Com a experiência de quem estava no comando do Ministério da Saúde quando começou a pandemia e tomou as primeiras medidas para ampliar a oferta de leitos no Brasil, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta fez um alerta aos gaúchos em entrevista de 43 minutos à coluna:
— Se vocês continuarem com restrições leves, com o número de casos crescendo em ritmo acelerado, correm o risco de estender a crise até abril, maio, com um número absurdo de mortes.
Se pudesse dar um conselho ao governador Eduardo Leite, Mandetta recomendaria um lockdown radical, diante do colapso do sistema hospitalar. Lembra que o risco do afrouxamento de restrições é o número de mortes continuar subindo ao longo de todo o mês de março, estacionar num platô elevado em abril e só começar a cair a partir de maio, o que seria trágico para a vida e para a economia.
O ex-ministro usa o exemplo de Portugal, um país do tamanho do Rio Grande do Sul, que relaxou nas medidas restritivas no final do ano, perdeu o controle no início de janeiro, adotou um lockdown rigoroso, combinado com a vacinação dos mais vulneráveis, e conseguiu derrubar os índices de contaminação e de mortes.
Para o ex-ministro, a explosão de casos no Brasil não é culpa, apenas, da disseminação da variante de Manaus. Mandetta diz que o maior problema foi o relaxamento das medidas de contenção, por uma combinação entre as promessas de campanha dos candidatos, a postura dos prefeitos que tomaram posse em janeiro, as férias de verão e as festas.
— A situação de colapso exige do Rio Grande do Sul um comportamento maduro nas próximas duas semanas. Se puder economizar 5 mil, 10 mil vidas, valerá o sacrifício de paralisar as atividades econômicas por um período, ate porque, se a agonia se prolongar, será péssimo para a economia — opina o ex-ministro.
Mandetta teme que o colapso se estenda para todo o país:
— Se não frear agora, nos próximos 15 ou 20 dias teremos uma catástrofe nacional, com o colapso no sistema de saúde de vários Estados, incluindo Rio e São Paulo, com mais de 20 milhões de habitantes. Falta uma política nacional de enfrentamento à pandemia.
O homem que há um ano preparava o país para a pandemia, com alertas que eram chamados de terrorismo entre os seguidores de Jair Bolsonaro, culpa o presidente pelas mais de 260 mil mortes, lembrando que ele sempre boicotou medidas como o uso de máscaras, as restrições de circulação e o distanciamento social, não apostou na vacina e fez propaganda de remédios que não funcionam.
— Enquanto tivermos uma liderança tóxica no Planalto, pode colocar o Nobel de Medicina no Ministério da Saúde que não vai funcionar. Ele acha que o povo é descartável, que a morte de idosos não importa. Bolsonaro divide o país, divide os empresários com essa campanha contra as restrições e o resultado é a tragédia que estamos vendo.
O ex-ministro considera legítima a reclamação dos empresários que querem trabalhar, mas diz que a abertura das atividades, em meio ao crescimento exponencial de casos e mortes, com o sistema hospitalar em colapso, não salva a economia. Sugere que o governo socorra as empresas enquanto restringe a circulação, para que a retomada se dê de forma segura.
Mandetta discorda dos adversários que atribuem o comportamento de Bolsonaro a algum distúrbio mental:
— Dizer que ele é psicopata ou esquizofrênico ofende as pessoas que têm alguma doença mental. Doente tem tratamento. Ele faz tudo de caso pensado, na lógica de dividir para conquistar. Já mostrou que não tem competência para gerir a saúde nesta crise aguda, imagine quando emergir o monstro da lagoa, com uma combinação de crise social, econômica e institucional.
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