Com o feriado de Nossa Senhora Aparecida na segunda-feira (12), pode ter sobrado tempo para ver séries das plataformas de streaming. Separei 12 títulos do Amazon Prime Video, do Globoplay e da Netflix que têm um atrativo extra: dá para começar e terminar no feriadão.
São seriados de apenas uma temporada ou com episódios curtos (menos de meia hora). Alguns eu já havia indicado antes — clique nos links para saber mais —, outros eu assisti há pouco tempo. Há obras dos Estados Unidos, do Brasil, da Inglaterra, da Suécia e da Coreia do Sul. E tem de tudo, do documentário à comédia, mas com uma inclinação para o sinistro, convém avisar.
Desta vez, dividi pelo número de episódios, para facilitar a escolha de quem pretende encaixar mais de uma série na agenda.
3 episódios
Don't F**k with Cats reconta a história de um sujeito que, em 2010, chocou as redes sociais ao postar vídeos em que aparece assassinando filhotes de gato. Isso acabou unindo pessoas de diferentes lugares, que formaram um time virtual de investigação. O documentário da Netflix é imperdível por três fatores. Primeiro porque reflete sobre a tal da indignação seletiva: gatinhos, ao que parece, podem comover mais do que humanos. Segundo porque retrata bem a fome de fama instantânea, que leva algumas pessoas a escolher como porta de entrada a bizarrice ou mesmo a perversidade — o criminoso em questão não parou só nos gatinhos. E terceiro porque mostra como, hoje em dia, tudo o que fazemos deixa rastros digitais, deixa pegadas que podem ser seguidas mesmo que por detetives amadores, como os dois principais narradores da série.
4 episódios
Collateral -Indicada ao Oscar de melhor atriz por Educação (2010), protagonista de Não me Abandone Jamais e coadjuvante em Shame e Drive, Carey Mulligan, por si só, justifica assistir a Collateral, na Netflix. Trata-se de uma minissérie inglesa escrita pelo renomado dramaturgo inglês David Hare, indicado ao Oscar de roteiro adaptado por As Horas e O Leitor. Carey interpreta Kip Glaspie, uma detetive designada para o assassinato de um entregador de pizza que é baleado em um subúrbio de Londres. A partir daí, Hare lança mão de uma teia de personagens para discutir a atuação da polícia, do serviço secreto e do exército, o papel da Igreja e dos partidos políticos, o sistema de imigração e o caldo que levou ao Brexit.
6 episódios
Areia Movediça – Em cartaz na Netflix, a minissérie sueca tem alguma semelhança com a belga 12 Jurados. Também foca em um julgamento de um crime chocante: a protagonista, Maja (pronuncia-se Maia), uma estudante do Ensino Médio, é acusada de participar de uma chacina em uma escola bacana de Estocolmo, onde, entre outras vítimas, foram mortos o namorado e a melhor amiga dela. Também alterna a narrativa entre o presente e o passado — quando surgem indícios tanto a favor quanto contra a personagem principal. Em meio a temas como bullying, xenofobia e relacionamentos abusivos, a trajetória de Maja é recuperada desde a aproximação com Sebastian, um garoto negligenciado pelo pai rico. Eis o pano de fundo, ou quem sabe a verdadeira questão de Areia Movediça: o que os adolescentes fazem longe do olhar de pais que não querem vê-los.
Good Omens – Enquanto o Sandman de Neil Gaiman para a Netflix não chega, que tal conferir outra atração baseada em obra do escritor inglês? A minissérie Good Omens, no Amazon Prime Video, é baseada no romance satírico Belas Maldições, de Gaiman e Terry Pratchett. Com uma mistura de referência bíblicas e cultura pop, a história retrata a luta de um anjo e um demônio para impedir a guerra final entre céu e inferno, o Armagedon. Michael Sheen, de Masters of Sex, faz o anjo Aziraphale, e David Tennant, de Doctor Who, encarna o demônio Crowley. Há milênios, os dois aprenderam a apreciar a vida entre os humanos e a companhia um do outro. São apaixonados por livros antigos, pequenos restaurantes e carros clássicos, mas agora suas vidas tranquilas na Inglaterra são sacudidas pela chegada do Anticristo — com um detalhe inconveniente: o filho de 11 anos do próprio Diabo foi perdido, após um engano cometido por uma ordem de freiras satanistas. Cabe à dupla improvável de defensores da Criação encontrar o menino antes que seja tarde demais. Na jornada, veremos flashbacks impagáveis de momentos marcantes da história da humanidade e um desfile de rostos (ou pelo menos vozes) conhecidos: Benedict Cumberbatch, Frances McDormand, Jon Hamm, Miranda Richardson, Brian Cox, Adria Arjona...
