Cerca de três pessoas perdem a vida diariamente no Rio Grande do Sul por causa de problemas de saúde relacionados ao consumo de álcool. A estimativa, baseada em informações do Ministério da Saúde, aponta 1.133 óbitos no estado em 2023. O levantamento considera apenas casos clínicos, deixando de fora fatalidades ligadas a acidentes de trânsito provocados por embriaguez. Nessa área, os dados mais recentes do Detran/RS são de 2022 e também apontam resultado preocupante: 44% dos motoristas mortos em acidentes apresentavam traços de álcool no sangue. Além disso, a bebida é frequentemente associada a homicídios e episódios de violência doméstica.
Esse panorama evidencia um grave problema de saúde pública nacional, com reflexos econômicos significativos. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 2019, estimou os custos diretos e indiretos em R$ 18,8 bilhões. Mesmo diante desse quadro crítico, há políticos que defendem iniciativas para facilitar o acesso a bebidas alcoólicas.
Um exemplo é o projeto do vereador Márcio Bins Ely (PDT) na Câmara de Porto Alegre, que visa permitir a comercialização de bebidas com teor alcoólico de até 14% em bares, lanchonetes, camarotes e áreas VIP dos estádios da capital. As justificativas são genéricas, sem suporte técnico. Entre elas, a ideia de que haveria um clamor popular pela medida. O vereador também cita estudos que apontam as brigas entre torcidas organizadas como a principal causa da violência no futebol, mas não revela as fontes consultadas. Alega ainda que a venda controlada poderia mitigar excessos e prevenir o consumo desordenado nos arredores dos estádios, o que também não passa de hipótese.
A iniciativa desconsidera o posicionamento da Brigada Militar, do Ministério Público e de entidades médicas, historicamente contrários à liberação por questões de segurança. Diante de tantos impactos negativos, por que insistir com a ideia? O vereador argumenta que os clubes aumentariam suas receitas, mas a que custo? Colocando em risco a integridade das próprias torcidas? É importante destacar que a proposta conflita com a lei estadual de 2008, que proíbe a comercialização e o consumo de álcool nos estádios do Rio Grande do Sul. Entendo que legisladores devem priorizar a saúde e o bem estar da coletividade. Não é o caso, pois só será favorecido um punhado de torcedores que não conseguem passar duas horas de "bico seco". Que o vereador reflita melhor e volte atrás. A sociedade agradece.