O esporte profissional, nas últimas semanas, tem exposto na Olimpíada um recorte das nossas relações de produção: fazer mais rápido, derrotar a concorrência, superar metas, aumentar a performance e melhorar resultados. Quem nunca deparou com essas cobranças no ambiente profissional? E nada disso é necessariamente um problema, vale frisar. São objetivos que podem, sim, ser perseguidos com empenho.
Mas junte essas demandas a uma sobrecarga exaustiva, acompanhada de chavões autoritários como "não desista jamais", "supere os seus limites" e "a vida é feita de sacrifícios", e estaremos diante de um estímulo ao colapso emocional. Ora, desistir não só deve ser uma opção como, muitas vezes, é a saída mais corajosa que alguém pode escolher.
Os exemplos mais recentes vêm da própria Olimpíada. Aos 25 anos, a ginasta Rebeca Andrade, maior medalhista brasileira, anunciou que vai abandonar o individual geral — que lhe rendeu a prata em Paris — e ainda disse que estuda desistir do solo, aparelho no qual faturou o ouro. Motivo: além do desgaste nos joelhos e tendões, Rebeca é frequentemente acometida, nas palavras dela, por "dores de cabeça que eu não preciso mais sentir".
De fato, não precisa mais. Em certas etapas da vida, como na ascensão profissional, enfrentar uma rotina extenuante talvez seja inevitável, mas, em dado momento, demarcar os próprios limites torna-se, além de um ato de respeito consigo próprio, a única forma eficiente de buscar mais sucesso. Porque é assim, dando um passo atrás, que se reavalia prioridades, se descobre o que vale a pena e, claro, se constrói um futuro mais agradável.
Após desistir dos Jogos de Tóquio, destruída emocionalmente, a multicampeã Simone Biles retornou agora, em Paris, não apenas conquistando quatro novas medalhas (três de ouro), mas encantando o planeta com lições de gentileza, espírito olímpico e generosidade. Quer dizer: Simone, depois de recuar, ficou ainda maior. Seu sucesso hoje extrapola o âmbito esportivo: ela mostrou que ser vulnerável, às vezes, não é demérito, pelo contrário. Dependendo da situação, desistir vale ouro.