8 episódios
Bom Dia, Verônica – A nova série brasileira da Netflix surge em momento oportuno: dados divulgados em junho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) destacam que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 Estados. Baseado no livro homônimo de Andrea Killmore (pseudônimo de Raphael Montes e da criminóloga Ilana Casoy) e com direção geral de José Henrique Fonseca (diretor dos filmes O Homem do Ano e Heleno e filho do escritor Rubem Fonseca), Bom Dia, Verônica tem como tema, justamente, a violência contra a mulher. A protagonista é uma escrivã da polícia de São Paulo, personagem interpretada pela gaúcha Tainá Müller. Enfrentando certa resistência interna, ela começa a investigar um sujeito que, depois de marcar encontros em um site, aplicava um golpe nas suas vítimas: roubava dinheiro e pertences, tirava fotos delas nuas e queimava, por meio de um entorpecente, suas bocas.
Paralelamente, acompanhamos uma trama ainda mais pesada: a do casal Cláudio e Janete, em desempenhos extraordinários de Eduardo Moscovis e Camila Morgado. Ali, tudo é extremamente bem escrito, dos diálogos às cenas sem texto. Cada palavra recebe a ênfase decisiva na interpretação ("Um dia você vai dar um filho pra mim", diz ele), cada silêncio é ora uma eternidade, ora um relâmpago de esperança para a personagem dela, uma mulher aprisionada em um dos inúmeros relacionamentos abusivos que existem no país. Só que o marido não faz mal apenas à esposa.
Ratched – O seriado macabro da Netflix foi criado por Ryan Murphy, o mesmo de American Horror Story. É o que os americanos chamam de prequel: ele imagina um passado para a enfermeira Mildred Ratched, a vilã do livro e do filme Um Estranho no Ninho. A personagem é encarnada por Sarah Paulson, do elenco fixo de American Horror Story, e a história se passa em 1947, ao redor de um hospital psiquiátrico na Califórnia. A estética deslumbrante contrasta com a violência e a maldade encenadas — já na abertura, o jovem Edmund Tolleson (Finn Wittrock) chacina um grupo de padres, e mais adiante o médico responsável pelo hospital, Richard Hanover (Jon Jon Briones), vai promover lobotomias, imersão em água escaldante e outras formas bárbaras de tratamento. Outro aspecto digno de nota é que, contrariando o senso comum, a grande maioria das atrizes tem mais de 50 anos. Fazem parte da série Sharon Stone, Judy Davis, Cynthia Nixon, Amanda Plummer e Sophie Okonedo, entre outras.
10 episódios
Cine Holliúdy – O seriado é uma das inúmeras produções da Globo disponíveis no Globoplay. Trata-se de uma adaptação de um fenômeno cinematográfico, a comédia farsesca de Halder Gomes que quebrou o recorde de público no Ceará, antes pertencente, vejam só, ao blockbuster Titanic (1997). A história se passa nos anos 1970, na cidadezinha cearense de Pitombas, que tem como grande diversão o cinema de Francisgleydisson (personagem de Edmilson Filho). A tardia chegada da televisão ao lugarejo ameaça o negócio de Francis, sobretudo quando o prefeito Olegário (Matheus Nachtergaele) atendendo às vontades da primeira-dama, Maria do Socorro (Heloísa Périssé), e da enteada, Marylin (Leticia Colin), coloca um aparelho de TV em plena praça. Para competir com as novelas, Francis, na base do improviso, produz filmes que fazem referências a clássicos de ficção científica, terror, ação e faroeste.
Felizes para Sempre? – É uma releitura da minissérie Quem Ama Não Mata (1982), pelo mesmo autor, Euclydes Marinho. O cineasta Fernando Meirelles dirige a trama, agora ambientada em Brasília para mostrar as relações entre sexo e poder. Em foco, os dilemas de cinco casais de uma mesma família. Entre os personagens da minissérie disponível no Globoplay, está a restauradora de arte Marília (Maria Fernanda Cândido), que vive um casamento socialmente perfeito com Cláudio (Enrique Díaz) – em casa, eles mal se falam. A crise conjugal vai acabar por levá-los ao encontro da prostituta de luxo Denise (Paolla Oliveira),a Danny Bond, que é bissexual. Em outra ponta, o engenheiro Hugo (João Miguel), irmão de Cláudio, vê seu casamento sólido com a cirurgiã plástica Tânia (Adriana Esteves) começar a ruir quando perde o emprego e descobre ser estéril. O desejo, a mentira, a ambição e a traição culminam em um crime passional, e todos os personagens têm motivos para matar ou morrer.
