Dados de junho divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) destacam que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 estados do país. A violência contra a mulher ganhou destaque em 2020, e essa dura realidade é retratada em Bom Dia, Verônica, seriado brasileiro que estreou nesta quinta-feira (1) na Netflix.
Adaptação da obra homônima de Andrea Killmore (pseudônimo de Raphael Montes a da criminóloga Ilana Casoy), o seriado relata ataques contra a mulher. Ao final de cada episódio, um grande letreiro indica um meio do espectador denunciar casos que presenciar, mesmo que de forma anônima. Ou seja, um entretenimento informativo e com responsabilidade.
Na trama, Verônica (a gaúcha Tainá Müller, em ótima interpretação) é uma escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo e é conhecida por ser inquieta. Filha de um grande investigador, ela presencia um suicídio, ao lado de sua mesa de trabalho, de uma vítima de um tarado que marcava encontros online.
Com a repercussão do caso, Verônica dá as caras na mídia e chama a atenção de Janete (Camila Morgado), que está sendo vítima de violência de seu marido, o também policial e tenente Brandão (Eduardo Moscovis). Engasgada com os dois casos, a escrivã decide investigar os crimes e acaba descobrindo brechas inusitadas dentro do sistema da própria delegacia, já que ela passa a investigar outro homem da corporação.
Com um ritmo tenso, Bom Dia, Verônica incomoda. A cada capítulo, o medo psicológico de Janete aumenta, o que é sentido pelo espectador, seja pelas torturas inusitadas, seja pelas posições fortes do marido Brandão. A relação do casal — e o seu desfecho — é muito mais imponente do que a trama inicial, o que dá uma sobrevida para a série.
Mesmo ganhando esperança a cada nova descoberta no caso de Janete, Verônica parece cada vez mais encurralada e sem conseguir dimensionar o quanto aquilo interfere em sua própria casa. A família dela se vê obrigada a deixar São Paulo após a escrivã investigar a fundo as ações de Brandão.
Mais do que o feminicídio, o seriado fala sobre o sistema político e de hierarquias. Diante disso, Bom Dia, Verônica deve ecoar longe e, por ser muito bem produzido, merece estar na lista de melhores seriados do ano. Afinal, quando assuntos tão espinhosos chegam a mais de 190 países por uma mesma plataforma, a esperança é de que tenhamos dias melhores. Ou, ao menos, uma luz no fim do túnel.