"Perfeitamente esplêndida". Esta frase, repetida dezenas de vezes por Flora (Amelie Smith) ao apresentar os cômodos da mansão que mora para a nova au pair do local, Daniela Clayton (Victoria Pedretti), é quase um falso spoiler de A Maldição da Mansão Bly. Encantadora, a estreia da Netflix desta sexta-feira (9) aposta no terror, mas com menos intensidade do que A Maldição da Residência Hill, de 2018, sua antecessora que deu uma oxigenada no gênero dentro do streaming.
Formando uma antologia de terror dentro da plataforma, Mansão Bly se apropria de outro conto de Henry James, A Volta do Parafuso (1898). A essência é a mesma, mas uma pitada de modernidade - neste caso, um romance - foi incluída para dar uma aquecida na trama, que, por si só, já seria bem assustadora. Quem assistiu a Residência Hill vai perceber que o elenco é praticamente o mesmo, mas verá ao longo da temporada que a intenção foi bem além do que provocar bons jumpscares (como são chamadas as cenas em que um elemento surge e faz a pessoa pular de medo diante da tela) com suas andanças pelo casarão.
A história de Mansão Bly começa com a chegada de Dani a Londres após abandonar os Estados Unidos atrás de uma vida completamente nova. Por isso, ela decide se aplicar para uma vaga de au pair em uma residência no interior da Inglaterra, gerenciada pelo tio dos órfãos Flora e Miles (Benjamin Evan Ainsworth), que moram no local com a governanta Hanna Grove (T'nia Miller).
Antes mesmo de ser levada ao local pelo zelador Owen (Rahul Kohli), o espectador percebe que Dani já está lidando com algum tipo de trauma. Seria o destino agindo ao aliar pessoas com passados mal resolvidos? A resposta vai se mostrando aos poucos.
A recepção "perfeitamente esplêndida" de Flora no local ajuda a esquecer disso por alguns segundos, mas pequenas situações, logo nos primeiros dias, incomodam: pegadas de lama que surgem de noite pelos corredores, bonecas da casinha de brinquedo da garota parecem ter vida própria e até a falta de empatia da jardineira Jamie (Amelia Eve) com Dani.
Com a evolução da trama, os jumpscares de Mansão Bly vão diminuindo e, neste ponto, mora a grande diferença para Residência Hill. A partir do quarto dos nove capítulos, é perceptível que o passado de cada personagem vai ser muito importante para o desfecho e, com isso, o espectador passa a ter mais empatia (ou até preguiça) por cada um deles. O desenvolvimento de um romance vai surgir para balançar as estruturas de Dani - o que pode soar um pouco forçado para alguns.
Outra grande diferença para este lançamento é a bela atuação das crianças - que não existiam em Residência Hill. Flora é uma garota interessante e, mesmo com o rosto e vozes angelicais, incomoda pela necessidade de ter controle sobre todos dentro da casa. Miles, então, faria o Damian de A Profecia morrer de inveja - suas caras, frases cortantes e posturas arrepiam facilmente.
Com uma história mais preocupada em amarrar as pontas, A Maldição da Mansão Bly pode decepcionar quem espera uma sequência de sustos e o mesmo nível de suspense de Residência Hill. Mas nem por isso merece ser deixada de lado. O "perfeitamente esplêndido" dito incansavelmente por Flora mora em outros elementos, que vão muito além de figuras fantasmagóricas, como o amor, a superação e a esperança por dias melhores.