Se tem uma coisa que me irrita a ponto de querer escrever um manifesto, empunhar um megafone e liderar uma revolução em Porto Alegre, essa coisa são os chafarizes. Quer dizer: eu adoro chafarizes, o que me aborrece é a decadência a que eles foram relegados. Em que momento virou normal tanta fonte desativada? Quando passamos a aceitar essa humilhação?
E, por favor, antes de contestar a relevância do assunto, ou acusar de supérfluas as minhas angústias, permita-me dizer que nada, absolutamente nada, em uma cidade pode ser mais importante do que o espaço público. E são equipamentos como chafarizes, monumentos, mirantes, coretos, canteiros, espelhos d'água, recantos e pergolados que tornam o espaço público mais atrativo. É esse tipo de detalhe que faz uma cidade interessante.
— Ah, mas, para o povo, isso não importa nada!
Claro que importa, especialmente para os mais pobres. Quem tem dinheiro pega um avião e, daqui a algumas horas, estará debruçado sobre o mármore imaculado da Fontana di Trevi, em Roma, ou enfeitiçado pelo balé cintilante da Fonte Mágica de Montjuïc, em Barcelona. Quem é pobre, não. Para o pobre, restam os encantos (ou desencantos) de passear pela própria cidade.
Sinto vergonha quando vou à Redenção, o parque mais importante do Estado, e vejo aquela robusta fonte do eixo central eternamente desligada. Pertinho dela, a pouco mais de cem metros, repousa o belíssimo Chafariz Imperial, importado da França no século 19, e o coitado nunca jorra uma gota. Além de atrair visitantes e orgulhar moradores, esses ornamentos deveriam contar a nossa história.
A Fonte Talavera de la Reina, por exemplo, em frente ao Paço Municipal, foi um presente da colônia espanhola, em 1935, para celebrar o centenário da Revolução Farroupilha. Ela é linda, até passou por uma reforma recente, mas, sem cumprir sua função mais básica, que é esguichar água e encantar nossos olhos, ninguém dá a mínima para ela.
Também tem chafariz inativo na Praça da Alfândega, na Praça Japão, em frente ao Mercado Público, no Largo dos Açorianos, na Praça Júlio de Castilhos, na praça em frente ao Colégio Rosário. Cada fonte silenciosa é a perda de um espaço público que deveria inspirar, acolher, fazer a gente querer voltar. Porque uma cidade que não liga seus chafarizes também vai desligando sua alma.
Prefeitura responde à coluna
Após a publicação do texto acima, a prefeitura da Capital enviou a seguinte nota:
"Sobre as fontes e chafarizes de Porto Alegre, citados na coluna desta sexta-feira, 6 de dezembro, a Prefeitura de Porto Alegre esclarece que a enchente de maio deste ano atingiu o Centro Histórico da cidade causando danos a prédios e monumentos na região.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informa que um dos locais foi o chafariz localizado no Largo Glênio Peres em frente ao Mercado Pùblico onde parte da automação e controle da estrutura foram danificados e terão que ser refeitas. O Dmae trabalha para levantar as necessidades e orçar a obra, com o objetivo de restabelecer o funcionamento do equipamento. Não há prazo para conclusão do serviço.
Sobre a Fonte Talavera, em frente ao Paço Municipal, a Secretaria de Planejamento e Assuntos Estratégicos (SMPAE) informa a fonte Talavera voltou a funcionar nesta sexta-feira, 6. Já sobre a fonte Samaritana, localizada na Praça da Alfândega, a SMPAE diz que o local está em processo de revitalização. No momento, um escultor trabalha na restauração da estátua e que já foram executados os serviços de impermeabilização e recuperação da parte elétrica.
A Fonte General Osório, também na Praça Alfândega, recebeu os serviços de impermeabilização e recuperação da parte elétrica e hidráulica. Os trabalhos estão paralisados, aguardando a liberação dos órgãos competentes para a instalação dos quadros de comando das bombas. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentablidade, esclarece que as bombas do Chafariz dos Açorianos estão funcionando e que é realizada a limpeza de rotina do limo.
No Parque Farroupilha (Redenção), segundo a Secretaria de Serviços Urbanos (SMSUrb), o projeto de revitalização do chafariz central está em fase final de orçamento, pois o sistema de comando foi furtado. A previsão é que os serviços iniciem no próximo ano. Já no Chafariz Imperial, foi realizada uma obra de drenagem juntamente com o Dmae, mas os motores foram furtados e ainda não há previsão para serem recolocados.
A Secretaria Municipal de Parcerias (SMP) orienta que, em espaços adotados, se houver necessidade de manutenção ou vistoria dessas estruturas, os adotantes acionem a prefeitura para que as demandas sejam tratadas com os órgãos responsáveis".