Suponhamos que a Proposta de Emenda à Constituição da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que pretende acabar com o regime de seis dias de trabalho por semana, não seja aprovada no Congresso. Essa, por enquanto, é uma hipótese provável. Representantes de praticamente todos os setores têm se manifestado contra o projeto — e os argumentos, em geral bem plausíveis, vão muito além da velha fábula do empresário malvado.
A questão é que, mesmo que a PEC seja enterrada, não pode a discussão morrer com ela. A pressão social por uma vida mais equilibrada tende a aumentar. Se as empresas e o governo não quiserem ver esse clamor explodir em demandas ainda mais radicais, é melhor que invistam logo em mudanças que considerem factíveis — e, principalmente, que respondam ao mundo de hoje.
Porque, na década de 1940, quando o regime 6x1 foi instituído, o ritmo de trabalho era outro, o nível de estresse era comprovadamente menor e, longe do serviço, o tempo do trabalhador era mais protegido: sair da fábrica ou do escritório significava, na prática, desconectar-se completamente das obrigações.
Hoje, como definiu o filósofo Byung-Chul Han, viramos a sociedade do cansaço — um modelo de vida em que o descanso verdadeiro é quase inalcançável e a exaustão se renova em um ciclo intermitente de pressão por resultados. É compreensível que as pessoas estejam esgotadas. E é saudável que queiram mudar isso. Como, então, atender a esse pedido de socorro sem ignorar os interesses — legítimos, sim — dos empregadores?
Há empresas, por exemplo, que alternam a escala 6x1 em uma semana e 5x2 na outra. Outras implementam horários mais flexíveis, permitindo que os funcionários escolham a hora de entrada e saída dentro de uma janela específica — como entre oito e 10 da manhã. Algumas aplicam um modelo de semana condensada, em que os trabalhadores cumprem toda a carga horária em cinco dias, em vez de seis.
Talvez seja pouco? Sim, talvez, e por isso países como Espanha e Japão oferecem incentivos fiscais a empresas que adotam jornadas de trabalho reduzidas. Essa é uma política pública que, como toda política pública, certamente tem um custo, mas está alinhada às demandas do nosso tempo. Repensar o jeito de trabalhar não se trata mais de concessão: é o que o futuro exige.