O cacife adquirido por interpretar o super-herói Falcão em seis filmes e um seriado da Marvel permitiu a Anthony Mackie começar a acumular funções nos títulos que estrela. Zona de Combate (Outside the Wire), lançado pela Netflix em janeiro, é o terceiro longa-metragem em que o ator norte-americano de 42 anos também assina como produtor.
Mackie tinha no currículo dois ganhadores do Oscar de melhor filme — Menina de Ouro (2004) e Guerra ao Terror (2009) — quando encarnou pela primeira vez um dos raros super-heróis negros, em Capitão América: Soldado Invernal (2014). Em 19 de março, ganhará mais destaque com Falcão e o Soldado Invernal, que entra em cartaz no Disney+ logo após WandaVision.
Em Zona de Combate, o norte-americano divide a cena com o jovem inglês Damson Idris, 29 anos. A direção é do sueco Mikael Håfström, que depois de Evil: Raízes do Mal (2003), indicado ao Oscar de melhor filme internacional, nunca mais fez nada tão relevante — são dele, por exemplo, 1408 (2007), O Ritual (2011) e Rota de Fuga (2013), a primeira parceria de Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Não é com Zona de Combate que ele mudará essa sina, mas trata-se de uma obra digna, um entretenimento com algo a mais.
A história se passa em um futuro próximo, 2036. Após uma guerra civil no Leste Europeu, tropas dos EUA estão posicionadas nessa "nova fronteira sem lei", como dizem os letreiros de apresentação. A tecnologia é uma aliada fundamental para combater as forças do líder Viktor Koval: os norte-americanos dispõem de drones, de soldados robóticos — os Gumps — e até de um androide, o capitão Leo, papel de Mackie.
Idris interpreta o tenente Harp, um exímio piloto de ataques aéreos via drone que, depois de desobedecer uma ordem direta, recebe como punição trocar a segurança de sua mesa de trabalho por uma jornada pela zona de guerra. Harp vai acompanhar Leo em uma missão: encontrar e matar Koval antes que ele coloque as mãos no arsenal nuclear da Rússia.
Na sua primeira metade, Zona de Combate é um filme bastante genérico. Já vimos esse tipo de trama várias vezes, pensamos, embora aqui e ali a interação dos dois personagens seja interessante e provocadora: Leo é o robô capaz de sentir, Harp é o humano que não sente. Ambos, vale frisar, são criações do militarismo norte-americano. Qual deles melhor reflete o que o pendor para a guerra produz?
Uma virada na trama injeta uma interessante discussão política, embora remeta a alguns filmes marcantes sobre duplas contrastantes (se eu disser o título que me veio à cabeça, darei spoiler). Não é uma reviravolta tirada da cartola, ela é coerente com a história que estamos assistindo, mas talvez Håfström tenha guardado esse número por tempo demais. O importante é que, em meio a cenas de ação bem inferiores às de Resgate ou Mosul (para citar duas recentes produções do gênero pela Netflix), Zona de Combate se arrisca a condenar as intervenções militares dos EUA consideradas "cirúrgicas" — vide o orfanato povoado por crianças que perderam os pais em ataques de drones, instituição comandada por Sofiya (Emily Beecham). É Sofiya que vai jogar na cara de Harp uma verdade inconveniente: as mortes de pessoas inocentes só são tidas como "danos colaterais" se as vítimas não forem norte-americanas. E Leo, que simboliza o que há de mais avançado na indústria bélica, questiona o sentido da própria existência. Ele não se vê como uma máquina que pode levar à paz. Pelo contrário: "Sou o rosto de uma guerra sem fim".