
Apesar das divergências ideológicas, a rivalidade entre esquerda e direita no Brasil frequentemente expõe semelhanças incômodas para seus integrantes. Dois episódios separados por oito anos ilustram essa contradição. Em 2019, o então deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), um dos principais expoentes da causa LGBT+ no país, renunciou ao mandato e viajou para o exterior em autoexílio.
Alegando ameaças e um ambiente hostil intensificado após a posse do desafeto Jair Bolsonaro como presidente, recebeu amplo respaldo da esquerda. Representantes do PSOL, PT, PCdoB e Rede saíram em sua defesa, promovendo atos públicos e manifestações de solidariedade.
A direita, no entanto, foi muito dura na crítica. O parlamentar foi chamado de covarde, fujão e outros termos depreciativos. Para os adversários, a iniciativa demonstrava fraqueza e falta de comprometimento com os eleitores. Agora, em atitude que ecoa o passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), expoente da extrema direita, optou por pedir uma licença de 122 dias da Câmara e fixar residência nos Estados Unidos.
A justificativa? Uma suposta perseguição do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Diante da decisão, as vozes conservadoras impiedosas nos ataques a Wyllys se apressaram em reunir argumentos para defender a atitude do filho 03 de Jair Bolsonaro. No lado oposto, também de modo contraditório, sobram críticas ao filho 03 de Jair Bolsonaro. Até os rótulos pejorativos são os mesmos usados pelos rivais: covarde e fujão.
A hipocrisia presente nesse cenário expõe um padrão recorrente na política nacional: quando o assunto envolve um adversário, o juízo é impiedoso; quando o fato ocorre dentro do próprio campo ideológico, a defesa é imediata. Os casos de Jean Wyllys e Eduardo Bolsonaro são exemplos bem acabados de uma polarização que prioriza os ataques e a avaliação destrutiva do rival.
Nessa dualidade, o exagero retórico predomina, ofuscando o verdadeiro debate democrático e a busca de alternativas para melhorar a vida do povo. Nesse contexto, sem o menor constrangimento, os políticos mudam de discurso com a mesma facilidade e rapidez com que trocam de roupa, provando que a direita e a esquerda são iguais na forma de agir. A história sempre se repete, apenas com os papéis invertidos de acordo com a conveniência do momento.