Pressionado pelos governadores e prefeitos, o governo do presidente Jair Bolsonaro reagiu e o Ministério da Saúde anunciou a compra de vacinas da Pfizer e da Janssen. Trata-se de uma excelente notícia, se os contratos forem de fato assinados e o programa nacional de vacinação deslanchar neste primeiro semestre. Como estão escaldados pelas idas e vindas do governo federal no enfrentamento à pandemia, prefeitos e governadores que planejavam compras diretas não devem se desmobilizar até ter certeza de as doses virão.
Ao mesmo tempo em que comemora a possibilidade de o Brasil receber vacinas de mais dois laboratórios, o governador Eduardo Leite mantém a cautela:
— De parte do Rio Grande do Sul, o anúncio não nos desmobiliza. Vamos continuar buscando frentes que nos permitam antecipar a vacinação. Saudamos a disposição do Ministério da Saúde de fazer as aquisições, mas aguardamos a confirmação dessa compra e, principalmente o cronograma.
Leite diz que, se as vacinas só vierem no segundo semestre, será tarde diante do colapso dos hospitais e do crescimento no número de mortes:
— Mais do que comprar vacinas, precisamos de um cronograma que garanta a antecipação da imunização. Infelizmente, temos tido constantes frustrações com o Ministério da Saúde, o que nos deixa ansiosos e nos incomoda.
Pela manhã, Leite postou uma mensagem no grupo de governadores, sugerindo um esforço diplomático para conseguir mais vacinas. Diz o texto: “Meus caros, o mundo está assustado com a nova variante brasileira do coronavírus. Não seria o momento para que houvesse um esforço diplomático para o Brasil conseguir vacinas emergenciais com outros países? Podemos tentar um movimento para cobrar do Planalto-Itamaraty uma articulação para doses emergenciais, talvez com apoio na OMS? Todos estamos buscando frentes para aquisição de vacinas e esbarramos na falta de disponibilidade no mercado. Vamos precisar articulação para buscar antecipar entregas e isso demandará esforço diplomático.”
Como até aqui o Itamaraty atrapalhou as negociações para a compra do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), insumo necessário à fabricação das vacinas, retardando o início da produção no Brasil, o apelo tende a funcionar como mais um instrumento de pressão sobre o governo federal, que agiu movido por dois motores: a política e a economia.
No campo político, o presidente percebeu que corria o risco de ser atropelado pelos governadores, com quem disputa protagonismo e entre os quais poderá estar o adversário de 2022. Dois fatos tornam esse risco real: o projeto aprovado pelo Congresso e a decisão do Supremo Tribunal Federal que autoriza Estados e municípios a comprarem vacinas, se falhar o plano do Ministério da Saúde.
No campo econômico, a pressão vem do próprio ministro Paulo Guedes, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e dos empresários que clamam pela vacina como caminho único para a retomada das atividades econômicas. O tombo do PIB em 2020, que tirou o Brasil da lista das 10 maiores economias do mundo, foi mais um motivo para o governo tentar recuperar o tempo perdido com a vacilação nas encomendas de vacinas.
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