Responsável por revigorar o universo de Star Wars, a série The Mandalorian terá seus dois primeiros episódios exibidos nesta segunda-feira (16), na Tela Quente, na RBS TV, às 22h45min. Já na terça (17), a primeira temporada completa e mais três episódios da segunda fase estarão disponíveis no Disney+, marcando a estreia da plataforma de streaming no Brasil.
Ao ser apresentada, em novembro de 2019, The Mandalorian representou uma dos maiores surpresas da cultura pop no ano passado. No final do primeiro episódio, os espectadores conheceram uma criaturinha verde bastante familiar. Sem nome definido (chamado de The Child/A Criança), o personagem foi batizado de Baby Yoda pelo público por ser, supostamente, da mesma raça do velho mestre jedi que aparece em cinco filmes da saga clássica.
Antes da estreia, Baby Yoda não apareceu em nenhum trailer ou imagem de divulgação da série. Foi uma arma secreta da Disney, apresentada à audiência no mesmo instante em que o personagem surge em cena: um bebê verde – de 50 anos, é verdade – com olhos inocentes e orelhas pontudas. O Yodinha tornou-se um fenômeno instantâneo.
Diante da fofura propiciada pela versão miniatura de um personagem tão querido da franquia Star Wars, Baby Yoda inspirou memes e aumentou anda mais o faturamento da Disney, estampando diferentes produtos licenciados. Já entrou na galeria de mascotes da companhia. É um potencial Mickey Mouse da geração alfa (crianças nascidas a partir de 2010).
Mas The Mandalorian não se resume às gracinhas do carismático Baby Yoda. Aliás, ele sequer fala. O protagonista que dá título à série é o Mandaloriano, gentílico para o povo do planeta Mandalore. Ele pode ser chamado de Mando também. No decorrer da primeira temporada, descobrimos que seu nome verdadeiro é Din Djarin.
Mando é um habilidoso caçador de recompensas, que segue códigos de seu clã, como o uso contínuo da armadura. A voz e a interpretação do protagonista sem o capacete é de Pedro Pascal (Narcos e Game of Thrones). Em ação, Mando é interpretado por dois dublês, Brendan Wayne (neto de John Wayne, lenda do faroeste) e Lateef Crowder.
The Mandalorian se passa cinco anos após o filme O Retorno de Jedi, sexto episódio da saga clássica, após a queda do Império Galáctico. Nesse período, ainda há remanescentes do antigo governo espalhados pela galáxia. Um deles é o Cliente, interpretado pelo renomado cineasta alemão Werner Herzog.
Mando recebe do Cliente a missão de capturar uma criança. Porém, o mercenário se afeiçoa ao bebê. É uma criaturinha instigante e poderosa, que consegue controlar a Força. Mando passa a proteger a Criança em um primeiro momento e, no decorrer da trama, a procurar pelo planeta natal dela.Os dois constroem uma relação de pai e filho, o que leva a um dos principais subtextos da série: a paternidade.
Ao longo dos episódios, Mando obtém aliados como Cara Dune (Gina Carano), o robô IG-11 (voz do diretor e ator Taika Waititi), Kuiil (voz de Nick Nolte) e Greef Karga (Carl Weathers) e colecionar inimigos – além de Cliente, também Moff Gideon (Giancarlo Esposito, o vilão Gus Fring de Breaking Bad).
Faroeste espacial
Até o momento, The Mandalorian conta com duas temporadas de oito episódios cada, com duração entre 30 e 50 minutos. A segunda temporada acumula três capítulos até aqui: os episódios semanais são lançados nas sextas-feiras pelo Disney+.
A série foi criada por Jon Favreau (diretor dos dois primeiros filmes do Homem de Ferro e do novo Rei Leão), que também é showrunner e principal roteirista da maioria dos episódios. É dele a direção do elogiado capítulo de estreia da segunda temporada, intitulado O Xerife.
Aliás, os episódios da série já foram comandados por nomes que anteriormente trabalharam com o universo Marvel, como Debora Chow (Jessica Jones), Peyton Reed (Homem-Formiga) e Taika Waititi (Thor: Ragnarok). Também está no time Dave Filoni, responsável por três episódios, além integrar o time de roteiristas e ser um dos produtores executivos. Ele nunca assinou produções da Marvel, mas sobra em experiência com o universo de Star Wars — Filoni foi o diretor do filme animado Star Wars: A Guerra dos Clones e, posteriormente, da série animada de sete temporadas. Supervisionou e produziu ainda a série animada Star Wars Rebels, todas essas atrações bem quistas pelos fãs da franquia.
