“Faça ou não faça. Tentativa não há”, ensina Mestre Yoda a um cético Luke Skywalker, na trilogia original de Star Wars. E Jon Favreau, que assina a criação de The Mandalorian — a primeira série live-action ambientada nas galáxias de George Lucas —, decidiu fazer. Deu certo, e ele alcançou um sucesso com o público e a crítica que quase nenhum outro derivado deste universo conseguiu, graças, em boa parte, ao encantamento gerado por uma criaturinha de orelhas pontudas e olhos pidões.
Carinhosamente apelidado de Baby Yoda, a Criança (como é oficialmente intitulada na série) será apresentada ao público brasileiro na próxima segunda-feira (16), quando os dois primeiros episódios de The Mandalorian serão exibidos pela RBS TV, na faixa das 22h. Depois disso, o restante da primeira temporada estará disponível na Disney+, nova plataforma de streaming que estreia na América Latina em 17 de novembro. A segunda temporada está em andamento, com episódios semanais, às sextas.
O bebê, no entanto, não é o jovem Yoda, uma vez que a série é ambientada no período entre os episódios seis e sete, O Retorno do Jedi e O Despertar da Força, depois da morte do personagem original. Da mesma espécie do mestre Jedi, o bebê tem "apenas" 50 anos e sua origem é desconhecida até o momento. Ele entra por acaso na vida de um caçador de recompensas mandaloriano, cuja produção acompanha em suas missões pelo espaço, e eventualmente se torna o seu protegido.
Fenômeno
Mesmo antes da introdução formal, Baby Yoda já tem a Força ao seu lado no país. Canecas, bonés, camisetas, action figure e outros produtos do personagem são encontrados em qualquer loja de departamento, enquanto memes e figurinhas incontáveis se alastraram nas redes sociais.
É um fenômeno mundial, a tal ponto que no lançamento da segunda temporada, em 30 de outubro, fãs puderem transformar seus likes no Twitter em ícones de Baby Yoda. Em lojas de aplicativos, pacotes de stickers do personagem para o WhatsApp contam com mais de 50 mil downloads.
Não à toa, ao ser eleito o empresário do ano de 2019 pela revista Time, o presidente e CEO da The Walt Disney Company Bob Iger foi ilustrado segurando Baby Yoda — comparado, no texto, ao próprio Mickey Mouse.
Mas qual a gênese de tanto amor? Há pelo menos três razões para o sucesso do jovem Yoda.
Surpresa
Era um cenário muito diferente, em novembro de 2019, quando The Mandalorian finalmente foi lançado nos Estados Unidos, junto à estreia da Disney+. As expectativas giravam todas em torno do mandaloriano, interpretado por Pedro Pascal, e suas desventuras em um "western futurista intergaláctico". Nenhuma imagem ou fala sobre Baby Yoda foi dita antes da estreia.
A decisão foi de Iger, que contou a Time nunca ter duvidado do futuro do personagem: “Assim que aquelas orelhas surgiram de debaixo do cobertor e aqueles olhos, eu soube”. E o poder da revelação, feita ao final do Capítulo 1 de The Mandalorian, era tão potente que ele decidiu que nenhum merchandising deveria estragá-la.
Assim, o primeiro episódio da série dominou a internet por dias. "A Arma secreta de The Mandalorian é um fofo clássico de Star Wars", publicou a Vanity Fair; "Talvez Mandalorian devesse ser apenas sobre Baby Yoda", escreveu a Vulture; "Vamos falar sobre aquela reviravolta no final de Mandalorian", compartilhou a Time.
Ao mesmo tempo, viralizavam as reações de fãs descobrindo o novo personagem. Afinal, quem já havia imaginado como Mestre Yoda seria aos 50 anos?
Nostalgia
Yoda não foi apenas um personagem famoso de Star Wars, mas um ícone visual da saga, ao lado de Darth Vader, o penteado de Leia e sabres de luz. Criado há 40 anos, no Episódio V: O Império Contra-Ataca (1980), o Mestre Jedi verde, de cabelos brancos e uma gramática embaralhada, apresentou o público à filosofia da Força, ao mesmo tempo que bateu com sua bengala em Luke, de formas que cativam o público até hoje.
Esta capacidade de ser instantaneamente reconhecido como Star Wars não passou desapercebida pela Disney, que há anos aposta na nostalgia como estratégia comercial —vide o número de remakes e versões live-action que chegaram aos cinemas na última década. Yoda é o tipo de personagem que atravessa gerações, e nada é mais natural que os fãs se interessarem por sua origem e sua espécie.
Apesar de ganhar a simpatia do público graças à ligação emocional, Favreau conseguiu escapar da armadilha de trazer o próprio Yoda para dentro de sua produção — evitando, por exemplo, irritar fãs com uma descaracterização do personagem original (uma lição que a Disney deve ter aprendido com o fracasso de Solo).
Como a série é ambientada alguns anos depois de O Retorno do Jedi, inclusive, não há chance de ser o mesmo personagem. Já o debate sobre a criança ser um clone do Mestre Jedi continua aberto.
Fofura
Dito tudo isso, o motivo mais óbvio para o sucesso de Baby Yoda é simples: ele é fofo. Até no Rotten Tomatoes, em que a produção mantém 93% de aprovação dos críticos e do público, é sentenciado: "The Mandalorian é uma adição bem-vinda ao universo de Star Wars que se beneficia muito da fofura de sua carga."
Há uma explicação científica para o fenômeno: características infantis como olhos grandes e bochechas salientes evocam uma reação universal e biológica em humanos de nurturing, ou seja, de cuidado e afeto. O psicólogo John Archer, da University of Central Lancashire, por exemplo, já publicou diversos artigos mostrando como reagimos positivamente a esse tipo de expressão em animais domésticos, como cães e gatos.
É o tipo de instinto que foi necessário para perpetuar a espécie, cientistas especulam, uma vez que bebês humanos necessitam de muitos cuidados para sobreviver; o efeito colateral, é claro, é que somos suscetíveis aos encantos de qualquer tipo de filhote alienígena. Mesmo os verdes de orelhas pontudas.