973) e permanece nos registros como a pessoa mais jovem a receber a estatueta dourada em uma categoria competitiva (Shirley Temple ganhou um prêmio honorário aos seis, em 1935, e, confirmando a regra do brilho fugaz, se aposentou do cinema com 22 anos).
Mas a esperta pequena trambiqueira do filme de Peter Bogdanovich é a única personagem pelo qual Tatum O'Neal, 56 anos, é lembrada. Depois disso, as notícias a respeito dela giraram mais em torno de seu turbulento casamento com o tenista Johhn McEnroe, entre 1986 e 1994, ou pela recente luta contra a artrite reumatoide, que ela documenta no Instagram. Tatum, em uma entrevista ao jornal britânico The Times, resumiu bem a pressão que sofrem os talentos mirins:
— Depois de ganhar um Oscar, é melhor você ter uma performance muito boa toda vez que trabalhar. Mudar de uma criança fofa para um ator adulto é uma transição extremamente difícil de fazer.
Mary Badham
Também com 10 anos, foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por O Sol É para Todos (1962). Hoje, Mary Badham, que fez 69 anos no último dia 7, é uma ilustre desconhecida, pois de lá para cá só atuou em outras seis produções, nenhuma marcante.
Abigail Breslin
Outra atriz que tinha 10 anos quando concorreu como coadjuvante, por Pequena Miss Sunshine (2006). Abigail Breslin, 24 anos, não voltou à festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, mas segue trabalhando firme e forte, especialmente em títulos de terror ou terrir, como Zumbilândia, Maggie: A Transformação e A Garota Final.
Anna Paquin
Com 11 anos, ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por O Piano (1993). Foi sua única indicação ao Oscar, mas seria injusto dizer que ela não vingou, afinal, recebeu um Globo de Ouro de melhor atriz pelo seriado True Blood, foi a Vampira da primeira trilogia dos X-Men e trabalhou para grandes diretores, como Martin Scorsese (O Irlandês) e Noah Baumbach (A Lula e a Baleia). Deste time aqui, me parece a mais bem-sucedida.
Haley Joel Osment
O mesmo não se pode dizer de Haley Joel Osment, que tinha 11 anos quando concorreu a melhor ator coadjuvante por O Sexto Sentido (1999), no papel do guri que dizia ver pessoas mortas. Depois de A.I. — Inteligência Artificial (2001), de Steven Spielberg, ele não fez mais nada digno de nota. Talvez seu melhor momento tenha sido uma autoparódia como Mesmer, um adulto que era herói na infância, no seriado The Boys (2019).
Patty McCormack
Interpretou uma personagem sociopata de oito anos, mas já estava com 12 anos quando disputou o prêmio de atriz coadjuvante pela Rhoda Penmark de A Tara Maldita (The Bad Seed, 1956). Desde então, Patty McCormack fez mais de 150 filmes e séries, mas poucos relevantes, como Frost/Nixon (2008), O Mestre (2012) e cinco episódios de A Família Soprano, além de uma nova versão de A Tara Maldita, agora como telefilme (2018).