The Mandalorian absorve para sua trama muitos elementos do chamado Universo Expandido – as histórias contadas em livros, quadrinhos, games e séries que não integram o cânone oficial –, resgatando personagens e elementos dessas narrativas. Também há referências aos seis primeiros filmes, um pequeno aceno para o fã de longa data. Só que não é um "fan service" gratuito: a série se agrega organicamente ao universo criado por George Lucas (aprende, J.J. Abrams). Tanto que a sensação de estar vendo algum episódio da trilogia clássica (episódios 4,5 e 6) é constante. Entre criaturas exóticas, naves e tiros, o fã pode repetir várias vezes: "Isso sim é Star Wars".
Por outro lado, não é necessário conhecimento prévio da mitologia da saga para assistir a The Mandalorian. Até quem nunca viu a um filme de Star Wars pode se engajar. A atração traz uma estrutura pronta para o espectador casual: é episódica. Embora haja uma narrativa principal que vai se desenvolvendo ao longo da temporada (em especial, o destino de Baby Yoda), cada episódio de The Mandalorian traz uma aventura independente: é um planeta novo, é um monstro a ser superado, uma missão para Mando cumprir.
Um dos maiores méritos de Mandalorian é apresentar algo que a última trilogia (episódios 7, 8 e 9 não conseguiu: uma história simples e bem amarrada, que respeita a inteligência do espectador. É uma aventura gostosa para ser consumida. É ficção científica com nuances de faroeste, o que se reflete em enquadramentos e sequências referenciais a clássicos do gênero. É possível encontrar ecos da Trilogia dos Dólares, de Sergio Leone. O próprio Mando é um sucessor espiritual do pistoleiro sem nome interpretado por Clint Eastwood: bom de briga, independente e, em um primeiro momento, com uma moral ambígua.
Há dois episódios que bebem da premissa de Os Sete Samurais (1954), de Akira Kurosawa, que foi refilmado no faroeste Sete Homens e Um Destino (1960). Também é possível enxergar obras de outras gêneros na série, como o terror Aracnofobia (1990) no episódio A Passageira.
Combinando efeitos cenográficos e computação gráfica, a série traz cenários complexos (seja em deserto, na neve ou no pântano) e criaturas bem detalhadas. Com tanto capricho na estética e nos efeitos especiais, The Mandalorian não se parece com uma produção para a TV: podia estar no cinema. Porque. com exceção do spin-off Rogue One, uma produção competente, fica a sensação de que os últimos filmes da franquia poderiam ter utilizado a mesma fórmula certeira da série: revolucionar sem sair da zona de conforto.
Para os fãs
Sucesso de crítica, acumulando 91% de aprovação no site Rotten Tomatoes, The Mandalorian é bastante celebrada entre fãs da saga. As reações têm sido ainda mais positivas para os episódios da segunda temporada, que traz a adição de mais elementos do chamado universo expandido.
Fabiano Bonfiglio, presidente do fã-clube Conselho Jedi RS, destaca que a série aborda um período que sempre povoou o pensamento dos fãs: os acontecimentos logo após o episódio VI.
— A série vem ainda fechando alguns arcos que ficaram em aberto anteriormente e dá continuidade a histórias contadas em livros e até nas séries animadas Rebels e Clone Wars, mas com o diferencial de ser um entretenimento que não te obriga a conhecer esse passado. É com certeza uma série com várias camadas, que agrada desde o espectador casual até o fã de carteirinha, que não perde um detalhe — destaca.
O Youtuber Caique Izoton, que costuma analisar a franquia com profundidade em seu canal com 135 mil inscritos, aponta que The Mandalorian apresenta novas histórias sobre os elementos clássicos da saga.
— As narrativas de Star Wars sempre enfatizaram a vastidão da galáxia na qual a saga se passa, então ter uma série focada num protagonista que não é diretamente relacionado aos nove filmes principais da franquia, a saga Skywalker, traz um ponto de vista totalmente novo sobre esse universo que tanto gostamos — explica.
Izoton sublinha que a série vai ao encontro a uma velha temática da franquia:
— No passado, George Lucas declarou que a história de Star Wars não era sobre naves espaciais, mas sim sobre conflitos entre pais e filhos, e The Mandalorian honra essas raízes ao fazer seu protagonista, o Mandaloriano, descobrir a mesma compaixão paternal que Luke Skywalker enxergou em Darth Vader.