Eu tenho uma boa e uma má notícia sobre O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, que estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas.
A boa é que o sexto filme da franquia iniciada em 1984 traz uma história nova, ou seja, o público não precisa saber muita coisa do que aconteceu nos capítulos anteriores (a saber: O Julgamento Final, de 1991, A Rebelião das Máquinas, de 2003, Salvação, de 2009 – o único sem Arnold Schwarzenegger, que na época era o governador da Califórnia –, e Gênesis, de 2015). A má notícia é que, para quem já viu um ou mais filmes da série, essa história vai parecer repetitiva.
Em Destino Sombrio, um robô de altíssima tecnologia, um Rev-9, vem do futuro para matar uma mulher, Dani Ramos, que será fundamental na luta dos humanos contra as máquinas. Também vem do futuro uma espécie de ciborgue, Grace, que tem como missão proteger o alvo do exterminador. Logo entrará na história uma terceira mulher: ela mesma, Sarah Connor, a mãe do líder da resistência.
Embora o filme seja dirigido, escrito e produzido por homens, esse protagonismo feminino empresta um verniz social e um charme contemporâneos a Destino Sombrio. E, em plena era Donald Trump, o presidente anti-imigração, existe um esboço de provocação política: Dani, a pessoa que poderá dar esperança à humanidade, é uma mexicana. Essa agenda progressista é contrabalançada pelo viés armamentista. Há uma cena em que os personagens, ao entrar em uma sala repleta de fuzis, metralhadoras e quetais, reagem como se estivessem em uma galeria de imagens sacras. Faz-se até piada sobre o assunto: entre as justificativas para a coleção, seu dono lembra aos interlocutores, com uma risadinha no canto da boca, que "estamos no Texas" – Estado que em 2019 afrouxou a legislação sobre armas, agora permitidas em escolas e casas religiosas, por exemplo, em que pesem massacres como o de El Paso, cidade na fronteira com o México onde um americano matou 22 pessoas em um hipermercado sob a alegação de que queria frear uma "invasão hispânica".
Quem lê o parágrafo anterior pode achar que um discurso político marca Destino Sombrio. Não se preocupe: o cerne é mais um jogo de gato e rato entre humanos e máquinas, pontuado pelos paradoxos das viagens no tempo e pela falta de criatividade na trama. Na sua primeira parte, até que o filme empolga, graças à ação, quase incessante, e a duas das mulheres duras na queda. Sarah marca a volta de Linda Hamilton, 63 anos, à franquia (ela fez os dois primeiros títulos – aliás, quem também está de volta, como um dos produtores e um dos roteiristas, é James Cameron, o cineasta de O Exterminador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2 — O Julgamento Final, do qual o novo segmento descende diretamente, ignorando fatos dos três subsequentes).
Grace é encarnada com muita vontade por uma atriz que jamais imaginaríamos no papel de guerreira: Mackenzie Davis, 32, que despontou em um dos episódios mais queridos de Black Mirror (e um dos raros com final mais ou menos feliz), San Junipero (2016). A interação entre as duas acaba ofuscando Dani (interpretada pela colombiana Natalia Reyes, vista recentemente em Pássaros de Verão). Ela vira um acessório, que só existe para realçar os demais personagens.
A entrada de Arnold Schwarzenegger em cena também traz uma boa e uma má notícia. Por um lado, atende às expectativas dos fãs da série, incluindo pitadas de humor metalinguístico ("Eu sou um cara engraçado", ele diz) e referências aos outros filmes (até os óculos escuros vão aparecer!). Por outro, o personagem não convence em sua versão pai de família com lições de moral.
As cenas de ação sofrem do mesmo problema do roteiro – e olha que o diretor do filme é Tim Miller, o mesmo de Deadpool (2016), que tinha sequências inventivas e eletrizantes. A certa altura, deixam de ser animadas e passam a parecer mais do mesmo. Tornam-se previsíveis (ah, é claro que o exterminador ainda não morreu, o espectador poderá falar baixinho) ou pior, sem sentido: sinceramente, se a gente pensar um pouco vai perceber que o tal de Rev-9 (vivido por Gabriel Luna, o Motoqueiro Fantasma do seriado Agents of S.H.I.E.L.D., da Marvel) já deveria ter resolvido a parada, tamanho o seu poder – o cara é capaz de se transformar em metal líquido, de se comunicar com qualquer tipo de tecnologia, de se dividir em dois e de se regenerar em segundos, mas às vezes age como se fosse um mero assassino analógico.