O Dia Mundial do Rock é celebrado nesta terça-feira. Para marcar o 13 de julho, tentei fugir do mais óbvio — as cinebiografias de bandas e cantores, como a oscarizada Bohemian Rhapsody (2018) ou a famigerada Stardust (2021) — e evitar repetir a piada do ano passado (aquela com Rock Hudson, Chris Rock, Dwayne "The Rock" Johnson...).
Então, resolvi lembrar 13 cenas marcantes de filmes disponíveis no streaming que são embaladas pelo rock (ou pelo pop, poderão dizer os puristas em alguns casos — e aproveito para dizer que, nessa praia mais eletrônica, a sequência de X-Men: Apocalypse com Sweet Dreams, do Eurythmics, é hors-concours!).
O primeiro nome que sempre me vem à mente em uma hora dessas não é o de Quentin Tarantino — esse é o segundo. A lista começa com Martin Scorsese, que costumeiramente "ilustra" com rock cenas memoráveis. Uma delas está em Caminhos Perigosos (1973): ao som de Jumpin' Jack Flash, do Rolling Stones, o personagem de Harvey Keitel observa a entrada de Johnny Boy (Robert De Niro) — com um sorriso no rosto e uma garota em cada braço — em um bar banhado por luz vermelha, em câmera lenta. Outra inesquecível é a da matança em Os Bons Companheiros (1990), uma queima de arquivo da máfia embalada pela coda de Layla, de Derek & The Dominos.
Já que falamos de Stones, não tem como deixar de fora os Beatles. Uma cena já é clássica: a do desfile de rua em Chicago, em Curtindo a Vida Adoidado (1986), de John Hughes, que fez a versão beatle de Twist and Shout voltar às paradas de sucesso. A outra é recente: o momento de Yesterday (2019), de Dany Boyle, em que Jack (Himesh Patel) canta e toca a canção do título para Ellie (Lily James) e um casal de amigos. É como se a música mais regravada da história voltasse a ser inédita, é como se nós também estivéssemos descobrindo a beleza pela primeira vez.
De Tarantino, impossível esquecer a abertura de Pulp Fiction (1994): quando os ladrões encarnados por Tim Roth e Amanda Plummer anunciam o assalto na lanchonete, a imagem é congelada e entram os vibrantes acordes de guitarra de Misirlou, de Dick Dale, que acompanharão os créditos do filme. Antes, em Cães de Aluguel (1992), o diretor utilizara de forma sinistra Stuck in the Middle With You: Michael Madsen dança e cantarola o hit do Stealers Wheel enquanto tortura e corta uma orelha de um policial.
Outro filme de 1992, Quanto Mais Idiota Melhor, de Penelope Spheeris, tem uma daquelas passagens que são meio que obrigatórias em listas como esta: a de Wayne, Garth e seus amigos ouvindo e cantando Bohemian Rhapsody, do Queen, enquanto dão uma banda pela noite. Queen combina com rolês noturnos de carro: Em Aquarius (2016), o cineasta Kleber Mendonça Filho mostrou os personagens curtindo Another One Bites the Dust em uma praia de Recife.
Algumas canções são tão maravilhosas, que acabam empregadas mais de uma vez. Heroes, de David Bowie, aparece na cena do túnel de As Vantagens de Ser Invisível (2012), de Stephen Chbosky. A versão em alemão encerra de maneira arrepiante Jojo Rabbit (2019), de Taika Waititi. Falando em fim, que tal Homem de Ferro (2008), de Jon Favreau, que fecha justamente com Iron Man, do Black Sabbath?
E se heavy metal pode, por que não terminar a lista com obras de dois diretores dinamarqueses que criaram cenas antológicas usando pop eletrônico? A Real Hero, parceria do College com Electric Youth, toca durante o bucólico passeio do protagonista (Ryan Gosling) de Drive (2011) com a personagem de Carey Mulligan e seu filho — os versos "a real human being / and a real hero" (um ser humano de verdade e um herói de verdade) soam como um comentário irônico no filme de Nicolas Winding Refn. Em Rainha de Copas (2019), de May el-Toukhy, a personagem principal (Trine Dyrholm) está envolvida romanticamente com o enteado. Em um jantar para os amigos do marido, ela aumenta o volume da música para dançar, sozinha, Tainted Love (amor contaminado), clássico da dupla britânica de synthpop Soft Cell que diz assim: "Às vezes, sinto que tenho de / Fugir, tenho de / Escapar / Da dor que você leva ao meu coração / O amor que compartilhamos / Parece não chegar a lugar algum / E perdi minha luz / Pois me debato e me reviro, não consigo dormir à noite".
O que ver no streaming
- Caminhos Perigosos (1973), de Martin Scorsese (Google Play e YouTube)
- Curtindo a Vida Adoidado (1986), de John Hughes (Telecine, Google Play e YouTube)
- Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorsese (Google Play e YouTube)
- Cães de Aluguel (1992), de Quentin Tarantino (Starzplay, Telecine, Google Play e YouTube)
- Quanto Mais Idiota Melhor (1992), de Penelope Spheeris (Google Play e YouTube)
- Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino (Telecine, Google Play e YouTube)
- Homem de Ferro (2008), de Jon Favreau (Disney+)
- Drive (2011), de Nicolas Winding Refn (Amazon Prime Video)
- As Vantagens de Ser Invisível (2012), de Stephen Chbosky (Amazon Prime Video, Netflix, Google Play e YouTube)
- Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho (Netflix, Telecine, Google Play e YouTube)
- Jojo Rabbit (2019), de Taika Waititi (Telecine)
- Rainha de Copas (2019), de May el-Toukhy (Apple TV, NOW e YouTube)
- Yesterday (2019), de Danny Boyle (Amazon Prime Video)