Alguma coisa estava errada ao final da sessão da pré-estreia de Star Wars: A Ascensão Skywalker que a reportagem de GaúchaZH acompanhou nas primeiras horas desta quinta-feira (19). No cinema, estavam presentes fãs da saga devidamente fantasiados de jedis, stormtroopers, entre outros personagens, ou que simplesmente vestiam uma camiseta da franquia. Eram crianças, jovens, adultos – inclusive, alguns beirando os 50 anos. Quando foi encerrada a exibição do nono filme da série iniciada com Guerra nas Estrelas, em 1977, um silêncio tomou conta da sala por alguns segundos, mas logo irromperam alguns suspiros impacientes.
É comum as plateias de cinema reagirem com histeria e vibração em cenas impactantes dos blockbusters – Vingadores: Ultimato que o diga. Porém, não houve catarse na sessão do aguardado A Ascensão Skywalker, que a reportagem acompanhou entre fãs "hardcore". A reação mais exacerbada ao longo dos 142 minutos de filme foi de embaraço e negação: em uma sequência de romance canhestra, houve quem soltasse comentários de "eu não acredito", "ah, não" e "que viagem". Também se ouviu umas onomatopeias (como "Bah!") durante uma revelação, mas nada que ressoasse. Afinal, o que houve com o nono filme de Star Wars para ser recebido com apatia?
Em A Ascensão Skywalker, volta ao comando o diretor J.J. Abrams – criador da série Lost. Ele já havia dirigido o primeiro longa desta terceira trilogia produzida pela Disney (a empresa adquiriu os direitos da franquia em 2012), O Despertar da Força (2015), no qual chamou a atenção pelo uso de fan service (cenas programadas para agradar os fãs de longa data). Neste nono filme, Abrams pesou ainda mais a mão nas sequências que acenam à nostalgia e no desenrolar da trama ao gosto dos aficionados. Tal qual um time pequeno buscando um empate fora de casa contra um clube grande, Abrams se mostra um retranqueiro.
O cineasta ignorou muito do que foi realizado em Os Últimos Jedi (2017), dirigido por Rian Johnson. Embora tivesse uma direção ousada e trouxesse um frescor ao universo criado por George Lucas há 42 anos, o longa de Johnson teve um recebimento misto pelos fãs. Talvez Abrams tentasse consertar ou anular aquilo que desagradou o público no oitavo longa da saga. Por exemplo, se em Os Últimos Jedi Luke Skywalker (Mark Hamill) pregava o fim da heroica ordem, em A Ascensão Skywalker ele diz que Rey (Daisy Ridley) deve manter o legado jedi. O filme de Johnson tentou apagar a individualização do uso da Força, o poder focado em um só personagem – no caso, todos os seres seriam integrados à Força. Já o longa de Abrams centraliza a Força em uma díade. Entre uma sequência e outra de Star Wars, a coerência foi varrida para debaixo do tapete.
Como videoclipe
Evitando spoilers, pode-se se dizer que A Ascensão Skywalker é centrada em Rey (Daisy Ridley) , uma jovem Jedi em treinamento com a general Leia (Carrie Fisher). Carrie morreu em 2016 e suas aparições no longa são reaproveitamento de cenas dos filmes anteriores. Como um stalker, o filho de Leia, Kylo Ren (Adam Driver), persegue obsessivamente Rey com a intenção de levá-la para o lado sombrio da Força. Ou quem sabe levá-la para dividir as escovas de dente. Provavelmente, as duas opções. De qualquer maneira, o relacionamento entre os dois é abusivo... com o público. São um bom entretenimento em suas cenas de luta, mas os diálogos entre Rey e Ren cansam.
Abrams traz de volta o vilão sith Palpatine (Ian McDiarmid), que pretende acabar com a última jedi e promover seu império de terror em todo o universo. Rey decide procurar Palpatine para enfrentá-lo, ao mesmo tempo em que passa por incertezas quanto a sua verdadeira identidade. Paralelamente, a brava turma da Resistência batalha contra a Primeira Ordem (que torna-se a Última Ordem), em meios a várias presepadas correndo atrás de Rey: o piloto Poe Dameron (Oscar Isaac), o falante C-3PO (Anthony Daniels), o carismático Chewbacca (Joonas Suotamo) e o apaixonado Finn (John Boyega).
Talvez o meme "sem tempo irmão" seja um bom resumo da narrativa frenética de A Ascensão Skywalker. Parece que o longa foi rodado na velocidade cinco, com cortes bruscos de uma cena para a outra, parecendo um videoclipe musical. Melhor: um clipe de música eletrônica. Poderia ser rodado ao som de Sandstorm, de Darude. Não há contemplação, nem tempo para digerir alguma mensagem: é tiro, é luta, é nave explodindo, é alguém fugindo. É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Há muita pressa para resolver tudo em A Ascensão Skywalker, porém essa velocidade carece de ritmo.
Contudo, A Ascensão Skywalker deve ser o filme da saga com mais cenas de ação. Além das perseguições, há grandes batalhas de sabre de luz aqui, excelentemente coreografadas. Também há muita diversão, com bons alívios cômicos. Abrams executa bem seu papel de jogar para a galera, trazendo velhos rostos de volta (mesmo que na função de "fantasminha camarada") e dando um oi para o passado. É cumpridor ao amarrar as pontas soltas na história, trazendo uma surpresa ou outra.
Só que Abrams força a amizade em muitas cenas, beirando o risível e o kitsch. Há um romance que surge em A Ascensão Skywalker que é de fazer o espectador corar de vergonha na cadeira. "Eu não acredito". Ao final da sessão que a reportagem acompanhou, os comentários do público não eram dos mais favoráveis. Um dizia: "Bah, forçaram". Outro se limitava a resumir: "Que filme estranho".