Bolsa em alta e dólar em queda foram os primeiros reflexos da decisão do centrão de apoiar a candidatura de Geraldo Alckmin. É uma reação natural do mercado, que teme um segundo turno entre dois candidatos de posições extremas. O apoio ainda não foi formalizado, mas a disposição do bloco de dar respaldo a um candidato de centro, com experiência de gestão e ideias liberais, foi suficiente para animar o mercado.
Na convenção que homologou a candidatura de João Doria ao governo de São Paulo, Alckmin exibia no rosto uma expressão de alívio, ao lado do prefeito de Salvador, ACM Neto, presidente do DEM, parceiro histórico do PSDB e que, neste ano, chegou a ensaiar uma aproximação com Ciro Gomes (PDT).
Negociado nos últimos dias, o apoio dos partidos do centrão a Alckmin é o fato de maior impacto nesta fase que antecede o início da campanha eleitoral. Durante a Copa do Mundo, Alckmin conversou individualmente com líderes de PP, DEM, PR, PRB, PTB, Avante, PPS e Solidariedade. Com esses apoios praticamente assegurados, o tucano terá o maior tempo na propaganda de rádio e TV – cerca de 40% do total, numa eleição com pelo menos nove candidatos.
Mesmo com o avanço das redes sociais, especialistas em marketing político avaliam que o rádio e a TV ainda terão papel decisivo nesta eleição, para a mensagem do candidato chegar aos milhões de eleitores excluídos do mundo digital. O PT, que ainda não fechou nenhuma aliança, terá um minuto e 31 segundos. Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas nos cenários em que o nome do ex-presidente Lula é excluído, terá cerca de sete segundos.
Por mais indigesto que seja o centrão, com algumas figuras bizarras no comando formal ou informal dos partidos, seu apoio fortalece, e muito, a candidatura de Alckmin, que ainda não decolou nas pesquisas. Além do tempo na TV, significa estrutura em todos os Estados, dinheiro e, provavelmente, um vice de luxo, o empresário mineiro Josué Gomes da Silva (PR), filho do falecido vice-presidente José Alencar. Se confirmada, será uma chapa “café com leite”, com presidente e vice nascidos nos dois maiores colégios eleitorais do Brasil.
A adesão em bloco desidrata ainda mais a candidatura de Henrique Meirelles (MDB), que não conseguiu aliados nem entre os partidos que ocupam ministérios importantes no governo de Michel Temer.
Em uma perspectiva otimista – utópica seria a palavra mais precisa –, uma candidatura com tantos partidos poderia resultar, em caso de vitória, na eleição de um presidente com apoio parlamentar suficiente para fazer as reformas impopulares de que o país necessita. Na vida real, é um condomínio difícil de administrar, com brigas por cargos e espaços de poder.