A segunda onda da covid-19 está aí, então é hora de praticar o distanciamento social. Aproveite as eventuais folgas de Natal e Ano-Novo para assistir àquelas séries novas para as quais você nunca tem tempo.
É o que eu vou fazer.
Separei aqui 10 séries que estrearam em 2020 ou que tiveram sua segunda temporada lançada recentemente. Estão em cartaz no Amazon Prime Video, no Disney+ e na Netflix.
Todas são relativamente curtas — vão de quatro episódios, como nas duas documentais, a 16, total dos dois seriados que já estão em seu segundo ano — e representam cinco: Brasil, Argentina, Estados Unidos, França e Japão. Algumas eu já comentei aqui, mas de outras só vi o primeiro capítulo — que foi suficiente para colocar na minha lista "para assistir assim que sobrar tempo". Se a gente se puxar, se a gente ficar em casa nas horas livres, dá para maratonar pelo menos uns quatro nesses dias que faltam até começar 2021. Vamos nessa?
4 episódios
Quarto 2806: A Acusação — A minissérie documental investiga o escândalo sexual que, em 2011, derrubou o então diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) e favorito nas pesquisas para derrotar o presidente da França, Nicolas Sarkozy, nas eleições presidenciais daquele ano. Dominique Strauss-Kahn, hoje com 71 anos, foi acusado de violentar a camareira Nafissatou Diallo no hotel Sofitel, em Nova York. O diretor Jalil Lespert é o mesmo da cinebiografia Yves Saint Laurent, de 2014. O primeiro capítulo deu mostras do quão complexo é o caso e suas ramificações, e do quão intrigante é o seu principal personagem: o quarto 2806 foi apenas a porta de entrada para um mundo em segredo. Disponível na Netflix.
Quem Matou María Marta? — Já derramei elogios sobre esta eletrizante minissérie que reconstitui um dos casos mais rumorosos da crônica policial argentina. Quanto menos você souber, melhor. Mas o próprio título já é um spoiler, pois quando o documentário começa, o viúvo, o ex-investidor da bolsa de valores Carlos Carrascosa, hoje com 75 anos, familiares e amigos de María Marta García Belsunce narram a primeira versão da morte da socióloga argentina, que participava de um programa de TV com um de seus irmãos, Horacio, e era vice-presidente da Fundación Missing Children (crianças desaparecidas): a de que ela havia sofrido uma espécie de acidente doméstico em 27 de outubro de 2002, aos 50 anos. Só que não. Disponível na Netflix.
Seis episódios
Recursos Desumanos — A presença do ex-jogador de futebol Eric Cantona como protagonista já bastou para me atrair. Nos gramados, o francês desenvolveu uma persona na qual coabitavam a genialidade, o temperamento explosivo e a defesa apaixonada dos ideais humanistas. Foi assim que perdeu a chance de disputar a Copa do Mundo de 1998, na França. É que, em 1995, quando atuava no Manchester United, o atacante foi suspenso por nove meses (o que tirou seu espaço na seleção nacional) após aplicar uma voadora em um torcedor do Crystal Palace. O motivo? Era um hooligan fascista e xenófobo. Cantona encerrou a carreira em 1997, aos 30 anos, e logo começou a atuar, como em Elizabeth (1998), indicado ao Oscar de melhor filme. Interpretou a si próprio em À Procura de Eric (2009), de Ken Loach. Recursos Desumanos é sua primeira minissérie, e o papel casa bem com a sua imagem: Alain Delambre é um homem de 57 anos desgastado e ressentido pelos quatro anos de desemprego. Ex-gerente de RH, só arranja biscates, em que seu caráter ebuliente não colabora. Até que um dia surge uma oportunidade que envolve o esquisito plano de uma multinacional para testar a lealdade do conselho diretor da empresa — vi o primeiro episódio e curti. Disponível na Netflix.
Sete episódios
O Gambito da Rainha — Se você ainda não viu uma das minisséries mais badaladas do ano (até Barack Obama, ex-presidente americano, elegeu como uma de suas favoritas), essa é a chance. É curtinha, embora pudesse ter sido enxugada para seis episódios, mas ok. O importante é que Anya Taylor-Joy, uma das atrizes mais promissoras de Hollywood, está praticamente em todas as cenas. Revelada no terror A Bruxa (2015), ela dá xeque-mate no espectador como uma órfã que se torna jogadora de xadrez nos Estados Unidos dos anos 1960. Beth Harmon tem de enfrentar mais do que grandes campeões: precisa lidar com seus próprios traumas e vícios — no caso, em remédios e em álcool. Disponível na Netflix.
