Michael B. Jordan já era conhecido pela crítica quando estrelou Creed: Nascido para Lutar (2015), cartaz da faixa Campeões de Bilheteria deste domingo (21), às 15h50min, na RBS TV. Tinha recebido elogios pelo desempenho em Fruitvale Station – A Última Parada (2013) e nos seriados The Wire e Friday Night Lights. Mas foi com punhos de boxeador que o ator norte-americano abriu portas em Hollywood, a ponto de hoje, aos 34 anos, ser cotado para emprestar o rosto ao primeiro Superman negro do cinema.
Aquele 2015 foi um ano estranho para Jordan. Em agosto, ele viu surgir a oportunidade de conquistar a fama mundial. Seu nome estava no elenco principal de um filme de super-herói, com um generoso orçamento de US$ 120 milhões. Mas, tal qual o poder do personagem que interpretou, o Tocha Humana, Quarteto Fantástico incendiou-se: não sobreviveu à imprensa (no site Rotten Tomatoes, tem apenas 9% de avaliações positivas) nem foi salvo pelo público (mal se pagou ao faturar US$ 168 milhões). A redenção viria poucos meses depois, em dezembro, quando estreou Creed.
O filme dirigido por Ryan Coogler (o mesmo de Fruitvale Station) é mais um exemplo de como Hollywood gosta de apostar no que já deu certo, criando produtos derivados de obras previamente conhecidas pela audiência. No caso, a franquia Rocky, que rendeu cinco sequências depois do original de 1976, vencedor do Oscar de melhor filme, direção (John G. Avildsen) e edição e indicado a outros seis, incluindo ator (Sylvester Stallone) e atriz (Talia Shire).
Aqui, Stallone retoma o papel que lhe alçou ao estrelato, mas agora Rocky Balboa é um treinador de boxe. Jordan faz o protagonista, Adonis, filho de Apollo Creed, célebre adversário de Rocky que morreu na luta contra o russo Ivan Drago. A jornada dos dois personagens será marcada pelo humor de Balboa, pela seriedade de Adonis, pelos planos-sequência do primeiro combate e, claro, por uma lição de moral: a ideia de que vencer no ringue não é tão importante quanto incorporar o espírito de superação e entendimento proporcionado pelo esporte.
Creed arrecadou US$ 174 milhões (quase cinco vezes mais do que custou), fez de Stallone, indicado ao Oscar de coadjuvante, o sétimo ator na história a disputar a estatueta pelo mesmo personagem e alçou Jordan ao estrelato.
Com o prestígio alcançado pelo sucessor de Rocky Balboa, Michael B. Jordan pôde, finalmente, estrelar um filme de super-herói arrasa-quarteirão: de novo com direção de Ryan Coogler, Pantera Negra (2018) arrecadou US$ 1,3 bilhão. Tão ou mais importante do que o dinheiro foi concorrer ao Oscar de melhor filme, a primeira vez de uma obra do gênero (o longa ganhou as estatuetas de direção de arte, figurino e música original, e ainda brigou por outras três categorias). Boa parte da repercussão gerada por Pantera Negra deve-se ao personagem interpretado com gana e carisma por Jordan, Killmonger, um vilão cujo discurso sobre a herança nefasta do colonialismo na África e sobre a escravidão foi capaz de sensibilizar o mocinho da trama.
O ator refletiu sobre o fardo da fama em Creed II (2018), uma rara franquia com protagonista negro. Embora não tenha provocado a mesma recepção junto à crítica, o segundo filme foi ainda melhor nas bilheterias, faturando US$ 214,5 milhões. Nos Estados Unidos, é o sexto colocado em um ranking com mais de 150 títulos sobre esporte. E Creed III já foi anunciado para 2022, marcando a estreia de Jordan na direção.
O cinema não é sua única praia. Em 2018, coproduziu e estrelou para a HBO uma nova versão de Fahrenheit 451, ficção científica do escritor Ray Bradbury sobre um futuro no qual os livros são proibidos e as opiniões próprias, condenadas. Em 2019, a Netflix lançou a série Raising Dion, com Jordan na produção executiva e no elenco coadjuvante, no papel do pai morto de um guri com superpoderes.
Ele se tornou uma figura cool, a ponto de ser convocado por Beyoncé e Jay-Z para o videoclipe de Family Feud (2018), e se aventurou no mundo fashion: fã de mangás e animes, recentemente lançou uma coleção de roupas e acessórios inspirada em Naruto. Em 2020, foi eleito pela revista norte-americana People o homem mais sexy do mundo.
Ativista contra o racismo e a favor da inclusão no mercado de trabalho, Jordan, em Luta por Justiça (2019), interpretou Bryan Stevenson, advogado norte-americano que brigou para libertar um homem negro, Walter McMillian (vivido por Jamie Foxx), injustamente condenado à morte. Está nos seus planos uma quarta parceria com o diretor Coogler. Em Wrong Answer, os dois mostrarão um outro lado daquele que é considerado o maior escândalo escolar nos Estados Unidos: o dos professores de Atlanta julgados em 2013 por falsificarem os resultados de provas dos alunos. Quanto maiores as notas, maiores eram as bonificações para os docentes. Mas, para Damany Lewis, que será encarnado pelo astro, a fraude tinha um objetivo nobre: impedir o fechamento do colégio.
Michael B. Jordan tem tanto poder em Hollywood que é capaz de mudar a cor de um herói. Muitas vezes. Depois de ele encarnar uma versão negra do Tocha Humana e do Guy Montag de Fahrenheit 451, em 30 de abril estreia no Amazon Prime Video Sem Remorso, thriller de espionagem baseado no livro homônimo (1993) do escritor best-seller Tom Clancy.
Ambientada na época da Guerra do Vietnã, a obra literária conta a origem de um personagem recorrente no universo do agente Jack Ryan: John Kelly (também conhecido como John Clark). Kelly/Clark já havia sido visto duas vezes no cinema, ambas com atores brancos: Willem Dafoe em Perigo Real e Imediato (1994) e Liev Schreiber em A Soma de Todos os Medos (2002). No filme dirigido pelo italiano Stefano Solima (das séries Suburra e Gomorra), a trama foi atualizada para os dias de hoje: John é um veterano do conflito militar na Síria, em uma missão para a CIA na Rússia.
Se o projeto com o Superman negro realmente rolar, talvez o ator enfim se sinta à vontade para conhecer um homônimo mais velho e mais famoso: Michael Jordan, 58 anos, considerado por muitos o maior jogador de basquete de todos os tempos (foi seis vezes campeão da NBA com o Chicago Bulls).
— Nunca me encontrei com Michael Jordan. Eu não quero que isso aconteça até que minha carreira esteja em tal ponto que ele saiba quem eu sou — já disse Michael Bakari Jordan, que atribui sua competitividade ao nome: — Cresci ouvindo brincadeiras por causa dele. Eu não podia ser simplesmente alguém com o nome parecido de outra pessoa: eu devo ser tão bom em minha área quanto ele é na dele.