Trapped – Esta eu não me canso de indicar. Siglufjörður é uma cidadezinha ao norte da Islândia que serve de cenário para os 10 episódios da história fechada contada na primeira temporada (há uma segunda, também com 10 capítulos). As condições climáticas do país e suas paisagens geladas são personagens à parte. Primeiro, uma nevasca isola o local do resto do país. Mais adiante, seus mil e poucos habitantes serão ameaçados pela possibilidade de uma avalanche. Mas o que realmente desestabiliza Siglufjörður é a descoberta, por um pescador, de um tronco humano (daí a ligação entre topografia e anatomia na sequência de abertura). Três policiais, o detetive Andri, Hinrika e Ásgeir, precisam deixar de lado um pouco seus problemas particulares para se dedicarem a uma série de dúvidas e especulações: de quem é o corpo? A vítima pode ser um passageiro ou tripulante de um ferry da Dinamarca que está atracado por lá? E o assassino, também está a bordo ou é alguém da cidade? Existe relação entre o crime e um incêndio ocorrido sete anos atrás, que matou uma irmã da ex-esposa de Andri? Qual a conexão com um empreendimento comercial, um porto que chineses querem construir para encurtar a rota para a América do Norte? Em cartaz na Netflix.
12 episódios
Fleabag – Vencedor de seis prêmios Emmy no ano passado, este seriado britânico em duas temporadas de seis episódios, cada um com menos de meia hora (disponíveis no Amazon Prime Video), trafega entre a comédia e o drama. Sua autora e protagonista é Phoebe Waller-Bridge, que faz o papel de uma mulher solteira, dona de uma café não muito frequentado, com problemas de relacionamento com a irmã, o cunhado, o pai e madrasta (a brilhante Olivia Colman) e sempre à procura de sexo para aplacar sua solidão. Essa personagem desconcerta o público ao quebrar a quarta parede: no meio dos diálogos, se vira para a câmera e faz uma careta ou dispara uma tirada irônica. Em outras vezes, no entanto, a máscara cai e nos vemos diante do seu choro e das suas aflições. Ah, vale avisar: na segunda temporada, surge um padre (Andrew Scott) para bagunçar ainda mais a vida dela.
Holo, meu Amor – Das muitas séries sul-coreanas ofertadas pela Netflix, esta aqui é uma das que mais me despertam curiosidade. Não vi ainda, mas pode ser que eu também aproveite o fim de semana para conhecer essa mistura de romance e ficção científica. A sinopse diz o seguinte: por causa de seu distúrbio de cegueira facial – ou seja: todo rosto é o rosto de um estranho –, Han So-yeon (Ko Sung-hee, de Enquanto Você Dormia) decidiu viver em reclusão. Mas seu caminho vai se cruzar com o de Go Nan-do (Yoon Hun-min), um programador que desenvolveu uma inteligência artificial avançadíssima, a tal de Holo – que tem a mesma aparência de seu criador. Ela vê a possibilidade de amar, e ele, Nan-do, vê uma cobaia.
17 episódios (calma!)
Homecoming – Deveriam fazer mais seriados de suspense no formato de Homecoming: os episódios não passam de meia hora, duração tradicionalmente associada às comédias. Por isso, dá para encarar ao longo de um feriadão os 10 capítulos da primeira temporada e os sete da segunda. Esta produção original do Amazon Prime Video foi desenvolvida por Sam Esmail, o criador de Mr. Robot, a partir de um bem-sucedido podcast de Eli Horowitz e Micah Bloomberg, em que a série se baseia. Na primeira temporada, Julia Roberts interpreta Heidi Bergman, uma espécie de assistente social ou psicóloga em uma empresa que acompanha soldados recém-chegados de zonas de combate tentando se readaptar à sociedade – um grande problema nos Estados Unidos. São rapazes como Walter Cruz (Stephan James, de Se a Rua Beale Falasse e Crime Sem Saída). Logo a gente percebe que há algo sombrio no ar, impressão reforçada pelo modus operandi do chefe de Heidi, Colin (Bobby Cannavale), e por cenas que mostram a protagonista no futuro, trabalhando como garçonete numa lanchonete sem glamour. O que está acontecendo? Assista.