Oito episódios
Alice in Borderland — Vem do Japão um seriado que estou louco para retomar. Vimos o primeiro episódio em família — só no segundo nos demos conta de que a classificação indicativa é 18 anos! A trama é baseada no mangá homônimo de Haro Aso. Pelo menos na estreia, o personagem principal não é uma Alice, mas um Arisu, um jovem que largou a faculdade, nunca trabalhou e passa os dias jogando videogame. Seus dois melhores amigos são Chota, que odeia o emprego em um escritório, e Karube, um bartender demitido por ser flagrado aos beijos com a esposa do patrão. Certo dia, os três deparam com uma Tóquio absolutamente deserta e logo descobrem que estão presos a um jogo de vida ou morte. Tem um quê de Jogos Vorazes, um quê de Jogos Mortais, um quê de Nerve: Um Jogo Sem Regras e um quê de Vidas em Jogo. Viciante. Disponível na Netflix.
Bom Dia, Verônica — Sucesso de audiência (o que garantiu uma segunda temporada em 2021), a série brasileira surgiu em momento oportuno: dados divulgados em junho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) destacam que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 Estados. Bom Dia, Verônica tem como tema, justamente, a violência contra a mulher. A protagonista é uma escrivã da polícia de São Paulo, personagem interpretada pela gaúcha Tainá Müller, que investiga os golpes humilhantes aplicados por um sujeito por meio de um site de relacionamentos. Paralelamente, acompanhamos uma trama ainda mais pesada: a do casal Cláudio e Janete, em desempenhos extraordinários de Eduardo Moscovis e Camila Morgado. Disponível na Netflix.
10 episódios
O Preço da Perfeição — Talvez seja ruim (no Rotten Tomatoes, tem 45% de aprovação), mas me chamou atenção por alguns motivos. Primeiro, porque estava no top 3 da Netflix. Segundo: o mundo do balé tem doses de sacrifício e competitividade (talvez também inveja e crueldade) que podem render grandes conflitos dramáticos — e a série já foi apelidada de uma versão adolescente do filme Cisne Negro (2010), que valeu a Natalie Portman o Oscar de melhor atriz. Terceiro: a diversidade no elenco de personagens, a começar pela protagonista, uma bailarina negra (Kylie Jefferson, dançarina contemporânea) que é aceita em uma prestigiada escola após surgir uma vaga de forma trágica, como vemos na cena de abertura. Disponível na Netflix.
The Wilds: Vidas Selvagens — Criada por Sarah Streicher e com seis episódios dirigidos por mulheres, esta série me capturou desde os primeiros instantes. Assim como O Preço da Perfeição em relação a Cisne Negro, The Wilds pode causar um déjà vu em quem já assistiu a Lost. Parece uma versão adolescente do cultuado seriado exibido entre 2004 e 2010: há um desastre de avião, e flashbacks contam as histórias das nove garotas de personalidades bem distintas (tem a patricinha, tem uma descendente de indígenas, tem uma atleta dos saltos sincronizados...) que vão parar em uma ilha desabitada, sem saber exatamente o que aconteceu. "Mas o verdadeiro pesadelo", diz uma das personagens, aspirante a escritora, "é ser uma adolescente nos Estados Unidos". Certo que vou ver no feriadão. Disponível no Amazon Prime Video.
16 episódios
The Boys — Esta é outra série elogiada por Obama, aliás, foi um dos programas citados pelo ex-ocupante da Casa Branca como fontes de inspiração (ou no mínimo relaxamento) para escrever seu novo livro de memórias, Uma Terra Prometida. "Watchmen e The Boys transformaram as convenções de super-heróis e trouxeram à tona questões sobre raça, capitalismo e os efeitos distorcidos do poder corporativo e da mídia", declarou ao site Entertainment Weekly (se quiser saber mais sobre os dois seriados, clique nos links acima). As duas primeiras temporadas estão disponíveis no Amazon Prime Video.
The Mandalorian — Taí, chegou a hora de eu conhecer o novo fenômeno do universo Star Wars. Criado por Jon Favreau, o diretor de Homem de Ferro (2008), ponto de partida da franquia cinematográfica da Marvel, e do remake de O Rei Leão (2019), The Mandalorian é definido como um faroeste interplanetário. A trama se passa entre dois filmes, os episódios VI e VII, O Retorno de Jedi (1983) e O Despertar da Força (2015). O mandaloriano do título é um dos implacáveis soldados dessa etnia, Din Djarin, o Mando (interpretado por Pedro Pascal, o Oberyn Martell de Game of Thrones), um solitário caçador de recompensas. Um dos destaques da série é o chamado Baby Yoda. Li por cima, para evitar spoiler, que o último episódio da segunda temporada, lançado na sexta-feira passada (18), trouxe uma surpresa comovente para os fãs de Star Wars. Disponível no Disney+.