Os desafios de quem postula um cargo eletivo neste ano não serão resumidos a recursos menores para as campanhas. A necessidade de criar estratégias que integrem o uso da internet e o combate às fake news estimula a busca por profissionais multifacetados, que tenham bom trânsito entre mídias tradicionais e novas tecnologias.
— Quem estiver envolvido vai ter de resolver mídias sociais, vídeos baratos e curtos, eventos, a própria TV, o marketing na internet, o debate, a moderação dos discursos. Terá muita coisa para fazer — pontua André Miceli, professor de Marketing Digital e Político da Fundação Getúlio Vargas.
O horário eleitoral e, principalmente, as inserções durante a programação regular das emissoras de rádio e TV continuam tendo peso na escolha dos eleitores.
Pesquisa realizada pelo Ibope em janeiro deste ano mostrou que a televisão é utilizada por 70% dos brasileiros para buscar notícias sobre política. Como a propaganda eleitoral será permitida apenas em 35 dos 45 dias de campanha, especialistas defendem uso do tempo de forma criteriosa, com mensagens simples e destaque para propostas.
Paralelamente, as mídias sociais crescem no país. Enquanto em 2013 eram 78 milhões de brasileiros conectados, em 2017 o número subiu para 102 milhões. Em outro levantamento do Ibope, de maio do ano passado, as mídias sociais foram apontadas como principais fontes de influência para escolha do candidato à Presidência.
— A conversa com amigos e parentes foi substituída pelo contato virtual — analisa a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari.
Assim, cresce a importância da produção de materiais que gerem o compartilhamento espontâneo, chegando a eleitores ainda indecisos. Vice-presidente institucional da Ideia Big Data, Cila Schulman vê a possibilidade de pagar por espaço na internet como uma das grandes novidades. Ainda assim, aposta que o principal destaque ficará com um aplicativo presente em quase todos os celulares:
— A grande ferramenta vai ser o WhatsApp. É muito usada no Brasil e a mensagem vai direto ao eleitor. Usá-la com inteligência e maestria vai ser um grande diferencial. Será preciso ser muito estratégico para segmentar o conteúdo e não perturbar o eleitor.
O crescimento das interações virtuais deverá também levar ao aumento das fake news, os antigos boatos. Na internet, a velocidade de propagação é maior e a projeção é de que uma notícia falsa se espalhe cinco vezes mais rápido do que uma informação verdadeira. Mais um obstáculo a ser vencido vai além de atrair os indecisos. Os recentes escândalos na política poderão afastar eleitores das urnas ou levá-los a votar em branco ou anular o voto.
— O eleitor está mais exigente, não quer bravata. Será preciso mostrar problemas reais e como tirar as ideias do papel, por mais que a solução seja dolorida — comenta o jornalista Marcos Martinelli, especialista em campanhas.
Inovações para 2018:
- Entre as principais diferenças em relação a 2014 está o período de campanha, que encolheu de 90 para 45 dias. A propaganda eleitoral em rádio e TV terá 35 dias, de 31 de agosto a 4 outubro.
- Pela primeira vez, uma campanha presidencial não terá doações de empresas. Os partidos terão R$ 2,58 bilhões dos fundos eleitoral e partidário —dinheiro que sairá dos cofres públicos — e doações de pessoas físicas. Será permitido o autofinanciamento.
- Também de forma inédita, será permitido impulsionamento de conteúdo — o pagamento para que postagens nas redes sociais alcancem público maior. Até então, candidatos poderiam apenas comprar espaço em jornais.
- Siglas deverão apostar em nomes já conhecidos dos eleitores na disputa legislativa, como celebridades e políticos experientes. Quanto maior for a bancada eleita no Congresso, maior a fatia que a legenda receberá de fundo público nas próximas eleições.
- A impressão do voto para que o eleitor confira se foi o mesmo registrado na urna eletrônica, depositando após em uma urna física, não será aplicada neste pleito. Apesar de previsto em lei, o Supremo Tribunal Federal derrubou a obrigatoriedade alegando que coloca em risco o sigilo do voto.