Imersos numa briga fratricida na qual se tornaram rotina trocas de socos, intrigas, difamação e espionagem, deputados federais, estaduais, militares e militantes disputam o controle do PSL no Estado. As desavenças envolvem sobretudo um conflito por protagonismo na política gaúcha, mas também estão na esteira da celeuma nacional que coloca em lados opostos o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão.
A crise explodiu em 8 de abril, numa reunião que começou tensa e terminou com safanões, gritaria e xingamentos. Naquela manhã, uma cerimônia para entrega de viaturas e equipamentos às forças policiais do Estado reuniu parlamentares de diversos partidos no Palácio Piratini.
Terminada a solenidade, houve a primeira altercação. O deputado federal Bibo Nunes abordou, ainda no palácio, o deputado estadual Luciano Zucco, à época presidente do PSL no Estado. Aos gritos, dizia que queria falar com Zucco e com o também deputado estadual Vilmar Lourenço (PSL) sobre dois assuntos: a suposta ação de dirigentes da sigla para estruturar no Rio Grande do Sul o PRTB, partido de Mourão, e a decisão do PSL de ingressar no governo Eduardo Leite, com a ida do deputado estadual Ruy Irigaray para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo.
Enquanto a conversa ríspida acontecia, tendo como testemunhas políticos e convidados que estavam no local, Irigaray se aproximou, o que elevou o tom do bate-boca. Bibo chegou a afastá-lo com encontrões.
Para pacificar ânimos, uma reunião foi marcada para as 14h, no gabinete de Lourenço na Assembleia. Além do anfitrião, estavam presentes Bibo, Zucco, Irigaray, o coordenador da bancada, coronel Mário Andreuzza, e o chefe de gabinete da liderança partidária, coronel Alexandre Bortoluzzi. A reunião, que teve dois momentos de troca de agressões e empurra-empurra, foi gravada em áudio. O primeiro a falar foi Zucco. Ele classificou a cena ocorrida no Piratini como "bem ruim" e "constrangedora". Em seguida, comentou sobre a relação com o PRTB.
— O fato de ter amizade com o Mourão fez com que surgisse o assunto. O Levy (Fidélix, presidente do PRTB nacional), tentando angariar alguns deputados federais para conseguir vencer a cláusula de barreira: "Lá no Sul, tem algum deputado que pudesse vir pro PRTB?". O Levy disse que, se tivéssemos interesse, o PRTB estaria à disposição. Só que o PRTB não existe. É burrice eu entrar num partido que não existe — disse Zucco, assegurando sua permanência no PSL.
Não houve divergência e a questão do PRTB não foi mais debatida. Mas a temperatura subiu quando Bibo disse não ter sido consultado sobre o ingresso do PSL no governo estadual, com a ida de Irigaray para o secretariado. Logo foi chamado de desleal por Irigaray, que, de imediato, telefona para o deputado estadual Capitão Macedo, suposta testemunha do diálogo em que Bibo teria apoiado o ingresso no governo. No viva-voz, com todos ouvindo, Macedo confirmou a versão de Irigaray. A partir daí, Lourenço pede a palavra e manifesta reprovação à conduta de Bibo no Piratini.
— Aquele comportamento fugiu às regras mínimas da civilidade. Se quisermos construir um partido de fato, primeiro vamos agir com urbanidade — pediu Lourenço.
— Me respeita. Fica quieto. Tu vai levantar? Vai levantar? Te dou uma porrada, não tem problema nenhum — reagiu Bibo, sendo contido pelos oficiais.
Quando o ambiente parecia apaziguado, começa outra gritaria e Bibo parte para o confronto com Irigaray e Cassio Ferreira, chefe de gabinete de Lourenço. Bibo é contido novamente e arrastado para fora do gabinete, sob xingamento de "trouxa, bobalhão, idiota e palhaço". Foi o fim da reunião.
Nos bastidores do PSL, a avaliação é de que a vitória nas urnas deslumbrou os principais expoentes da sigla. Antes da eleição, o partido acreditava ter condições de eleger um deputado estadual e um federal. Acabou consagrando três federais e quatro estaduais, entre eles os dois mais votados à Assembleia Legislativa, Zucco e Irigaray. O sucesso inesperado fez Bibo, de um lado, e Zucco, do outro, se considerarem responsáveis pelo êxito eleitoral.
Logo após a eleição, contudo, o antagonismo de Bibo foi com seu hoje aliado, Nereu Crispim, atual presidente do PSL no Estado. Em reunião na casa do deputado federal eleito Sanderson, eles se estranharam e só não foram às vias de fato porque foram segurados pelos correligionários. Em outras ocasiões, o pugilato envolveria Zucco e Capitão Macedo e Zucco e Bibo, como ocorrido na fatídica reunião de 8 de abril.
Desde então, os inúmeros grupos de WhatApp frequentados pelos parlamentares e assessores do PSL são diariamente inundados de material usado para tentar constranger os adversários.
Já circularam foto de Zucco abraçado ao ex-presidente Lula, tirada na época em que o oficial foi requisitado a trabalhar na Presidência da República nos governos petistas, via Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e imagens do diploma de conclusão do Ensino Médio de Irigaray num curso supletivo junto a questionamento do preparo acadêmico para ser secretário de Estado.
Vinculações antigas com partidos de esquerda, como as filiações de Lourenço ao PT e de Irigaray ao PSB, alertam para uma "alvorada vermelha" na qual o comunismo é uma ameaça constante. Há ainda dossiês apócrifos, inúmeras reproduções de diálogos com ataques entre os grupos antagônicos, acusações de espionagem e ameaças de denúncia da arapongagem ao Ministério Público.
Nos próximos dias, o grupo de Zucco pretende denunciar Bibo ao conselho de Ética da direção nacional do PSL. Movimento semelhante ocorrido na semana passada foi ignorado pela cúpula do PSL e resultou na renúncia de Zucco do comando partidário no Estado.
Após a publicação desta reportagem, em contato com GaúchaZH, Zucco negou que tenha entrado em atrito com os colegas. Ele também afirmou que, na reunião do dia 8, atuou como "um apaziguador".