Falta pouco mais de um ano para as convenções que escolherão os candidatos à eleição de 2020, mas em Porto Alegre as articulações já começaram e dominam as conversas de bastidores. Apesar de o prefeito Nelson Marchezan governar com oito partidos na base, os maiores já se movimentam para disputar em faixa própria, preocupados com a possibilidade de encolher as bancadas na Câmara se não tiverem uma vitrine para divulgar seu número, já que as coligações para o Legislativo estarão proibidas.
O prefeito, que no início do mandato brincava que podiam interná-lo se concorresse à reeleição, já mudou o discurso. Diz que nunca descartou – nem pleiteou – um segundo mandato, mas dá indícios de que está, sim, disposto a ser candidato, apesar de reclamar da sobrecarga de trabalho e das dificuldades de gerir uma cidade em crise. Com a aprovação da nova planta do IPTU, que significará aumento da receita a partir de 2020, as dificuldades financeiras devem diminuir no ano eleitoral.
Partido do vice-prefeito Gustavo Paim, o PP, que renovou sua direção municipal no fim de semana passado, expressou o desejo de ter candidato. Ao entregar a presidência ao vereador João Carlos Nedel, Kevin Krieger sugeriu que, em um gesto de reciprocidade ao apoio do PP a Marchezan em 2016 e ao governador Eduardo Leite em 2018, o PSDB aceite ser o coadjuvante. Propôs que o candidato seja escolhido em prévia entre o próprio Paim e os vereadores Mônica Leal e Ricardo Gomes.
Outro aliado de peso do PSDB na prefeitura e no Piratini, o PTB também ensaia um voo solo, tendo o deputado federal Maurício Dziedricki como seu representante na disputa municipal. Dziedricki concorreu em 2016 e ficou em quatro lugar.
Aliado de Marchezan desde janeiro deste ano, o MDB perdeu as condições para ser o opositor natural do prefeito, mas não deve abrir mão de disputar a prefeitura. O candidato natural, segundo o presidente Antenor Ferrari, é o deputado Sebastião Melo, que chegou ao segundo turno em 2016. Nos bastidores, o partido trabalha com outras possibilidade e o próprio Melo diz que é cedo para falar da sucessão.
— O quadro só deve começar a tomar forma daqui a um ano — desconversa, lembrando que não indicou ninguém para os governos de Marchezan e de Eduardo Leite.
Outros dois nomes citados como opção pelo MDB, os vereadores Valter Nagelstein e Nádia Gerhard, têm obstáculos a superar. Ele, a dificuldade de relacionamento. Ela, o fato de ser secretária no governo de Marchezan e de ter feito declarações polêmicas sobre moradores de rua.
Como o ex-secretário da Segurança Pública Cezar Schirmer transferiu o título eleitoral de Santa Maria para Porto Alegre, surgiram especulações de que seria uma carta na manga do MDB para concorrer a prefeito da Capital, se as outras opções se mostrarem inviáveis. Schirmer nega. Diz que seu foco, no momento, é voltar à advocacia e preparar a abertura de uma empresa de consultoria em segurança, voltada para o mercado corporativo, em sociedade com o jornalista Cleber Benvegnú e o coronel reformado Éverton Oltramari.
— Fixei residência em Porto Alegre, onde estão minha mulher, minhas filhas e neta. Estou transferindo meu título por razões familiares e profissionais. Em Santa Maria, por mais que diga que não sou candidato, a expectativa ou a dúvida persistem, o que perturba a definição local. Em Porto Alegre, como já fui candidato é natural que especulem. Mas, aqui, temos ótimos nomes como Sebastião Mello, os vereadores Nadia e Valter Nagelstein e o ex-prefeito José Fogaça. Vou apenas ajudar no que puder — diz Schirmer.
Com o PSL em guerra interna, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Ruy Irigaray, antecipou-se e, na quinta-feira (16), colocou o nome à disposição do partido para concorrer a prefeito, um movimento interpretado como tentativa de barrar qualquer pretensão do deputado federal Bibo Nunes.
O Novo abriu inscrições para selecionar candidato. A expectativa é atrair algum figurão de fora da política, mas poderá acabar indicando o vereador Felipe Camozzato.
A esquerda ensaia a formação de uma frente, unindo PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL, mas cada partido tem um ou mais pré-candidatos. No PT, ganhou força a proposta de abrir mão da cabeça de chapa em favor da ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB), mas há uma divisão entre os que aceitam ficar fora da chapa e os que exigem indicar o vice. Caso fracasse a ideia de uma frente, o PT cita como possíveis candidatos Miguel Rossetto, Sofia Cavedon e Maria do Rosário.
Manuela, que está sem mandato, ainda não disse se aceita concorrer, mas na quinta-feira (16) se reuniu em um café com o ex-deputado Pedro Ruas (PSOL). Em nome da união da esquerda, a deputada Luciana Genro se dispôs a ser vice de Manuela. No PDT, a pré-candidata Juliana Brizola apoia a formação de uma frente e diz estar "aberta a qualquer conversa", mas lembra que a orientação nacional é por candidatura própria. Por fim, o PSB teria Beto Albuquerque, que concorreu ao Senado em 2018 e ficou em terceiro lugar.