O Brasil deixou de fazer a sua parte, em especial o governo federal, quanto à obtenção de doses da vacina contra o coronavírus que poderia auxiliar no processo de proteção da população em meio à pandemia. A avaliação foi feita pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, em entrevista nesta segunda-feira (22) ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
Mandetta elencou uma série de situações em que o governo errou quando poderia ter adquirido doses do imunizante para vacinar sua população.
— O Brasil fez um erro muito primário, quase que infantil. Nenhum laboratório do mundo tem condições de produzir 100% das vacinas que o Brasil precisa e entregá-las de uma vez só. São processos. Em agosto, setembro, o Brasil teve três chances que jogou pela janela — avaliou.
Confira as situações, a partir do depoimento do ex-ministro da Saúde à Rádio Gaúcha. Em tempo: Mandetta deixou o governo Bolsonaro por divergências quanto ao isolamento social e medidas de proteção, como o uso da máscara.
— A primeira [chance de adquirir vacinas], era o consórcio mundial. O Brasil podia ter pedido 50% das doses que seriam entregues. Primeiro, o Brasil falou que não ia participar de um esforço mundial coordenado por 890 países.
— Depois, [o governo brasileiro] falou que ia pedir só a cota mínimia, 10% [das vacinas].
— Depois o Brasil não negociou com a Pfizer, com a Jansen, com a Moderna. Todos laboratórios que mostravam que estavam perto da solução e estavam começando a fazer as negociações com países. Achou o Brasil que era uma corrida entre Fiocruz, governo federal, e Coronavac, governo de São Paulo. Eles limitaram a isso. Na verdade, chegou primeiro a Coronavac, mas se fosse a Fiocruz o resultado teria sido o mesmo. Porque nós vamos vacinar muito lentamente. Nós estamos andando de charrete e o vírus tá andando de Ferrari. A velocidade com que o vírus espalha é muito maior do que a gente consegue vacinar.
Ouça a entrevista
Para Mandetta, também houve erro na execução de políticas públicas relacionadas ao agravamento da pandemia em Manaus, no Amazonas:
— Manaus foi uma prévia do que pode acontecer Brasil afora. Erraram quando começaram a tirar paciente sem biosegurança, sem um plano. E estimularam indiretamente que a população de Manaus saísse de lá, ela foi onde podia, foi onde tinha parente, onde tinha uma condição mínima, porque lá faltou oxigência que é uma coisa básica — completou.
Para o ex-ministro, a condução do Ministério da Saúde em relação à pandemia apresentou uma "sucessão de erros". Ele afirma que a a ausência de um plano claro para compra e aplicação de vacinas vai custar caro para o país.
— Caro para a economia, para o comércio, para a cultura, para o lazer, para as empresas e principalmente para as pessoas dos grupos com maior risco. Eu fico extremamente sensibilizados pelas pessoas de 80, de 82 anos, pelas pessoas que tão vendo amigos, parentes, seu círculo, todo mundo tem alguém ou amigo, ou mãe, ou tia, que conhece alguém que morreu. Estamos batendo 250 mil mortes, com viés de alta. Por esses erros mesquinhos, pela falta de visão, falta de conhecimento, a vacinação vai mal. Não tem dose [de vacina suficiente]. Você tem um avião, tá cheio de passageiros e o piloto esqueceu de abastecer o avião — sentenciou.